Nunca cometeu um pecado mortal desde o seu batismo
Santo Afonso Maria de Ligório, celebrado no início do mês de agosto, convoca-nos para a dedicação de que ele mesmo foi exemplo. Sem esmorecer pela aparente derrocada que seus dias o levaram, não se deixou abater e pôs sua confiança no Senhor, que fez maravilhas.
Incompreensão de seus filhos
Em 1775, estando por completar 80 anos, o Papa aliviou-o do governo da diocese. Dirigiu-se, então, para o convento de Pagani, na Diocese de Nocera, onde passou a levar uma vida de recolhimento na comunidade por ele fundada ali.
Não obstante, a fama de santidade do sacerdote ancião se havia espalhado de tal forma que sua cela se transformou em uma espécie de santuário ao qual acorriam sacerdotes, religiosos, bispos e até mesmo magistrados, ministros e conselheiros reais.
É no cadinho, porém, que Deus purifica seus escolhidos. As tentações sofridas nesse convento foram as mais duras de sua longa existência. Como em um verdadeiro purgatório interior, estas iam desde o assédio do demônio inculcando-lhe escrúpulos, até as mais árduas dúvidas contra a fé.
Contudo, a mais terrível prova, sem dúvida, foi a perseguição contra ele movida por alguns membros da instituição que fundara, culminando com a divisão da própria Congregação Redentorista e sua exclusão temporária da mesma, determinada por Roma.
A tudo isso ele reagiu com inteira flexibilidade à vontade de Deus, dizendo: "Vontade do Papa, vontade de Deus". E a seus filhos espirituais os animava com palavras cheias de confiança: "Tenho por certo que Jesus Cristo vê com bons olhos esta pequena congregação [...]; porque em meio de tantas perseguições Ele não cessa de nos proteger".
A devoção a Nossa Senhora deu forças a Santo Afonso de Ligório
Foi uma confiança ilimitada na Mãe do Perpétuo Socorro, à qual tanto amara e servira durante toda sua longa existência, a fonte de sua fortaleza até seus últimos dias. Quando já não enxergava mais, irmão Romito, seu fiel acompanhante, leu para ele algumas páginas das Glórias de Maria, sem que o santo reconhecesse suas próprias palavras.
E ao saber que livro era aquele, exclamou comovido: "Como é doce, na hora da morte, pensar que se pôde contribuir para implantar nos corações a devoção a Santa Virgem!" Em outra ocasião, ao não se recordar se já havia recitado o Rosário naquele dia, disse ainda ao Irmão Romito, que procurava dissuadi-lo de recitá-lo: "Ignorais, pois, que desta devoção depende minha salvação?"
Sempre convencido da necessidade de instrução religiosa para a gente simples, na oração e na meditação encontrava ele todo o fundamento da vida espiritual do cristão, e ensinava que "saber viver é saber rezar", pois "quem reza se salva, quem não reza se condena".
Um autor zeloso como pregador incansável
Tendo adoecido, o padre Afonso já não podia mais se dedicar às missões, e por isso consagrou seu tempo a escrever.
"A pluma foi sua segunda arma, mais poderosa e permanente que a palavra". Contando com 25 anos de experiência direta com os problemas de consciência do povo, escreveu sua famosa Teologia Moral, além de A Prática do confessor, o Homo Apostolicus e a Selva de Matérias Predicáveis, dedicadas à formação de seus sacerdotes.
Foi, aliás, da convicção em formar as bases do povo que lhe brotaram as populares Visitas ao Santíssimo Sacramento e as Glórias de Maria, seguindo-se a estas a Preparação para a morte, a Oração, a Prática do amor a Jesus Cristo e uma infinidade de opúsculos que iam servindo de esteio para as missões.
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Por detrás das nuvens, sempre brilha o sol
Modelo de virtude em todas as circunstâncias da vida, segue Santo Afonso Maria sendo um farol de constância, coragem e ânimo perseverante, sobretudo para os que sentem abater sobre si grandes tribulações.
Imitemos, pois, este santo na sua perseverança, na sua confiança humilde e profunda, compreendendo que em nossa vida espiritual haveremos de nos deparar com túneis escuros, sem termos de nos atemorizar com eles. Para além dessa escuridão, a Providência nos traça uma via ainda mais luminosa e mais bela que a anterior.
Trechos escolhidos da Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2012, n. 128, p. 32 à 35