"Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou até lá para acordá-lo". (Jo 11,11). “E Jesus chorou”. (Jo 11, 35)
Meus Deus, quem seria tão querido a ponto de vos fazer chorar? Quem teria uma vida tão encantada a vossos olhos que Vós mesmos chorastes quando olhastes para o seu túmulo escuro, para a pedra sepulcral?
Chorastes pela vida de teu amigo. Chorastes ainda pelo símbolo do que seria vosso maior prodígio, mas também vosso atestado de morte. Pois quando o trouxeste de volta a vida, os maus decretaram: “ele precisa morrer”.
Assim, aquele que vos fez emocionar, derramar lágrimas, também tem uma participação na redenção que foi vossa missão. Se essa não é a maior das honras, já não sei qual é.
Esse homem era Lázaro.
Quem foi ele?
Lázaro era de uma das famílias mais ricas de toda Jerusalém. Hoje se sabe que suas posses eram extensas, e que cada filho da família ficou com pedaços da terra: Lázaro com os terrenos de Jerusalém, Marta com os campos de Betânia e Maria com as posses da região de Mágdala, por isso é chamada de Maria Madalena.
Nosso Senhor Jesus Cristo ia descansar de suas missões evangélicas na casa de Lázaro. Isto mostra que até os que possuem bens materiais podem entrar no reino dos Céus, desde que não sejam ricos de coração, ou seja, apegados e arrogantes.
Lázaro era, assim, o irmão mais velho e anfitrião das estadias de Jesus. Alguns dos episódios mais bonitos da história de Jesus se passam ou em sua casa ou em sua companhia, como quando Maria Madalena lava os pés do Mestre com suas lágrimas, ou quando Jesus prega a Marta e sua irmã sobre a ação e a contemplação.
A vida de São Lázaro, depois da ascensão de Jesus, não tem muita documentação. Alguns estudiosos levantam a possibilidade dele ter ido à Marselha, atual França, pois para lá se dirigiu sua irmã, Maria Madalena.
Mas a versão mais aceita é que ele foi ordenado bispo e partiu rumo a ilha de Chipre, evangelizar os povos antigos por lá. Foi achado seu túmulo na cidade de Lamaca, tendo sido transportado sua ossada para Síria no tempo ainda de Constantino.
Papel de Lázaro na história da Salvação
O santo amigo de Jesus teve uma oportunidade que quase ninguém na história possuiu: ter dois túmulos, morrer duas vezes. Isto foi porque sua primeira morte estava nos desígnios de Jesus, a sabedoria encarnada, e, como vimos, serviu para Nosso Senhor provar, uma última vez, sua divindade aos incrédulos judeus.
Também foi nessa ocasião que Santa Marta pode proclamar sua fé: “Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”. (Jo 11, 27).
A ressurreição de São Lázaro é icônica pois ele já havia morrido há quatro dias. O corpo já devia estar em estado de putrefação, é o que alerta Marta. Mas Nosso Senhor não quer saber disso, pede que tirem a pedra.
Assim, com sua voz portentosa, Lázaro obedece ao seu amigo, ao seu Mestre, e se levanta. Desvencilha-se de todas as faixas, vem caminhando como se acordasse de uma longa noite de sono.
Lázaro foi dócil em sua morte porque foi dócil em sua vida. Aquele que arrancou lágrimas de Deus é hoje festejado, pois não só foi um milagre de Jesus, mas sim um milagre constante de Deus na vida dos que evangelizou. São Lázaro, rogai por nós.
