Tendo passado a celebração da santa da morte do Redentor, um clima de luto se estabelece na sexta-feira, como se a natureza mesma se restringisse, se ressentisse do homem por ter matado seu criador. Quando acordamos no Sábado Santo, algo de parado ainda se mantém; porém, algo palpável de esperança também surge: Cristo ressuscitará. E esse ânimo se dá porque uma pessoa manteve sua fé, apesar de toda calamidade: Maria Santíssima.
Lembremo-nos de que Cristo foi morto às três da tarde, e que seu corpo foi tirado às pressas da cruz, pois no sábado haveria a comemoração da Páscoa, a passagem de Moisés e dos israelitas pelo Mar Vermelho. Para os hebreus, a véspera de um dia já contava como o próprio dia, de modo que na sexta-feira, após o cair do sol, já começavam as festividades.
Para estas, segundo a Lei de Moisés, todos deviam estar purificados, e o contato com cadáveres era proibido nas festas. Por isso este apressamento para embalsamar o Corpo de Cristo. Depois de encerrado no túmulo, os apóstolos e as Santas Mulheres, com Nossa Senhora, voltaram para o cenáculo para se prepararem, como afirma no Evangelho São Lucas: “Mas na hora em que terminaram já era sábado, portanto descansaram todo aquele dia, conforme o mandamento da lei dos judeus”. (Lc 23, 56).
Portanto, passaram as festividades impactados com os acontecimentos anteriores.
Todos estavam desesperados e desmotivados depois da morte de Jesus. Os apóstolos, mesmo constantemente avisados por Cristo de seu padecimento e ressurreição, não entendiam como podia ter acontecido aquilo com seu Mestre. Para eles, que criam num reinado temporal de Deus, sua fé era que o Nazareno destronaria César e iniciaria um império de dominação por toda terra, e eles, sentados à sua direita, julgariam a todos. Como conciliar este sonho de grandeza e poder com tamanha humilhação?
As santas mulheres, nem tanto participantes de todos as revelações de Cristo, estavam desoladas com a crueldade dos homens, principalmente Santa Maria Madalena, que ficou ao pé da cruz.
Somente Nossa Senhora, com tamanha imponência, mesmo transida de dor, mantinha um semblante tranquilo, pois Ela sabia, desde o momento da anunciação, completado ainda pela apresentação no Templo, qual era a divina missão de seu Filho, e tinha dado seu “Sim” para todas as ocorrências.
Sabiamente os apóstolos e as santa mulheres se acercaram da Santa Mãe, pois d’Ela se irradiava algo incompreensível para eles: esperança.
Se houvesse a possibilidade da Santa Igreja ser destruída, o mundo terminaria, pois a promessa de Nosso Senhor não pode ser mentirosa: “E as portas do inferno não a vencerão”. Assim, se algum dia deixasse de haver uma alma que tivesse fé, e o inferno vencesse, o mundo já não seria mais mundo.
Ali, então, naquele cenáculo, deu-se um gigantesco milagre: a Igreja foi Maria, e Maria foi toda a Igreja. Ela era a única que cria, a única que mantinha os olhos na promessa, mesmo sem ver ainda sua realização. Se Ela não estivesse viva, Deus teria encerrado a História e hoje nem estaríamos aqui.
Por isso o sábado santo é dedicado a Maria Santíssima, e todo sábado passou a ser ofertado particularmente a Ela: pois a Virgem foi a única luz que ainda ardia quando o mundo estava em inteira trevas. Por Ela, Deus manteve sua promessa de não deixar a Igreja fracassar e foi por esta fé que o milagre da Ressurreição foi possível. Peçamos a Nossa Senhora que nos faça participar desta fé que Ela levou com valentia por todo o sábado santo, proporcionando à humanidade sua continuação e santificação.