Naquele tempo: 27 Aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a ressurreição, 28 e Lhe perguntaram: “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência para o seu irmão. 29 Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. 30Também o segundo 31 e o terceiro se casaram com a viúva. E as sim os sete: todos morreram sem deixar filhos. 32 Por fim, morreu também a mulher. 33 Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com ela”. 34 Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e s mulheres casam-se, 35 mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36 e já não poderão morrer, pois serão iguais aos Anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. 37 Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38 Deus não é Deus dos mortos,mas dos vivos, pois todos vivem
para Ele” (Lc 20, 27-38).
I – Deus nos revela as realidades sobrenaturais
Imaginemos um conjunto de cegos de nascença vivendo isolados numa ilha, sem qualquer comunicação com pessoas de visão normal. Além de desconhecerem a luz, eles não teriam sequer noção do mundo exterior, como a grandeza do firmamento estrelado, a beleza de um panorama marítimo ou a imponência de uma montanha.
Suponhamos que alguém dotado de vista sadia fosse até essa ilha e passasse a instruir a população a respeito da realidade material, descrevendo a distinção entre a noite e o dia conforme o movimento do sol, o deslocamento silencioso das nuvens pelo céu ou a procedência de um som que se escuta ao longe. Se os cegos acreditassem na palavra deste que enxerga, logo começariam a
formar uma ideia do universo muito mais ampla e rica.
Ora, semelhante é a nossa situação perante Deus nesta terra: somos cegos porque não O vemos, mas Ele, desde sua visão perfeitíssima e eterna, serve-Se de diversos meios, dentre os quais as Sagradas Escrituras, para nos revelar as verdades sobrenaturais.
A Liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum se desenvolve em torno de uma dessas verdades: a ressurreição final.
“Prefiro ser morto pelos homens…”
O Segundo Livro dos Macabeus, proclamado na primeira leitura, narra o martírio de quatro dos setes irmãos presos junto com sua mãe durante a perseguição de Antíoco ao povo judeu. Querendo obrigá-los a apostatar da Religião, o tirano os submete a terríveis torturas, mas os jovens manifestam impressionante força de alma e não cedem. Um deles, antes de expirar, proclama: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará. Para ti, porém, ó rei, não haverá ressurreição para a vida!” (7, 14).
Com efeito, no fim dos tempos ressurgirão tanto os bons quanto os maus, mas para estes o fato de recuperarem os corpos será motivo de maior tormento. Enquanto os Bem-aventurados ressuscitarão sem nenhuma possibilidade de padecer dor ou qualquer incômodo físico, os condenados sofrerão em seus membros e em seus sentidos todos os horrores da “fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13, 50).
Por exemplo, os precitos exalarão um terrível mau cheiro, que lhes causará constantes náuseas; dos que estiverem na glória, pelo contrário, emanarão perfumes extraordinários, com fragrâncias diferentes conforme as características
de cada alma.1
Cristo é o Primogênito entre os mortos
Já na segunda leitura, São Paulo frisa a esperança de alcançarmos no convívio com Deus essa “consolação eterna” (II Tes 2, 16), a qual nos dá ânimo e nos dispõe para as boas obras. E a Aclamação ao Evangelho lembra ser Nosso Senhor o Primogênito entre os mortos, isto é, o primeiro a ressurgir gloriosamente, tornando-Se causa de nossa ressurreição.
Essas considerações nos preparam para melhor acompanhar o Evangelho, no qual São Lucas descreve um episódio ocorrido no início da Semana Santa.
II – Os que se entregam ao pecado não creem na ressurreição
À entrada triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém, no Domingo de Ramos, sucederam-se dias de crescente hostilidade por parte de seus inimigos. Estes procuravam tirar-Lhe a vida, “mas não sabiam como realizá-lo, porque todo o povo ficava suspenso de admiração quando O ouvia falar” (Lc 19, 48).
Foi nesse contexto que Jesus, ensinando no Templo, contou a parábola dos vinhateiros, cujo desenlace é o extermínio dos assassinos e a entrega da vinha a outros (cf. Lc 20, 9-16). Conforme observa o Evangelista, os príncipes dos sacerdotes e escribas compreenderam que o Divino Mestre Se referia a eles com essa narração, e só não O prenderam na ocasião por temerem a reação popular.
Mais à frente, tencionando surpreendê-Lo em algum erro que lhes possibilitasse denunciá-Lo à autoridade, espiões enviados pelos fariseus propuseram ao Salvador a ardilosa questão do tributo de César, à qual Ele respondeu com tal astúcia que os contendores, atordoados, “tiveram que se calar” (Lc 20, 26).
Segundo indica São Mateus (cf. Mt 22, 23), nesse mesmo dia se desenrola a cena descrita por São Lucas nos versículos a seguir.
Incredulidade e relativismo, defeitos correlatos
Naquele tempo: 27Aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a ressurreição…
Os saduceus eram, em sua maioria, membros da alta hierarquia sacerdotal da nação judaica e compunham um influente partido, divergente dos fariseus em pontos fundamentais. Além de serem favoráveis à colaboração pacífica com o governo romano e de não esconderem seu descaso pelas tradições religiosas, negavam a ressurreição dos mortos e a existência de Anjos e espíritos (cf. At 23, 8).
Tais discordâncias, porém, não constituíam obstáculo para ambas as facções se mancomunarem contra Nosso Senhor. São Mateus o atesta ao registrar a cena em que “os fariseus e os saduceus achegaram-se a Jesus para submetê-Lo à prova” (16, 1), e receberam de seus divinos lábios o epíteto de “raça perversa e adúltera” (16, 4). Semelhante fora a invectiva de São João Batista quando membros de um e outro grupo se dirigiram ao Jordão a fim de serem batizados: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera vindoura?” (3, 7).
Certamente a problemática da ressurreição já fora tema de numerosas discussões entre eles. Os saduceus, contudo, permaneciam obstinados em sua incredulidade, não por falta de argumentos que demonstrassem a imortalidade da alma humana e a ressurreição como consequência desta, mas por serem devassos e relativistas. Crer neste dogma os obrigaria a mudar de conduta moral e cumprir a Lei de Deus com integridade, e isso eles não queriam.
Da mesma forma procedem todos os que se entregam ao pecado: não creem na ressurreição, ou ao menos procuram abstrair-se dela, pois sua aceitação implicaria em levar uma existência pautada pelos Mandamentos, a fim de estar à direita do Filho do Homem quando Ele “voltar na sua glória” (Mt 25, 31).
É bom que haja heresias
28…e Lhe perguntaram: “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência para o seu irmão. 29Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. 30Também o segundo 31 e o terceiro se casaram com a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. 32Por fim, morreu também a mulher. 33Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com ela”.
Os saduceus introduzem a pergunta citando a lei do levirato, prescrita por Moisés no Deuteronômio (cf. Dt 25, 5). Tratava-se de um antigo costume, mencionado no Gênesis (cf. Gn 38, 8), segundo o qual recaía sobre o irmão de um falecido o dever de casar-se com a viúva deste, a fim de dar-lhe posteridade, perpetuando o seu nome. Tal prática, embora um tanto desabonada, continuava em vigor na Palestina no tempo de Nosso Senhor; portanto, o problema apresentado era de fácil compreensão para os circunstantes.
Julgando-se geniais, os indagadores apresentam uma casuística risível: um conjunto de sete irmãos que morrem sucessivamente, após cada um desposar a mesma mulher, sem nenhum deles deixar filhos. No fundo, queriam colocar Jesus em ridículo, como que dizendo: “Quando ela ressuscitar, terá de escolher um dos sete? Veja os problemas que esse dogma da ressurreição traz!”
“Oportet et hæreses esse” (I Cor 11, 19), escreve São Paulo. É bom que haja heresias, porque, diante delas, a verdade se explicita. Nosso Senhor é Deus, a Sabedoria Encarnada, e dá a resposta exata, desmontando não só a objeção de seus inimigos, como também lhes descobrindo a intenção. Se quisesse, Ele poderia usar sua onipotência e fazê-los todos voltarem ao nada ou, ao menos, lançá-los ao chão. Foi assim que agiu, poucos dias depois, com os guardas no Horto das Oliveiras, dizendo-lhes apenas: “Sou Eu!” (Jo 18, 6).
Contudo, o Divino Mestre aproveita a ocasião para ensinar, deixando bem claro o que acontecerá conosco após a morte.
São outros os vínculos no Céu
34 Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36 e já não poderão morrer, pois serão iguais aos Anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram”.
Desde o início da História, quis o Criador a multiplicação do gênero humano: “Frutificai, disse Ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1, 28). Deus deseja que mais e mais almas se tornem filhas d’Ele para beneficiá-las com suas graças, e o matrimônio foi o meio escolhido para alcançar esse fim.
Entretanto, tal instituição existe apenas na terra. Na vida futura a propagação da espécie já não terá razão de ser, visto que o número dos eleitos estará completo. Homens e mulheres ressurgirão com uma perspectiva nova. Terá se dado a vitória definitiva de Deus na História e dela participarão os que houverem seguido o caminho da santidade; padecerão no inferno os que houverem rejeitado a graça, preferindo o pecado.
Na eternidade, o relacionamento entre marido e mulher estará desprovido de características terrenas. Dar-se-á de forma semelhante à união entre Maria e José: será todo ele virginal, fundamentado unicamente no amor a Deus. No Céu não há nações, nem instituições próprias ao mundo; somente os vínculos de cunho sobrenatural, como os que unem as famílias religiosas,
continuarão na vida futura.
Quem ouve sua palavra não precisa de provas
É de se notar, ainda, que nesses três versículos Nosso Senhor usa a autoridade de sua própria palavra para ensinar, sem mencionar a Escritura. Ele responde a objeção dos saduceus com afirmações lindíssimas, saídas diretamente de seus lábios e revestidas de uma força de penetração muito superior à de qualquer passagem do Antigo Testamento, embora também este seja inspirado pelo próprio Deus. Os ouvintes de bom espírito não sentiam necessidade de prova alguma, pois ali estava a Verdade.
Entrada gloriosa de Jesus em Jerusalém, por Pietro di Giovanni d’Ambrogio Pinacoteca Stuard, Parma (Itália)
Entretanto, Jesus quis acrescentar um argumento equivalente ao dos saduceus, a fim de mostrar-lhes o quanto estavam errados inclusive no uso das palavras de Moisés.
Um argumento que calou os adversários
37 “Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para Ele”.
Conforme observa São Jerônimo,2 há nas Escrituras muitas outras passagens mais claras para demonstrar a ressurreição.
Nosso Senhor poderia citar, por exemplo, o cântico de Isaías: “Que os vossos mortos revivam! Que seus cadáveres ressuscitem! Que despertem e cantem aqueles que jazem sepultos” (26, 19). Ou a profecia de Daniel: “Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para a ignomínia, a infâmia eterna” (12, 2).
É de se perguntar, portanto, por que quis o Divino Mestre apresentar este trecho do Êxodo, na aparência tão menos concludente. Uma das razões é o fato de os saduceus desprezarem todos os Livros Sagrados, à exceção do Pentateuco. Assim, de nada adiantaria mencionar trechos não compreendidos nele para convencê-los. Mas São Jerônimo afirma que Jesus também teve a intenção
de fazer bem aos demais judeus, para os quais aqueles termos empregados por Deus ao comunicar-Se com Moisés no episódio da sarça ardente resultavam misteriosos.
O Evangelista é sintético, mas Nosso Senhor deve ter exposto seu argumento com uma clareza única, quiçá dizendo: “Vós, saduceus, vos qualificais de filhos de Abraão, de Isaac e de Jacó. Ora, todos eles já morreram. Então, sois filhos dos mortos? E Deus é Senhor daqueles que não existem mais? Não! As almas de Abraão, Isaac e Jacó são imortais; os três estão vivos e chegará o dia em que seus corpos ressuscitarão!”
A Liturgia deste domingo não recolhe os dois versículos finais desse episódio, nos quais São Lucas descreve a reação dos presentes. Os saduceus decerto saíram muito humilhados. Apenas alguns escribas reconheceram: “Mestre, falaste bem”. Depois disso, “não se atreviam a fazer-Lhe pergunta alguma” (Lc 20, 39-40).
III – A melhor preparação para uma ressurreição feliz
Se Nosso Senhor Jesus Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé (cf.I Cor 15, 14), ensina São Paulo. Sim, pois o que nos anima a nos mantermos na virtude é justamente a certeza de possuirmos uma alma imortal e a esperança de que, a exemplo de Cristo, nosso corpo ressurgirá do pó no fim do mundo.
Tendo se encerrado no tempo com a morte, nossa vida continuará no plano eterno. E aquilo que os livros, documentos e relatos elaborados pelos homens nesta terra chamam de História ficará reduzido a uma mera “pré-História” quando contemplado a partir da visão de Deus.
Uma ideia que divide a humanidade
Na realidade eterna, tão mais ampla que os estreitos limites abarcados pela razão humana, figuram os Anjos, os quais não morrem nem ressuscitam, mas cuja existência está também dividida em duas fases bem diferenciadas. Assim, poderíamos chamar “pré-história” angélica o período anterior à queda dos demônios no inferno, e história o acontecido após essa grande cisão entre espíritos bons e maus.
Para os homens, o que se passa neste mundo é apenas um preâmbulo daquilo que se desenrolará na eternidade. Na vida futura, por exemplo, jamais faltará aos eleitos matéria para conversar, fatos inéditos para comentar, novas perfeições de Deus para descobrir e louvar. Todos possuirão corpo glorioso e estarão livres, portanto, de limitações como sono ou cansaço. Os dons de
sutileza e agilidade resolverão qualquer problema de deslocamento ou de espaço.
É com vistas a esse destino eterno que devemos nos conduzir enquanto peregrinamos neste vale de lágrimas. Isto exige esforço e sacrifício, pois o cotidiano moderno, com toda espécie de facilidades da técnica, bem como de progressos da medicina – anestesias, remédios supereficazes, órgãos artificiais, transplantes –, pode criar a ilusão de o homem chegar a viver indefinidamente em meio aos prazeres da terra.
Tal ilusão gera uma mentalidade naturalista, olvidada de Deus. Se nos primeiros séculos o paganismo perseguia os fiéis para obrigá-los a sacrificar aos ídolos e renegar a Fé, hoje a civilização neopagã cobra das pessoas uma postura ateia, pela qual se esqueçam do sobrenatural. Assim, por incrível que pareça, a ideia da ressurreição é ainda o divisor do mundo em nossos dias.
Abandonemos os apegos, caprichos e paixões
Todos compareceremos em certo momento diante de Deus para o juízo, do qual resultará nossa felicidade ou condenação eternas. Não há uma terceira opção, um post mortem neutro em que não se sofra e também não se goze de suma felicidade.
Rumamos para a morte como desfecho inevitável da nossa pré-história. O peregrinar pela terra constitui apenas uma breve prova em função da qual nos fixaremos na vida futura. Se aqui nos guiarmos por aquilo que os sentidos corporais nos transmitem, deixando de lado a perspectiva eterna, cairemos no pior dos enganos: julgaremos serem reais somente as coisas concretas que nos
rodeiam, as quais desaparecerão ao fecharmos os olhos para este mundo.
Portanto, é insensatez preocupar-se em demasia com a consideração ou o desprezo recebido dos outros, com a riqueza ou a pobreza, a saúde ou a doença. A única coisa que verdadeiramente importa é o amor que Deus tem por nós, a ponto de querer nos fazer participar da plenitude da vida d’Ele. A esperança de vê-Lo face a face deve nos animar até mesmo diante da dor e do sofrimento.
Por muito longa que seja a nossa existência, o que ela representa se comparada à eternidade? Não sejamos loucos, desperdiçando nosso tempo em algo que terminará com a morte e depois nos levará ao inferno! Abandonemos todos os apegos, caprichos e delírios das paixões; evitemos o pecado e, se tivermos a infelicidade de ofender a Deus, procuremos o quanto antes o perdão sacramental. Enfim, preparemo-nos para, no dia de nossa ressurreição, vermos realizadas em nós as palavras do Salmo Responsorial (cf. Sl 16, 15): “Ao despertar, me saciará vossa presença e verei a vossa face!”
Deus pode transformar defeitos em virtudes
Ao apresentar com tanta clareza o problema da ressurreição, a Liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum fortalece nossa esperança e nos enche do desejo de viver na graça de Deus. A boa consciência e a presença do Espírito Santo nas almas infundem energia e disposição de ânimo, e conferem um brilho característico e insuperável à fisionomia.
Quem vive com os olhos postos na eternidade não se deixa perturbar nem mesmo em meio às piores perseguições, pois sabe que tudo é permitido por Deus, e encontra motivo de alegria até nas próprias misérias: “Que bom que eu tenha esta debilidade, porque ela me dá ideia de quanto sou ruim. Mas Deus é Todo-Poderoso. Assim como Ele pode transformar as pedras em filhos de Abraão, pode converter esse defeito em virtude. Ó Deus, quão maravilhoso é vosso modo de agir. Tomai esse horror que há em mim e fazei dele uma obra de santidade!”
Peçamos a Nossa Senhora que nos alcance graças para compreendermos a beleza das alegrias eternas e nunca desviarmos nossa atenção dessa magnífica perspectiva. Que a Virgem Fiel nos conceda considerar a vida presente com a mesma impostação com que Ela “guardava todas as coisas no seu Coração” (Lc 2, 51), convencendo-nos cada vez mais da necessidade de perseverarmos na virtude para que a nossa ressurreição seja a mais feliz possível. (Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2019, n. 215, p. 8 a 15).
imagem1: Ressurreição de Nosso Senhor Pró-Catedral de Santa Maria, Hamilton (Canadá)
imagem3: Moisés e a sarça ardente Basílica de Paray-le-Monial (França)
imagem4: Queda dos anjos rebeldes – Museu do Louvre, Paris; na página anterior, Coroação de Nossa Senhora (detalhe), por Fra Angélico – Galleria degli Uffizi, Florença (Itália)
1 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Suppl., q.82, a.4.
2 Cf. SÃO JERÔNIMO. Commentariorum in Evangelium Matthæi. L.III, c.22: PL 26, 165.