O distante século V foi palco de importantes e graves acontecimentos para a Igreja Católica.

Em meio ao vozerio e aos saques dos bárbaros invasores, que arrasavam o outrora altaneiro e sempre vencedor Império Romano, reuniu-se em Éfeso, sob a égide do Papa São Celestino e com a atuação vigorosa do Santo Patriarca Cirilo de Alexandria, um concílio que proclamaria para sempre o sublime dogma da maternidade divina de Maria.

Mais de quinze séculos se passaram.

Cada uma dessas centúrias poderia ser analisada sob o ângulo da intervenção materna de Maria nos acontecimentos da História.

Nesse suceder de eras, pela ação invisível do Divino Espírito Santo, palpita nas almas eleitas um crescente anelo de que se efetue real e soberanamente sobre “os degredados filhos de Eva” o reinado d’Aquela que impera mais pela misericórdia e pela bondade do que por qualquer outro predicado.

Assim, por exemplo, no século XVII, o santo missionário Luís Maria Grignion, de quem o futuro Beato João Paulo II foi grande devoto, clamava na previsão de uma época na qual Maria fosse mais conhecida, mais amada e melhor servida:

Quem encontrar Maria encontrará a vida (cf. Pr 8, 35), isto é, Jesus Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14, 6). […] É preciso, portanto, que Maria seja, mais do que nunca, conhecida, para maior conhecimento e maior glória da Santíssima Trindade.

Mas, continuava: “Quando e como acontecerá?… Só Deus o sabe!… Quanto a nós, cumpre calar-nos, orar, suspirar e esperar: ‘Exspectans exspectavi’” (Sl 39, 2).

Poucas décadas antes, outro francês, São João Eudes, assim se exprimia:

Pois quem adere a Deus é um só espírito com Ele (Qui enim adhæret Deo, unus spiritus est cum eo). De modo semelhante, a Mãe do Salvador, estando toda enlevada e como que extasiada e arrebatada em Deus, ao pronunciar as palavras “exultavit spiritus meus”, etc., vê em espírito uma multidão quase incontável ­daqueles que terão por Ela uma especial devoção e afeição, e serão do número dos predestinados dos quais Ela recebe uma inconcebível alegria.

Hoje mais do que nunca, a humanidade, cambaleante diante de tantos conflitos, crises e catástrofes, precisa e clama pela suave proteção de Maria, a qual, sendo Mãe de Deus, é Mãe da Igreja, Corpo Místico de Jesus Cristo, Deus feito Homem.

É-nos impossível prever o rumo que tomarão os acontecimentos deste nosso século. Temos, entretanto, a convicção de estarmos no século da esperança, pois a ele está reservado o privilégio de presenciar uma espetacular e radiosa aurora marial.

Certos de que tal esperança não será defraudada, repetem nossos corações a promessa proferida por Nossa Senhora em Fátima, em 1917: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.