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Espiritualidade


O que escolher?
 
AUTOR: MONS. JOÃO CLÁ DIAS, E.P.
 
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É possível querer levar uma vida de observância dos Mandamentos e, ao mesmo tempo, uma vida cômoda, sem esforço nem sofrimento? Ou a observância dos divinos preceitos exige de nós uma constante vigilância e luta?

O Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho nos esclarece o assunto no que publicamos a seguir.

A tentação da terceira posição

É difícil para o homem, no relacionamento com o próximo ou com Deus, agir segundo as exigências de sua consciência, da moral e da verdade. Tomar uma atitude decidida e definitiva constitui uma escolha árdua, pois, por um lado, no interior da alma, clama a voz das más inclinações decorrentes do pecado e, por outro, o convite à retidão, à perfeição e à santidade feito pela graça.

Optar por uma dessas solicitações acarreta sérias consequências, surgindo a partir daí uma luta que continua durante toda a vida até o momento do juízo particular, fato que explica a conhecida afirmação de Jó: “a vida do homem sobre a Terra é uma luta” (7, 1).

Não há uma idade a partir da qual seja possível considerá-la encerrada; pelo contrário, as batalhas espirituais tornam-se cada vez mais impetuosas como passar do tempo. Comprova-o a hagiografia, ao mostrar a luta presente na trajetória terrena dos Santos, até o último suspiro deles. Célebre é a exclamação de São Luís Grignion de Montfort, na hora da morte, indicativa de seu constante esforço para se manter fiel à Lei divina, da qual se julgava cumpridor muito imperfeito: “Cheguei ao termo de minha carreira: não pecarei mais!”. (1)

Contudo, quando não é justo, o homem esmorece nesse combate ascético e procura encontrar um meio de descansar, desejando alcançar a recompensa eterna sem fazer esforço. Tal é a razão pela qual não existe uma corrente com maior quantidade de adeptos quanto a chamada terceira posição.

A terceira posição

São Luís Grignion de Montfort - basílica São Pedro - Vaticano

São Luís Grignion de Montfort

Trata-se do partido mais numeroso existente no mundo, desde a saída de Adão e Eva do Paraíso, porque a tendência do homem não é ceder ao mal enquanto mal — pois ser mau é incômodo e implica também em lutar, exige agrede, ou seja, capacidade de luta —, mas sim fugir da dor. Nossa existência acarreta sempre padecimentos, pois é impossível viver sem sofrer, ainda quando se é inocente. Nem a Inocência em Si mesma, Nosso Senhor, nem a Inocente por excelência, Nossa Senhora, ficaram livres da dor, sendo inconcebível uma existência, por mais excelsa que seja, isenta de adversidades.

São Luís Grignion de Montfort, em sua Carta circular aos Amigos da Cruz, tratou dessa luta interior ao mostrar o glorioso caminho dos eleitos: “O conhecimento experimental do mistério da Cruz é dado a conhecer a muito poucos. Para que um homem suba até o Calvário e se deixe crucificar com Jesus, em meio a seu próprio povo, necessita ser um valente, um herói, um homem determinado e unido a Deus; que escarneça do mundo e do inferno, de seu corpo e de sua própria vontade; um homem resolvido a sacrificar tudo, a realizar tudo e a padecer tudo por Jesus Cristo. Sabei, queridos Amigos da Cruz, que aqueles que dentre vós não se encontrem com esta disposição, estes andam com um pé só, voam apenas com uma asa e não merecem estar convosco, porque não merecem ser chamados Amigos da Cruz, a qual devemos amar com Jesus Cristo, corde magno et animo volenti — com largueza de coração e ânimo generoso (cf. II Mac 1, 3)”. (2)

Não existe um terceiro caminho no qual juntemos as vantagens e as glórias da obediência a Deus com o gozo e as fruições do pecado. A batalha de nossa vida espiritual, portanto, cifra-se em tomarmos fervorosamente a primeira posição, sem nos deixarmos enganar pela falsidade da terceira.

vinheta-verde

(1) SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, apud ABAD, SJ, Camilo María. Introducción General, c.VI, n.32. In: Obras de San Luis María Grignion de Montfort. Madrid: BAC, 1954, p.66.
(2) SÃO LUÍS MARIA GRIGNIONDE MONTFORT. Carta circular a los Amigos de la Cruz, n.15. In: Obras de San Luis María Grignion de Montfort, op. cit., p.236-237.
 
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