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São Nicolau, o verdadeiro Papai Noel
 
AUTOR: PADRE ROHRBACHER
 
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A lenda de Santa Claus (Papai Noel em inglês), ao que tudo indica, teve sua origem em “Sankt Niklaus”, ou seja, São Nicolau de Mira.

Mas quem foi este maravilhoso Santo que recordamos no dia 6 de dezembro em meio aos preparativos das festividades natalinas? 

São Nicolau nasceu na Ásia Menor, pelo ano de 275, filho de pais ricos, mas com uma profunda vida de oração. Era ele bastante jovem quando perdeu os pais. Sentiu a perda grandemente, mas não foi obstáculo às virtudes. A morte do pai e da mãe, lhe legaram bens enormes, serviu para mais piedoso torná-lo, mas arredio e retirado, mais caridoso do que já era.

O presente de São Nicolau

Um dia, ao saber que um gentil-homem da cidade, pobre, muito pobre, estava a ponto de fazer prostituir as três filhas, porque não tinha nada de seu para casá-las, São Nicolau ficou tremendamente emocionado. Depois de pensar, esperou que a noite caísse, e, enchendo de moedas de ouro uma grande bolsa, saiu em demanda da casa do desolado pai. Então, quando percebeu que estava só, defronte à casa, diante duma janela providencialmente aberta, atirou a bolsa e deixou o local às carreiras, furtivamente, rente à parede das casas, para que a escuridão mais o ocultasse.

No dia seguinte, quando o gentil-homem deu a bolsa, febrilmente pôs-se a contar o dinheiro, certificando-se de que continha uma grande quantia. Dando graças a Deus, pode dotar a filha mais velha, procurando casá-la imediatamente, certo, de que a Providência se ocuparia de outras duas.

E assim foi, porque, logo na noite seguinte, o nosso bom santo arremessou pela janela outra bolsa, que continha a mesma soma da anterior.

O pai, no auge da alegria, pressentiu que quem assim fazia faria ainda uma terceira vez. E um grande desejo de conhecer o benfeitor o levou a emboscar-se, nem bem caíra a noite.

São NicolauSão Nicolau, de fato, com uma terceira bolsa, protegido pela escuridão, rumou para a casa do gentil-homem. E, nem sequer saíra ainda a bolsa no cômodo costumeiro, já era efusivamente abraçado pelo pai das três jovens que saíra da sombra de uma porta, onde se ocultara e tudo vira.

São Nicolau, surpreso e, ao mesmo tempo, grandemente constrangido por ver-se descoberto, calou, sem saber o que dizer. Afinal, recuperando-se, ordenou, com veemência:

– Isto deve ficar absolutamente em segredo – absolutamente!

O gentil-homem prometeu-lhe que assim seria, categoricamente. Mas, no dia seguinte, já de manhã, toda a cidade sabia, encantada, daquela liberalidade, daquela caridade imensa.

A escolha do novo Bispo de Mira

O bispo de Mira, tio de São Nicolau, conhecendo-lhe a grande piedade e a não menor sabedoria, apressou-se em fazê-lo padre. Tal dignidade deu um novo lustre à santidade de Nicolau, e o sacerdócio.

O tio, pronto para fazer uma viagem de devoção à terra santa, deixou a direção da diocese ao sobrinho. E Nicolau governou-a com tanta sabedoria e edificação geral, que todos passaram a desejá-lo para bispo.

Falecendo o tio pouco depois do regresso, Nicolau, que nada temia mais do que o episcopado, aproveitou para deixar o país e foi à Palestina.

Após visitar os lugares santos, retirou-se ele a uma caverna onde se diz que o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José, ao fugirem da Judéia, passaram uma noite, em demanda do Egito. Desejava ali ficar para o resto da vida, mas Deus deu-lhe a conhecer que devia retornar a Mira. E assim fez o Santo.

Chegando a Mira, enfurnou-se num mosteiro aspirando à obscuridade, para dar-se aos exercícios da mais austera penitência.

São Nicolau foi o eleito de Deus

No entanto, o bispo João, que sucedera ao tio de Nicolau, vinha a falecer. Os bispos da província reuniram-se em Mira para dar à Igreja um novo bispo. A escolha ia difícil, não se chegava a um acordo, quando um dos mais veneráveis da

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São Nicolau ressuscita a
criança de Bon Boullogne,
Óleo sobre tela,Musée
Ingres Montauban

assembléia por um movimento do Espírito Santo, disse que Deus desejava que se escolhesse para bispo de Mira o santo homem que primeiro entrasse na igreja para orar, no dia seguinte.

São Nicolau foi o eleito de Deus, porque, sem nada saber do que se passava, certo dia, que era o que o velho bispo dissera, saiu do mosteiro, o que raramente fazia, para rezar na igreja.

Todos ficaram agradavelmente surpresos quando viram que era Nicolau aquele que devia preencher a vaga deixada pelo bispo morto.

Bem que o Santo quis fugir, mas não houve alternativa, e foi, em meio à ruidosa alegria do povo e do clero, sagrado bispo.

Um grande milagre

Nem bem findara a cerimônia, e uma mulher, saindo do meio da multidão, carregando um menino nos braços, chegou até o novo bispo e se lhe atirou aos pés, a suplicar:

– Daí vida ao meu filhinho! Meu filhinho caiu no fogo e não suportou as horríveis queimaduras! Morreu! Vêde, pobrezinho, todo queimado e morto! Tende pena de mim! Dai-lhe a vida!

São Nicolau, emocionado, sentindo as dores daquela mãe alucinada, levantou-se, fez o sinal da cruz sobre o corpinho morto e ressuscitou-o na presença de toda a gente e dos prelados.

Zelo apostólico

Elevado ao episcopado, preparou-se para cumprir todos os deveres que se lhe impunham, e conquistar na perfeição todas as virtudes dum santo bispo. Passava quase toda a noite ao pé dos altares a pedir por si e pelo povo. Quando rezava a missa, um clarão lhe iluminava o rosto, tão repleto lhe estava o coração dum fogo sagrado. O fervor crescia-lhe dia a dia, e a solicitude pastoral estendia-se por todas as necessidades do povo.

O número de milagres, que Deus se dignou fazer por sua intercessão, é prodigioso: é com razão que é chamado o taumaturgo do seu século. Tantas maravilhas tornaram o nome de Nicolau célebre por todo o Universo.

A despedida de São Nicolau

Quis o Senhor, então, recompensar todos os trabalhos do servidor fiel, e deu-lhe a conhecer o dia e a hora da morte. Ta revelação o encheu de alegria pouco conhecida dos homens.

Depois de ter dito adeus ao povo, ao fim duma missa pontifical, retirou-se São Nicolau ao mosteiro de Sião. Ali, depois de curta enfermidade, administrados que lhe foram os últimos sacramentos, entregou a santa alma a Deus. Era a 6 de Dezembro de 327. Ignora-se-lhe a idade. Enterrado na igreja do mosteiro, do túmulo logo principiou a correr líquido miraculoso, que tinha a virtude de curar todas as doenças.

Erigida em sua honra uma soberba igreja por Justiniano, reparou-a Basílio com magnificência, em 1087.

Pilhando os turcos toda a Síria, o corpo foi transportado para Bari, na Apúlia, Itália, onde se conservou com grande veneração numa igreja magnífica em que o túmulo veio a ser dos mais célebres pelo número de milagres prodigiosos que se deram.

(Livro Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XXI, pgs. 56 à 66 – os subtítulos são nossos)

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