"Eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo” (Mt 28, 20), prometeu Nosso Senhor Jesus Cristo aos Apóstolos.

Mas, como isso se daria, se pouco depois houve a Ascensão?

Era inútil aos Apóstolos procurar excogitar uma solução para tão árduo problema.

Nem sequer dos Anjos se poderia obter alguma resposta, pois somente a Deus podia ocorrer essa sublime manifestação de amor incondicional aos homens, que é a Eucaristia, por meio da qual Ele não apenas permanece conosco, mas Se torna alimento para nós!

Para a aceitação desse sublime mistério, compreende-se a conveniência e mesmo a necessidade de uma longa preparação da humanidade.

Ela começa no Gênesis, quando Melquisedec abençoa Abraão e lhe oferece pão e vinho.

O Livro do Êxodo nos descreve com minúcias a ceia pascal, para a qual cada família do povo hebreu deveria imolar um cordeiro sem defeito, cujo sangue seria sinal para poupá-los da cólera do Anjo exterminador. E traz-nos também uma das mais eloquentes prefigurações da Eucaristia: o maná que caía do Céu e continha todos os sabores.

Já no Novo Testamento, a transmutação da água em vinho, em Caná, a multiplicação dos pães e a o caminhar de Cristo sobre as águas surgem como insignes manifestações do domínio de Jesus sobre seu Corpo e sobre as matérias vinho e pão.

Foi, assim, após o desdobrar de uma divina didática ao longo de séculos, que Jesus proclama-Se Pão da vida, anunciando que não terá a vida eterna quem não comer da sua Carne nem beber do seu Sangue.

Rodeado apenas de um punhado de discípulos, o Verbo Encarnado instaura no Cenáculo o sacrifício da Nova Aliança, cedendo as antigas figuras lugar à realidade do Cordeiro de Deus que Se imolou para nossa salvação.

Não nos deve estranhar que aos Apóstolos tenha sido tão difícil compreender o maior de todos os Sacramentos. Pois, transcorridos dois milênios de crescente devoção eucarística, de rico aprofundamento doutrinário e numerosas definições do Magistério, corroboradas por inúmeros milagres, o Papa Bento XVI julgou conveniente alertar os fiéis na homilia da festa de Corpus Christi deste ano contra certos desvios, hoje frequentes, no que diz respeito à presença real na Eucaristia.

Com suas palavras, o Santo Padre estimula de modo especial a adoração e a devoção eucarística fora da Missa e afirma que “uma interpretação unilateral do Concílio Vaticano II tinha penalizado esta dimensão, limitando praticamente a Eucaristia ao momento celebrativo”. E mostra como este Sacramento deve pervadir toda a vida do fiel: “a Igreja vive da Eucaristia”, da contemplação do “rosto eucarístico” de Jesus, nos ensinava o Beato João Paulo II.

Na mesma homilia ressalta também o Vigário de Cristo o quanto o culto eucarístico deve se cercar de sacralidade. Pois “o sagrado tem uma função educativa, e o seu desaparecimento empobrece inevitavelmente a cultura, em particular a formação das novas gerações”.

Em suma, ensina o Santo Padre, uma verdadeira devoção eucarística não se detém na observância ritual, mas exige a purificação do coração e o compromisso de vida em função de Cristo.

Em outros termos, prescreve-nos a santidade, substancialmente presente no Pão da vida.