É difícil encontrar quem não tenha admiração pelo Evangelho.

Mesmo entre os não cristãos, poucos são os que não apreciam a beleza do estilo poético do texto e das expressivas imagens das parábolas, bem como a intensidade dos episódios que elas nos apresentam em toda a sua autenticidade.

Falta nesse quadro, entretanto, para muitas pessoas (e quiçá sejamos uma destas), um elemento de fundamental importância – na verdade, o principal: cada um de nós ver na doutrina tão belamente exposta o seu papel específico; ou seja, participar de modo ativo no episódio evangélico; acompanhá-la não só com a razão, mas também, e sobretudo, com o coração.

Não se trata, portanto, de ouvir ou ler como se o texto não tivesse uma relação direta e imediata conosco.

Por mais que o mundo tenha mudado e estejamos distantes daqueles dias – cerca de dois mil anos –, os problemas relativos à fé e à moral continuam os mesmos, pois dependem principalmente do próprio ser humano.

Assim, a parábola dos talentos, objeto do Comentário ao Evangelho nesta edição (no PDF, pp. 12-19), continua tão atual na era do celular e das viagens aéreas internacionais como o foram no tempo do pergaminho e das viagens em dorso de camelo.

Talentos, todos nós os recebemos. São dons sobrenaturais ou naturais que Deus, em sua bondade e sabedoria, decidiu conceder a cada um de nós, em número e intensidade maior ou menor, como narra a própria parábola.

Mais importantes entre todos são os dons sobrenaturais, com os quais são presenteadas as pessoas batizadas.

Quantas graças, desde a nossa infância, nos convidando a sermos piedosos, a darmos o bom exemplo, a edificarmos os outros!

Como cintilaram ante nossos olhos as luzes inefáveis do Natal, os esplendores da liturgia ou a beleza sobrenatural do dia de nossa primeira comunhão!

Quantas vezes a alegria do pôr do sol ou a majestade do movimento do mar não banhou nossa alma de suavidades!

E os dons naturais, nos mais variados campos, completam a dádiva feita por Deus a cada ser humano.

Ninguém deixou de receber seu quinhão de talentos. Desse modo, a parábola comentada nesta edição constitui para nós um caso pessoal.

Tais dons devem ser vistos, porém, no contexto do amor a Deus e ao próximo. Não nos são dados para desfrutarmos deles fechados em nós mesmos. Pelo contrário, devem render frutos de virtude, de amor e dedicação à Igreja Católica e de abnegação pelo próximo.

Leiamos, portanto, como discípulos de Jesus, essa passagem do Evangelho abrindo de par em par as portas de nossa alma para aquilo que nosso Salvador queira nos ensinar.