O IV domingo do advento, último antes do Natal, nos aproxima da Liturgia do nascimento de Cristo. Assim, com magistral sabedoria, a Santa Igreja já nos põe próximos aos acontecimentos divinos do natalício de Jesus. Acompanharemos, portanto, nesta semana, o anúncio do nascimento de João Batista, a visita de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel, o recenseamento por ordem de Herodes, a anunciação e a caminhada até Belém. Hoje, porém, o evangelho nos narra as circunstâncias que cercaram São José, chamado por São Mateus como um homem justo. Vejamos, pela ótica do evangelista, o que terá passado o Pai Virginal de Deus na Encarnação do Verbo.
“O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo”.
“Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho, e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus conosco». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa”.
Muito tem se dito que o justo José, marido da Virgem Maria e Pai adotivo do Menino Jesus, abandonou sua esposa por sentir uma mistura de raiva, mágoa e tristeza, sentimentos que nós professamos ao sermos enganados. Mas isso não faria jus às disposições do Patriarca, nem com o ambiente da Sagrada Casa de Nazaré.
Em primeiro lugar, São José havia feito voto de virgindade antes mesmo de conhecer Nossa Senhora. Ele casou com Maria Santíssima por uma obrigação divina, fruto de um milagre, após ser convocado para o templo para ser decidido o esposo da Virgem, como era o costume da época.
Tendo já se ausentado duas vezes, São José armou uma sagrada trama na terceira: já que todos os possíveis maridos deveriam tomar um graveto, e qual florescesse seria o que casaria com Maria, o homem justo deixou para tomar por último o bastão mais franzino e apodrecido, esperando que não fosse ele o contemplado.
Mas que surpresa ao ver o seu bastão florescer, como uma vez acontecera com Aarão, no deserto! E como daquela vez o irmão de Moisés foi eleito o sumo-sacerdote, aqui São José foi escolhido esposo de Maria. Indagando a Deus por que fizera isso, já que sabia de seu voto de virgindade, o homem justo foi para a celebração matrimonial. Qual não foi sua alegria ao descobrir que Nossa Senhora também tinha havia feito o mesmo voto! Para São José, tudo ficou esclarecido: ele fora escolhido porque sua esposa também havia se consagrado e, juntos, poderiam cada um se dedicar à virgindade como desejavam.
São José, porém, percebe, alguns meses depois, pelas disposições habituais de uma pessoa grávida, que Nossa Senhora carregava um menino. Mas ele sabia que Maria Santíssima era a virtude em pessoa; e, antes mesmo da fidelidade a ele, através do casamento, Ela era fiel ao Senhor, e não quebraria o voto que fizera. Como estava grávida sua esposa? Ele não sabia, mas São José era um homem de fé que já havia presenciado um milagre: se seu bastão seco floresceu, não podia, por obra do Senhor, uma virgem engravidar?
E São José entendeu que ali residia um mistério santíssimo, algo que estava além de sua compreensão. E, como era reto e justo, interrogou sua querida esposa, que não podia, por hora, comentar ainda o grande milagre que carregava. Diante do silêncio de Maria, são José fez a coisa mais perfeita: retirou-se para pensar. Deu chance a Deus para que respondesse esta altíssima dúvida. Não pressionou a Virgem, não a culpou ou criou sentimentos negativos d’Ela. O que nutria por Ela era o mais profundo amor e admiração.
E, no profundo sono – o que comprova que São José não ficou amargurado ou atiçado pela dúvida, pois só o tranquilo, aquele que está em paz, dorme um sono perfeito – Deus mandou seu anjo para que revelasse ao Pai de seu Filho a verdade da encarnação.
São José parte, então, para adorar o Menino que era gerado por sua espoas, e presta-lhe todas as assistências.
Em primeiro lugar, no IV domingo do Advento, a liturgia pede de nós, na proximidade do natal, uma confiança ilimitada. Pode ser que, enquanto todos se alegram por vários benefícios, eu chore. Chore pelos meus sofrimentos, pelas dores do próximo, pelo mistério da dor que não compreendo.
Este choro deve se converter em paz: é no silêncio do coração que as respostas nos são dadas. E muitas vezes não é na hora da tribulação que a recebemos; precisamos ser persistentes, confiar em Deus e seguir com a alma em paz.
E, no fim, quando entendermos, é preciso uma atitude de gratidão: muitos conseguem de Deus a resposta ou o benefício, mas não voltam para “tomar Maria como esposa”. Vão para todos os lugares gastar o que o Senhor lhes concedeu, sem lembrar, contudo o autor de toda dádiva. Que neste IV domingo do Advento possamos ser mais como São José, e que ele nos conceda esta santidade diante do mistério e do sofrimento.