Deus, que tudo criou, nada pôde fazer que não fosse para sua própria glória.

Ora, a Divina Sabedoria não é niveladora, mas hierárquica. Assim sendo, Deus planejou o universo prestando atenção nos aspectos principais e mais importantes, e deixou o resto para considerações de segunda, terceira e quarta importância, até chegar aos últimos detalhes.

A criação foi, pois, concebida de forma piramidal, não em função do tempo, mas da importância de cada ser, isto é, de sua proximidade com Deus.

Dentre os seres criados, o mais alto é evidentemente a humanidade santíssima de Nosso Senhor. Verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, Jesus é pela sua natureza humana a fina ponta do universo criado, posto em relação com a divindade dentro de Si mesmo, através de sua própria Pessoa incriada.

Assim, Cristo é a sublime ponte que une a criação ao Criador.

Ademais, pela sua natureza divina, Cristo é também causa primeira e final de todas as coisas. Por isso, tudo no universo tem relação com Ele, tudo foi feito em função d’Ele, e nada cumpre seu fim se não existir para Ele, motivo pelo qual São João O define como “o Alfa e o Ômega” (Ap 1, 8).

Esta é a bela verdade que a Igreja recolheu ao venerar Jesus como Rei e centro de todos os corações, pois, se Nosso Senhor é o centro de todos os seres criados, com muito maior razão deve sê-lo dos corações formados para amá-Lo: é Ele o verdadeiro tabernáculo onde todos devem adorar a Deus “em espírito e verdade” (Jo 4, 23).

Contudo, assim como não existe teto sem colunas para sustentá-lo, nem cidade sem estrada para até lá chegar, é ainda preciso encontrar o meio de se alcançar Jesus. Ora, Ele não seria verdadeiro Homem se não fosse por Maria, porquanto Ela foi concebida, na mente de Deus, junto com Cristo, num mesmo e único ato planejador.

Isto não Os torna apenas indissociáveis, mas também estabelece uma relação incontornável pela qual Ela é caminho necessário para se chegar a Ele.

Esta verdade foi muitas vezes incompreendida, como se a mediação de Maria existisse em detrimento da mediação necessária de Cristo: muitos autores dão voltas torcicolosas para “falar de Maria sem ferir a Jesus”, como se elogiar a Mãe insultasse o Filho…

Muito pelo contrário, a figura de Nossa Senhora como Medianeira é uma das mais belas glórias de Deus: constituída como Santuário onde se encontra o Tabernáculo, Maria é o meio seguro, desejado e estabelecido por Deus, para se chegar até seu Coração.

Quem A despreza, a Deus despreza, e só quem por Ela entra, chega até Ele, pois foi Ele mesmo quem A constituiu para nós como ponte de ouro, que atravessa por cima de nossas misérias, e porta do Céu, aberta até para os pecadores, desde que saibam passar por Ela.