Ouvindo os lamentos do povo que tirara da escravidão do Egito, o Senhor operou prodígios para confortá-lo fisicamente, como o de enviar-lhe uma nuvem de codornizes, com cuja tenra carne pudesse se fartar. Mais ainda, alimentou-o dia após dia, durante quarenta anos, com uma delicada iguaria, o maná, que “tinha o sabor de uma torta de mel” (Ex 16, 31).
E assim o sustentou sem cessar na caminhada para a terra prometida, embora velasse mais por seu progresso espiritual que por suas necessidades materiais.
Milagres portentosos do mesmo estilo também foram realizados por Nosso Senhor Jesus Cristo. “Tenho compaixão deste povo. Já há três dias perseveram comigo e não têm o que comer” (Mc 8, 2), disse certa ocasião; e pela segunda vez multiplicou os pães, de modo a saciar com abundância aqueles que O seguiam.
Mais importante, todavia, era o pão da verdade que Ele lhes oferecia.
Esse desvelo divino por seu povo repetir-se-á ao longo da História.
Baste-nos recordar os milagres obtidos da Providência Divina pela confiança de um São João Bosco, que nunca deixou faltar o pão para seus numerosos “biriquinos”.
Um dia, por exemplo, em 1860 – conta seu biógrafo, Auffray –, nada havia para o café da manhã na superlotada casa salesiana de Turim. Dom Bosco mandou reunir todos os restos de pão que se conseguisse encontrar. Trouxeram-lhe um cesto contendo 15 ou 20 pequenos bocados. Ele mesmo distribuiu o alimento, e para surpresa de todos, cada um recebeu um pão normal.
Entretanto, as intervenções milagrosas da parte de Deus não constituem a regra. Como ensina São Tomás na Suma Teológica, Deus age através de causas segundas.
Nessa linha, Ele deseja a colaboração do homem para a realização de seus desígnios, de maneira que sejam “cooperadores de Deus e do seu Reino” (Catecismo da Igreja Católica, n.307). Por isso mesmo, Jesus nos ensinou a importância fundamental do amor ao próximo (Mc 12, 31), que forma um todo indissolúvel com a obrigação do amor de Deus.
Trata-se de um “nexo indivisível entre o amor a Deus e o amor ao próximo” (Deus caritas est, n.16).
A Igreja, Corpo Místico de Cristo, mas também sociedade humana, sempre toma a dianteira quando se trata de exercer esse amor abnegado e desinteressado pelo próximo, manifestando a solicitude de Deus por seu povo, como ficou demonstrado por sua ação no Haiti, logo em seguida ao recente terremoto.
A Caritas Internacional se destacou nessa tão meritória ação, realizando um esforço insubstituível.
No entanto, como afirma o presidente de sua seção haitiana, Dom Pierre-André Dumas, tão ou mais importante que o auxílio material tem sido o espiritual.
Associando-se ao clero, às organizações católicas e a incontáveis voluntários acorridos de todo o mundo para auxiliar as vítimas da catástrofe naquela ilha, também os Arautos do Evangelho se mobilizaram, enviando uma equipe originária do Canadá e da República Dominicana, cujo objetivo era levar uma palavra de consolo e encorajamento, de compaixão e incentivo, ajudando a fortificá-las na fé.