O melhor da existência do homem no Paraíso terrestre se encontrava no seu convívio com Deus. Todas as tardes, “à hora da brisa, depois do meio-dia”, Deus descia ao Paraíso para passear com Adão (Gn 3, 8).

Em seu dom de integridade e de dentro de sua inocência, era-lhe facílimo correlacionar qualquer criatura com Deus, tornando o dia a dia pervadido de contemplação, consolo e crescente caridade.

Devido à sua imortalidade e ao seu progresso espiritual na observância dos preceitos divinos, chegando sua perfeição ao grau máximo, o homem seria conduzido ao repouso eterno da visão beatífica, em corpo e alma.

O pecado destruiu esse belíssimo processo, e a atração para considerar o mundo visível inteiramente desligado de seu Criador adquiriu a acelerada voracidade das paixões humanas desenfreadas.

A sensualidade se apoderou dos homens e “todos os pensamentos de seu coração estavam continuamente voltados para o mal” (Gn 6, 5).

Deus, ao constatar aquela terrível corrupção, “ferido de íntima dor” (Gn 6, 6), enviou à terra o dilúvio, após o qual estabeleceu uma aliança com Noé, abençoando-o.

Entretanto, seus descendentes, esquecendo-se das reações divinas de outrora, puseram-se a escalar o céu com a construção da Torre de Babel, movidos por supremo orgulho: “Tornemos assim célebre o nosso nome” (Gn 11, 4). Por essa razão Deus confundiu-lhes a linguagem, um dos mais excelentes frutos da inteligência.

A sensualidade foi a causa do dilúvio; e o orgulho, da dispersão dos povos.

Até mesmo no Novo Testamento encontramos a presença desse divino desagrado.

É o próprio São Paulo quem no-lo descreve em sua epístola aos romanos, afirmando que desde a criação do mundo tornou-se possível chegar ao conhecimento de Deus para glorificá-Lo e agradecer-Lhe, e se assim não procede o homem, seu coração se obscurece e acaba por cair na estultice.

Por isso, segundo o Apóstolo, foram os romanos abandonados

aos desejos de seus corações, à imundície […] entregou-os às paixões de ignomínia […] e como não procuraram conhecer a Deus, Deus os abandonou a um sentimento depravado (Rom 1,24-28).

Este primeiro capítulo da epístola traz um verdadeiro encadeamento de horrores praticados por um povo que não quis aplicar sua inteligência para elevar-se até o Criador através dos seres visíveis.

Ao mandar pelo mundo os doze apóstolos, Jesus quis não só reconstituir a unidade perdida em Babel com a confusão das línguas, dos ideais e dos amores, mas até mesmo erigir a verdadeira torre que atinge o Céu, a Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana.

Quando os povos ouvirem a voz dos apóstolos, o unum da História do mundo se recomporá!

Diante de toda essa perspectiva, não terá sido o último tsunami um novo apelo descido dos Céus, neste começo de milênio, para voltarmos nossos olhos Àquele que sempre desejou nos salvar? Se assim for, virão ainda outros?

Em qualquer caso, o certo é que essa catástrofe moveu as almas em toda a face da terra a, consternadas pelos nossos irmãos que partiram desta vida, considerarem perplexas as possíveis causas da mesma.

Qual a razão mais profunda desse terrível acontecimento?

Nada deve ser motivo de perturbação, pois nós hoje podemos contar com o poderoso auxílio e proteção de Maria, muito diferentemente do que se passava com os povos de outrora.

Por isso mesmo, entrando nas considerações litúrgicas sugeridas pela Quaresma, voltemos nossa atenção para a Virgem de Fátima e ouçamos seu maternal apelo, a fim de reconhecermos as nossas faltas, e pedirmos seu misericordioso perdão. Se assim procedermos, tornar-se-á efetiva sua promessa: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!” E daí nascerá uma nova era.