Desejar “ser como Deus” (cf. Gn 3, 5)! Foi este o ato de soberba que feriu logo de início a harmonia da obra da criação.
Os anjos rebeldes e nossos primeiros pais “desejaram de modo desordenado a semelhança com Deus”, explica São Tomás. “Ambos [o demônio e o homem] confiaram em suas próprias forças, desprezando a ordem da lei divina” (Suma Teológica, II–II, 163, 2).
Mas não desejaria a infinita Bondade permitir que todo o gênero humano se perdesse eternamente “pela desobediência de um só” (Rm 5, 19).
Por isso, o Ofendido, o Pai onipotente, santo e eterno, “enviou seu Filho como vítima de expiação” (I Jo 4, 10) para salvar os homens atingidos pela lepra e maldição do pecado.
E – ó mistério de amor! – o Verbo eterno Se fez carne e humilhou-Se até a morte, para tornar “participantes da natureza divina” (II Pd 1, 4) os que por orgulho haviam querido “ser como Deus”. “O Filho de Deus Se fez homem para nos fazer deus!”, exclama Santo Atanásio.
“Ser como deus” após a Redenção, pelos méritos infinitos do sacrifício do Calvário, passou a ser o convite sobrenatural para todo homem.
“Ser como Deus” pela graça santificante, recebida por meio dos Sacramentos, nos confere uma participação física e formal da própria natureza divina, e assim nos torna capazes de praticar estavelmente os ensinamentos do Divino Mestre. Entre estes se encontra o conselho de ser prudente.
Para muitos esta virtude será sinônimo de timidez e falta de ousadia e, por consequência, quem a praticar só poderá colher fracassos na vida.
Em contrapartida, com razão já diziam os antigos romanos: audaces, fortuna iuvat. A fortuna só ajuda aos audazes… Por outro lado, alguns confundirão esta virtude com a dissimulação e falsidade ou, quiçá, considerá-la-ão como um título útil para encobrir o medo ou a covardia.
Como então, bem interpretar o conselho de Jesus: “Sede prudentes como as serpentes” (Mt 10, 16)? No que consiste a verdadeira prudência?
Já na antiga Grécia, Aristóteles definira com exatidão a prudência, como sendo recta ratio agibilium, a reta razão no agir. E a Igreja afirma ser ela a virtude que nos torna capazes de discernir qual é nosso verdadeiro bem e nos faz escolher os meios adequados para realizá-lo.
De onde se conclui ser a prudência a mais necessária de todas as virtudes morais, pelo fato de nos orientar em todos os instantes sobre aquilo que convém fazer ou omitir para alcançar a vida eterna.
Por isso, e, com razão, é chamada auriga virtutum, condutora das virtudes, pois é ela que governa e dirige todas as outras, indicando-lhes a regra e a medida em cada caso particular.
Graças a esta importantíssima virtude poderemos sempre discernir a verdade do erro e, assim, o bem abraçar e o mal evitar.