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Pode o católico pedir a Deus bens materiais?
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Pedi e Recebereis, procurai e achareis

Oração a DeusNo Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem, escrito por São Luís Maria Grignion de Monfort, lemos que a perfeita entrega a Nossa Senhora passa inclusive pela doação não só do corpo, alma e intenções, mas até mesmo os méritos das boas obras que se pratica. O trecho não só envolve uma dúvida inquietante, como nos faz questionar ainda outros pontos: pode o católico pedir a Deus por bens materiais, se a perfeita entrega exige de nós uma doação plena? Não é errado implorar ao Senhor por coisas que passam, já que nosso futuro está no Céu?

É o que vamos esclarecer aqui hoje.

No início da criação

Nenhuma boa argumentação religiosa deixa de olhar, em algum momento, para a Revelação concedida por Deus: as Sagradas Escrituras. E nosso método vai ser este mesmo: entender o que o Senhor nos comunica pela sua Palavra para ver se pode o católico fiel pedir por bens materiais. Já no início da história humana, nas primeiras páginas do Gênesis, Adão faz um pedido a Deus, não verbal, mas de coração:

“E, desse modo, o homem nomeou a todos os animais: os rebanhos domésticos, as aves do céu e a todas as feras. Entretanto, não se encontrou para o próprio ser humano alguém que com ele cooperasse e a ele correspondesse intimamente. Então, Deus fez Adão cair em profundo sono e, enquanto este dormia, retirou-lhe parte de um dos lados do corpo e uma costela, e fechou o lugar com carne. Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus modelou uma mulher e a conduziu até ele. Então exclamou Adão: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!” (Gn 2, 20-22).

Como sentia-se só, Deus concedeu a Adão uma esposa que correspondia a seus anseios.

Promessa do Senhor

Alguns poderiam alegar que o pedido inicial de Adão não foi de algo material. De fato, uma companheira é bem mais do que um carro, uma casa, um bem físico. Entretanto, não paremos por aqui, continuemos nossa trilha rumo a Encarnação de Jesus, agora com Abraão: “Então, depois que Ló foi embora, prometeu o Deus a Abrão: “Ergue teus olhos e observa bem, do lugar em que estás, para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente. Toda a terra que vês, Eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre”. (Gn 13, 14-15).

Aqui é o próprio Deus quem promete, antes mesmo do pedido de seu patriarca, terras abundantes e uma prole extensa, que levará o nome de seu pai por todos os séculos. Assim, comprovamos que nosso Deus não se irrita contra pedidos por bens terrenos, por anseios práticos de nosso coração; aliás, Ele mesmo, muitas vezes, é quem nos premeia com estes bens.

Como Deus dá os bens materiais?

Se pode o católico fiel pedir por bens materiais, qual é a regra com que Deus os concede? Santo Agostinho nos dá três agravantes pelos quais Deus não atende nossos pedidos de bens materiais: mala, male, mali.

Mala: quando pedimos coisas que nos farão mal. E aqui consiste em uma das grandes sabedorias do cristão: ele pode pedir a Deus, como vimos, o que quiser, seja o que for. Porém, ele precisa de humildade e entende que muitas vezes seus desejos são suscitados pelo frenesi e pelo pecado. Assim, como que deixa na mão de Deus, com grande inocência, a escolha pela concessão do bem ou não.

Male: quando pedimos mal. Quando nossa oração não existe, ou quando existe fraca; quando nosso pedido não é confiante ou perseverante.

Mali: quando somos mal. Ao praticarmos obras de injustiça e entristecermos a Deus, é certo que temos menos audiência perante o tribunal divino de conquistar os bens físicos.

Conclusão: pode o católico pedir a Deus bens materiais?

Com certeza pode o homem e a mulher entregarem, em suas orações, os pedidos que mais lhe incomodam o coração, desde os maiores aos menores. Não é porque não conquistamos ainda a perfeita humildade que não podemos pedir também um emprego com melhor salário. Porém, o católico fiel sabe organizar seus pedidos, e priorizá-los. Ele sabe que, em primeiro lugar, está sua alma, seu espírito, e que esta precisa estar bem direcionada. Por isso que pedidos como o da salvação eterna, da santidade, da conquista de uma virtude, por exemplo a pureza, são os primeiros que ele deve formular ao Senhor, logo que acorda.

Depois disso, pode o católico pedir a Deus pelos bens materiais, sempre lembrando o que foi dito acima: é possível que, ao receber um bem material, o fiel se desvie e faça uso dele para o mal. Deus, que vê o passado, presente e futuro em apenas um só olhar, não o concede porque não quer nosso mal. Lembremos a frase do Evangelho: “Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11, 5-7).

Assim, a posição perfeita é a do pedido constante e da inteira submissão. As duas atitudes formam o arco gótico perfeito que tem como ponto auge a entrega perfeita nas mãos do Senhor. Afinal, Ele é nosso Pai Bondoso; como não pediríamos tudo a Ele?

Adendo: a perfeita entrega

No início do texto, lemos uma frase de São Luís comentando sobre a entrega perfeita, a doação total. Como funciona nesta situação? É aí que não devemos pedir nada a Deus?

Também não. São Luís explica que, na consagração a Nossa Senhora, é nosso dever entregar todo nosso ser à Rainha do Céu. Porém, esta entrega é de mão dupla: também é Nossa Senhora que se entrega a nós. Tudo que é nosso passa a ser d’Ela, e tudo o que é d’Ela passa a ser nosso, inclusive seu poder de intercessão e sua audiência santa diante do Trono de Deus.

Assim, nossos pedidos serão ouvidos por Deus como se fossem os próprios lábios santos da Virgem que os pronunciasse. Como o Divino Filho diria um não a sua Santíssima Mãe?

Entretanto, tal direito acarreta também um dever: se nosso pedido será como o de Nossa Senhora, nosso comportamento também deve ser. E Maria Santíssima dá testemunho de uma submissão completa nos Evangelhos: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a sua vontade”. (Lc 1, 37). Portanto, ao pedirmos por bens materiais, tenhamos uma profunda humildade de respeitar os tempos de Deus, e o que Ele pode, em sua Sabedoria, nos conceder ou não.

 
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