Discursando numa comemoração cívica, em novembro de 1976, Dr. Plinio traçou, com arrebatadora eloquência, as perspectivas históricas nas quais o Brasil modelaria sua verdadeira
magnitude
Brasileiros de um espírito patriótico, alertado e atualizado! Brasileiros movidos pelo espírito cristão, indissociável de toda alma verdadeiramente brasileira!
Brasileiros aqui se congregam para afirmar perante o país que é bom pensar nas grandezas do futuro, que é necessário trabalhar para que o Brasil vá adiante no caminho de potência emergente que vai trilhando neste momento. Mais do que sonhar com um futuro grandioso, é preciso trabalhar para realizar e antecipar esse futuro. Mas isso não basta. … preciso também lutar!
Porque a vida não é só feita de esperanças, a vida não é só feita de anelos: ela é feita também de riscos, ela é feita de aleivosias, ela é feita de perigos.
E ai do varão, ai do chefe de família, ai do chefe de empresa, ai do chefe civil, militar ou eclesiástico, que não tenha os olhos igualmente abertos para esse aspecto da realidade: o “inimicus homo” de que nos fala a Escritura, que ronda em torno de cada homem, em torno de cada setor da atividade social, em torno de cada nação o do mundo contemporâneo, pronto para se atirar sobre ela, no momento em que encontre condições favoráveis para isso.
Atinge verdadeira grandeza o povo que une a luta ao trabalho
Nesta circunstância é bem certo que importa pensar também no perigo.
Mas, não me parece que o pensar no perigo e nos prepararmos para ele, o congregarmos e o concitarmos os nossos concidadãos a lutar contra ele, seja em algo dissociado das nobres preocupações da faina diária e da construção de um Brasil sempre maior.
Pelo contrário, professor de História que sou ó habituado desde minha remota juventude a me debruçar sobre os fatos históricos à procura das Leis com que Deus pauta a existência, o porvir dos povos, e neles inscreve os sinais de sua Misericórdia e de sua Justiça -, sempre me chamou a atenção um fato que tem a sua projeção sobre a realidade natural, até no mundo animal, e até mesmo no vegetal.
Esse fato que a História ensina é o seguinte:
Não é verdade que atinge a grandeza, a grandeza efetiva, a grandeza durável, a grandeza plena, aquele povo que apenas trabalhou pela sua própria grandeza
A grandeza é atingida, sim, pelos povos que trabalham, não há dívida. A Providência não quer, nem abençoa, povos que não trabalham.
Mas a grandeza verdadeira se adquire quando, ademais, o homem ó tomando conhecimento desta regra de que ele encontrar· em seu caminho o adversário a agredi-lo na justiça de suas vias e na santidade de seus propósitos ó, prepara-se para a luta, enfrenta a luta, confia na Providência e vence nessa luta!
Os povos que só são trabalhadores não chegam à verdadeira grandeza. Os povos só lutadores não alcançam a verdadeira grandeza.
Os povos que sabem aliar a luta ao trabalho, fazendo do trabalho uma luta e da luta um trabalho, entregando-se operosamente à luta e ardorosamente ao trabalho; os povos que sabem unir esses dois aspectos de sua atividade, esses povos, sob o signo da Cruz, tornam-se verdadeiramente grandes.
As intempéries, as dificuldades, quanto maiores, tanto mais preparam uma nação para a sua grandeza, quando ela é grande ao enfrentá-las.
Pensando na grandeza do Brasil
E então eu penso no nosso Brasil…
No nosso Brasil de proporções continentais, habitado por um povo que ó é bem verdade ó a imigração tornou heterogêneo, mas que vai se amalgamando numa superior unidade de espírito, na qual a inteligência, a sutileza, a capacidade de trabalho e o desejo de progredir se afirmam dia a dia mais.
Eu penso nesse país e nesse povo, e penso comigo: quando o Brasil tomar para si esse dever de aliar luta e trabalho, qual será a sua grandeza ?
Ninguém poderá dizê-lo.
Ele ter· a grandeza de alma proporcionada ao vigor da luta que, no terreno psicológico como no terreno material, as circunstâncias lhe tenham imposto e ele saiba travar.
Ele terá, ao mesmo tempo, a grandeza do seu território, a grandeza de sua riqueza. Ele será um povo de lutadores, que saberá como nunca trabalhar. Ele será um povo de trabalhadores que soube provar que é formidável na luta. Sobre ele, eterno, imutável, brilhará o Cruzeiro do Sul, que já Pedro Álvares Cabral viu quando as naus com o signo de Cristo vieram aportar em nosso território.
E o Brasil de hoje, voltando o olhar para o Brasil de ontem, e voltando o olhar enlevado para o Brasil de amanhã, o Brasil de hoje, creio eu que, na afirmação uníssona de todos os nossos corações, poderá exclamar:
“Vivemos dias amargos. Mas, pela graça de Deus, soubemos ser grandes, à altura de nosso povo, de nosso território, à altura do Sinal da Cruz que está esculpido nos nossos céus!” (Revista Dr. Plinio, Setembro/2003, n. 66, p. 9 a 11).