São José - Casa de Formação Thabor, Caieiras (SP) |
Quando Deus formou Adão do barro, não quis que ele permanecesse só, mas deu-lhe a companhia de Eva; assim, à sua “imagem e semelhança […], criou o homem e a mulher” (Gn 1, 26-27). Do mesmo modo, ao conceber o plano da Redenção do gênero humano e dotar seu Filho da melhor das mães, não Lhe pareceu adequado que Ela ficasse sozinha; por isso deliberou pôr a seu serviço um varão forte e casto, que A custodiasse e reverenciasse.
Entretanto, quem estaria proporcionado Àquela que com maior perfeição refletia a grandeza de Deus? Qual criatura teria suficiente majestade para ser esposo da Rainha do Céu e da terra? Como encontrar alguém em certa paridade com a dama a quem Deus chamaria de Mãe?
Isento do pecado original
Deus criou São José considerando sua sublime missão. Se Nossa Senhora foi imaculada devido à sua estreita ligação com o mistério da Encarnação do Verbo, por que ele não gozaria de privilégio semelhante? Se em previsão dos méritos da Paixão do Filho, a Mãe de Deus foi preservada da mancha do pecado, não se poderia dizer que, em vista também da pureza ilibada de Maria, José foi isento do pecado original e de suas consequências, assim como pleno de graça na proporção de sua excelsa vocação?
Desponsório de Maria e José, por Fra Angélico Museu de São Marcos, Florença (Itália) |
Portanto, deve-se concluir que, tal como Nossa Senhora, desde toda a eternidade, esteve na mente divina unida por um vínculo estreitíssimo e indissolúvel ao decreto da Encarnação do Verbo, também São José, destinado pelo mesmo Senhor a ser o esposo legítimo de Maria e o pai virginal de Jesus, participa desse único desígnio. Ao conceber a ideia sobre Maria, Deus não o fez sem pensar naquele que deveria ser um com Ela: José.
O “sensus fidelium” a respeito de São José
A opinião a respeito da concepção em graça de São José não se encontra explícita nas Sagradas Escrituras. Todavia, a Igreja tem declarado dogma de Fé algumas verdades que só de forma implícita estão contidas na Revelação.
Deus deu ao homem a capacidade de raciocinar e, portanto, de partir de um princípio, extrair suas consequências e chegar a uma conclusão. Ora, a essa capacidade da razão se acrescenta a virtude da fé. Fé e razão não entram em choque, mas, pelo contrário, se completam. A fé aperfeiçoa, apoia e ilumina a inteligência, dando-lhe asas para voar muito além, pois é uma participação no modo de compreender do próprio Deus.
A Igreja, com o passar do tempo, progrediu no perscrutar o mistério da santidade de São José. Devemos, pois, alegrar-nos com a perspectiva de que as afirmações a respeito da isenção do pecado original e de suas consequências no Santo Patriarca, tímidas a princípio e sempre mais categóricas ao longo dos séculos, estão atingindo seu clímax. A tal ponto que, para opor-se a essa percepção do sensus fidelium, só um pronunciamento ex cathedra em sentido contrário seria uma razão aceitável.
Por que só agora?
Quanto demorou o Magistério para definir a Imaculada Conceição de Maria? Dezenove séculos, embora toda a Igreja clamasse para que a declaração fosse feita muito antes. E por que tanto tempo? Porque tal é a grandeza de Nossa Senhora que, nos albores da Igreja, alguns chegaram a cultuá-La como deusa.
Ensina São Tomás que todo intermediário, visto de um dos extremos, se parece com o oposto. Ora, olhando-A “de baixo para cima”, Nossa Senhora Se assemelha muitíssimo a Deus, o que de certa forma explica que erroneamente Lhe atribuíssem natureza divina.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias abençoando uma imagem de São José, Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Caieiras (SP) |
Apenas no século IV, quando as bases da Cristologia estavam mais solidificadas, foi proclamado o primeiro dogma mariano, a Maternidade Divina.
Ora, algo análogo se passa com São José. Ele permaneceu silenciado durante vinte e um séculos, porque era preciso primeiro fixar a adoração a Nosso Senhor e estabelecer a devoção à Santíssima Virgem. Mas aproxima-se a hora de se compreender o quanto ele foi elevado por Deus, a fim de ser digno esposo de Maria e pai virginal de Jesus Cristo.
O Autor destas linhas deseja ser um dos instrumentos nas mãos da Igreja para coroar a figura de São José enquanto homem concebido em graça.
O mais belo, conveniente e excelente
Desse modo, não se questiona a singularíssima exclusividade do privilégio pelo qual a Virgem Maria foi isenta do pecado original desde o primeiro instante de sua concepção, e “brilhou sempre adornada pelos esplendores da perfeitíssima santidade”. Com efeito, Ela foi liberta em função da Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo e cumulada de uma plenitude de graça inigualável, enquanto São José o teria sido em vista também da Corredenção d’Ela, recebendo a graça por sua mediação e num grau inferior ao que inundou a Filha predileta de Deus Pai.
Seja-lhe permitido externar com a “liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8, 21), mas meticuloso respeito aos pronunciamentos da Santa Igreja, um pensamento que o Autor espera ver confirmado um dia pela autoridade da Cátedra de Pedro. A partir do momento em que num coração católico, ainda que seja um só, brotou a ideia de que São José, dada a sua missão, deveria ser concebido sem pecado original, não se pode mais vacilar. Porque passa a valer o princípio: Deus, em relação ao Verbo Encarnado, fez tudo perfeito. A concepção em graça de São José não é o mais belo, o mais conveniente e o mais excelente em função da Encarnação? Então aí está a ação de Deus.
Seja para maior glória desse extraordinário Santo, de sua Imaculada Esposa e seu Divino Filho que tal verdade tenha sido preconizada. (Revista Arautos do Evangelho, Março/2019, n. 207, p. 22-25)
Extraído, com pequenas adaptações, de: “São José: quem o conhece?” São Paulo: Lumen Sapientiæ, 2017, p.31-47
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