A Igreja triunfante do céu, a Igreja militante da terra e a Igreja sofredora do purgatório, um lugar de purificação, nada mais são que uma só e mesma Igreja.
A caridade, mais forte que a morte, uniu a do céu à terra, e da terra ao purgatório. São como três partes duma só e mesma procissão de santos, procissão que avança da terra ao céu.
A Igreja purgativa não é senão este estágio intermediário de purificação no itinerário da alma fiel. Segundo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, por aí passam “os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão perfeitamente purificados”.
Por isso “passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (nº 1030).
Mas será Deus tão rigoroso a ponto de não tolerar nem mesmo a menor imperfeição, limpando-a com penas severas?
Já dizia Santa Catarina de Gênova, grande mística do século XV: “a divina Essência é tão pura – infinitamente mais pura do que podemos imaginar – que a alma, vendo nela mesma a menor das imperfeições, prefere atirar-se em mil infernos a aparecer suja na presença da divina Majestade. Sabendo então que o Purgatório está criado para a purificar, ele mesma se joga nele e encontra ali grande misericórdia: a destruição de suas faltas”.
Apesar de terem feito o bem e cumprido os mandamentos da Lei divina, restaram apegos exagerados às criaturas, às imperfeições e aos pecados veniais.
Como isso tudo diminui na alma o amor de Deus, por causa dessas afeições desregradas, estabelece-se um estado de desordem em nós, afastando-nos do principal dever do Cristão: amar a Deus de todo coração.
Isto posto, essa é a causa pela qual, antes de permitir a uma alma subir até a glória celestial, “a justiça de Deus exige uma pena proporcional que restabeleça a ordem perturbada” (Suma Teológica, Supl. q. 71, a. 1).
A alma, assim, se sujeita ao castigo do Purgatório com alegria, em plena conformidade com a vontade do Senhor, já que seu único desejo é ver-se limpa.
Embora haja dor, há nas almas do Purgatório um matiz de alegria.
De forma brilhante, explica-o o Santo Padre João Paulo II, na alocução de 3 de julho de 1991: “Mesmo que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, pois sabe que pertence para sempre ao seu Deus”.
A mesma Santa Catarina de Gênova afirma: “Estou certa de que em nenhum outro lugar, excetuando o Céu, o espírito pode achar uma paz semelhante à das almas do Purgatório”.
Isso ocorre porque a alma se fixa na disposição em que se encontra na hora da morte, pois a liberdade humana termina com a morte.
Visto que a alma do Purgatório faleceu na amizade de Deus, ela se adapta com docilidade à sua santa vontade. Daí conservar a paz em meio a terríveis sofrimentos.