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Cardeal Müller visita os Arautos
 
AUTOR: PE. ANTONIO JAKOŠ ILIJA, EP
 
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Uma solene Eucaristia na Basílica de Nossa Senhora do Rosário e um almoço festivo no seminário menor marcaram o encontro entre o Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé e os Arautos do Evangelho.

Para os Arautos do Evangelho, o júbilo próprio às comemorações da Páscoa teve uma inesperada continuação no sábado 27 de abril, ocasião em que o Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, visitou o seminário menor da instituição, situado em Caieiras, na região metropolitana de São Paulo.

Dom Müller se encontrava no Brasil para o lançamento do primeiro volume em português das Obras Completas de Joseph Ratzinger. Entre outros muitos atos, ele proferiu uma palestra para os Bispos brasileiros, reunidos em Aparecida, a respeito do tema Teologia da Liturgia – O fundamento sacramental da existência cristã. Participou também do simpósio sobre A teologia litúrgica e sacramental de Joseph Ratzinger, ocorrido na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, realizou mais algumas palestras em São Paulo e presidiu a Santa Missa na Catedral da Sé, a convite do Cardeal Odilo Pedro Scherer.

Em sua apertada agenda, reservou a manhã desse sábado para estar com os Arautos, proporcionando-lhes a alegria de conhecê-lo de perto e de ver espelhada em sua pessoa outra grande figura da Igreja: o Papa Bento XVI. 

Assim o ressaltou o Pe. Alex Barbosa de Brito, EP, ao saudá-lo: “Hoje nos lembramos de modo particular do Salmo que diz ‘uma palavra Deus falou, duas ouvi’ (cf. Sl 61, 12), pois a visita de Vossa Eminência significa uma dupla presença entre nós: a vossa e a do Papa Bento XVI, a quem tanto amamos”.

O encontro se iniciou com uma jubilosa e solene Eucaristia na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, que teve entre os concelebrantes o secretário particular de Dom Müller, Mons. Sławomir Śledziewski. Centenas de arautos participaram da celebração, manifestando assim seu respeito, veneração e gratidão ao ilustre purpurado.

Mandato da evangelização universal

Além de ter sido por cinco anos Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal lecionou Teologia Dogmática por dezesseis anos na Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, e foi também Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional.

Toda essa experiência confere singular profundidade doutrinária a cada uma das suas atividades pastorais, como puderam constatar os Arautos do Evangelho durante a homilia.

Sua Eminência teceu comentários à Liturgia pascal, explicando a natureza missionária da Igreja: “Depois de ressuscitar dos mortos, ao enviar o Espírito Santo sobre os Apóstolos e sobre toda a humanidade, Jesus concluiu a fundação da Igreja visível sobre a terra. A Igreja é comunhão com a Santíssima Trindade do mesmo modo que ela é a continuação da missão de Cristo no mundo. A sua tarefa é conduzir toda a humanidade à fé e, através dos Sacramentos, à glorificação e adoração do Senhor. Nisso consiste o sentido e a meta do nosso existir terreno”.

“Liturgia divina” – A presença de Dom Müller, a beleza da Basílica de
Nossa Senhora do Rosário e a solenidade com que tudo foi realizado
fizeram o secretário do Cardeal, Mons. Sławomir Śledziewski, qualificar a
Celebração Eucarística de uma verdadeira “Liturgia divina”.

Só Deus oferece solução para o enigma humano

Após ressaltar que a fé na Ressurreição é o centro e coração da vida cristã, o Cardeal relembrou o mandato da evangelização universal feito por Jesus aos Apóstolos antes da Ascensão, acrescentando: “Evangelho, Batismo e fé: essas são as três palavras-chave para a compreensão mútua, para portas mais abertas, por meio das quais nós podemos entrar no Reino de Deus”. Embora a difusão da Boa-nova na América Latina e em outras regiões do globo tenha sido às vezes manchada por certos comportamentos inumanos do colonialismo de algumas potências pouco cristãs, “todavia, a vontade salvífica universal do Senhor é mais forte; é ela que sustenta a sua família espalhada pelo mundo, o povo de Deus”, afirmou.

Referindo-se à filiação divina dos batizados, pela qual os cristãos de toda a terra são irmãos de Cristo e membros de seu Corpo, apontou para o verdadeiro sentido da ação da Igreja na sociedade de nossos dias: “Nós somos os anunciadores do Evangelho da graça e da dignidade humana, fundada na graça de Deus, Criador e Salvador. E nisso se baseia a nossa solidariedade universal para com os pobres, os enfermos, os perseguidos e desprezados, bem como a nossa luta por justiça social, pela vida dos não-nascidos e pelo direito à vida de todos os idosos até a sua morte natural. Em um sentido teológico e não superficialmente ideológico, a Igreja é uma Igreja dos pobres e para os pobres. Com essas palavras, queremos indicar a Igreja não só como estrutura hierárquica, mas toda a Igreja, com os fiéis e os seus pastores, os quais são chamados a servir o povo de Deus”.

Ao recordar os insistentes apelos dos últimos Papas a uma nova evangelização dos países de antiga cultura cristã, o Cardeal considerou que tal necessidade se estende ao Brasil, pois “quinhentos anos também são uma longa história; aqui não estamos no início, mas no meio da História da salvação”.

Observou que não se trata de conservar tradições exteriores ou de adaptar-se às modas intelectuais e políticas transitórias, e sim em mostrar a verdade que permanece inalterada: “A humanidade e seus produtos, como a ciência, a técnica, a economia e as riquezas, formas de poder e de governo, não podem dar respostas e soluções aos desafios existenciais. Somente Deus, que por sua palavra em Cristo nos falou diretamente, somente Ele oferece a solução para o enigma que o ser humano é em si mesmo. Confiar n’Ele, apoiar-se n’Ele e seguir seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, tornar-se como Ele na vida e na morte, esta é a fé dos cristãos”.

“Fagulhas de falso esplendor”

Dupla presença – O Pe. Alex de Brito, EP, sublinhou o quanto nesta visita estava também presente, de algum modo, o Papa Bento XVI.

Sua Eminência ressaltou que “a fé é tanto um dom do Alto, graça de Deus dada pelo Espírito, como o reconhecimento intelectual do Senhor”, e também “a entrega livre e total da pessoa a Deus”. E esclareceu: “Deus não é uma verdade parcial desse mundo. Ele é a Verdade em si mesma, aquela que rege todos os conhecimentos filosóficos e científicos. Deus não é uma mera centelha de amor,  mas sim a luz e fonte de calor que preenche o nosso coração por completo”.

Denominando de “fagulhas de falso esplendor” as vozes que, hoje como em todos os tempos, dizem não existir nenhuma verdade que nos comprometa e aponte objetivos, explicou: “Segundo essas vozes, o ser humano seria livre quando cada um defendesse sua verdade subjetiva e deixasse os outros com suas próprias verdades. Esta até poderia ser a realidade, se não houvesse algo transcendente que nos comunicasse a verdade, e se só o ser humano fosse a luz e a salvação da humanidade. Porém, Deus não possui somente verdades, mas Ele mesmo é a Verdade, a Verdade que liberta, a única Verdade que é idêntica com a liberdade, que livra o homem do cárcere do egoísmo, do egocentrismo”.

Só uma ação divina pode expulsar o “demônio da cobiça” Ao tratar da causa mais profunda de tantos desvios que se verificam na atualidade, recordou o ensinamento de São Paulo a Timóteo: “‘A raiz de  todos os males é o amor ao dinheiro’ – não só dinheiro como pagamento, mas no seu sentido lato – ‘Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da Fé e se afligem com inúmeros sofrimentos’. Os dons terrenos são abundantes e são para todos. Mas a vida de luxo às custas dos outros, a corrupção como forma vergonhosa de autoenriquecimento, a falta de temor diante da dignidade do próprio corpo, o qual é templo do Espírito Santo, e diante da dignidade física, psíquica e espiritual de crianças, jovens e adultos, todos esses males vêm do amor ao dinheiro”.

Somente uma ação divina pode expulsar do coração “esse demônio da cobiça e do pensar só em si mesmo”, afirmou o Cardeal, exortando à confiança em Jesus Cristo, “nosso Amigo, Salvador e Libertador do poder totalitário do modismo e do medo profundo que temos de nos afastar das tendências deste mundo”.

Por fim, sua Eminência frisou o quanto a solução está na luz da fé, que “dá aos corações rígidos pela frieza o calor do amor sincero a Deus e ao próximo”, acrescentando: “Cristo, o Sol da Justiça, rompa a densa cortina de nuvem que se impõe sobre o nosso futuro. A missão da Igreja, dentro e fora de si mesma, no passado e no futuro, era e é algo diferente de um mero empenho caritativo. A Igreja de Deus será em todas as partes, e aqui também, no Brasil, um país bendito de Deus, um sinal de esperança para toda a humanidade, quando Cristo nela brilhar como luz para o mundo, a fim de que, através da fé, tenhamos vida, e vida em abundância”.

Gratidão por vê-lo agir em função da Fé Antes da bênção final, o Pe. Alex Barbosa de Brito renovou a gratidão de todos os arautos pela “dupla visita” que recebiam, a de Sua Eminência e a de Bento XVI, tão presente na figura do Cardeal.

“A primeira leitura da Missa de hoje faz recordar bem algo do espírito de Vossa Eminência”, salientou o Pe. Alex, “porque, como Vossa Eminência afirmava na sua homilia, os ‘homens do tempo’  querem que, em determinado momento, tenhamos uma referência de Igreja diferente daquela que nos foi deixada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Quiseram fazer isso já no início da Igreja, mas os Apóstolos resistiram e por isso a Igreja vingou”.

Alegre e agradável convívio – Durante o almoço, o Cardeal mostrou-se muito impressionado
com o número e boa formação dos alunos do seminário menor, aos quais quis cumprimentar
e abençoar. Na sobremesa os jovens ofereceram um bolo de aniversário para
o secretário de Dom Müller.

E acrescentou: “Vossa Eminência é conhecido em todo o mundo germânico como uma pessoa de espírito consequente, que age em função da Fé. E, nesse sentido, serve como um ponto de referência para todos nós, arautos das várias gerações que estão aqui reunidos. O nosso profundo agradecimento por tudo o que Vossa Eminência faz pela Santa Igreja e por tudo o que ainda fará”.

Fisionomias que refletem a formação recebida

Após a celebração, o Cardeal e seu secretário dirigiram-se ao refeitório da comunidade para um almoço festivo na companhia de todos os moradores da Casa Thabor, anexa à Basílica de Nossa Senhora do Rosário.

Durante a refeição, o Cardeal procurou observar os jovens seminaristas, manifestando-se impressionado com o número de vocações e a boa formação que recebem, o que via naturalmente estampado nas fisionomias e no modo de se comportarem naquele momento de convívio fraterno. Comprazido, quis cumprimentar a cada um, incentivando-os a permanecerem firmes no caminho indicado por Deus.

Nesse ambiente marcado pela alegria, respeito e benquerença, houve inclusive uma homenagem ao aniversariante do dia, Mons. Sławomir, o qual afirmou que o melhor presente havia sido a visita aos Arautos, referindo-se à concelebração daquela manhã como uma “Liturgia divina”.

Antes de retornar ao Mosteiro de São Bento, onde se encontrava hospedado e realizaria uma conferência naquela tarde, o Cardeal Müller pediu para tirar uma fotografia com o conjunto ali reunido, registrando assim esse encontro tão carregado de significado para os Arautos e para o seu fundador, Mons. João Scognamiglio Clá Dias. (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2019, n. 210, pp. 14 a 18).

 
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