São Roque González e seus companheiros mártires cometeram o pior dos crimes: andaram por todo o lugar fazendo o bem. O mesmo crime que outro homem havia cometido anos antes, na Judeia, que lhe valeu uma Cruz e a morte ignominiosa entre dois ladrões.
O mundo desdenha dos justos, mas estes estão em um lugar melhor: é Deus mesmo que lhes sustenta e ampara.
Os padres jesuítas Roque González, Alonso Rodríguez e Juan del Castillo, todos herdeiros de colonos espanhóis, mas já filhos desta terra abençoada, a América Latina, cresceram na fé cristã, ministrada por seus pais, ainda em seus lares.
São Roque nasce em 1576; seus companheiros tem datas incertas, mas se sabe que tinham mais ou menos a mesma idade.
Já cedo, o jovem paraguaio Roque toma o hábito jesuíta e tem certeza de sua vocação: cuidar da evangelização dos indígenas.
Como faria ele? Através das reduções jesuíticas, que consistiam em acampamentos onde os padres ensinavam as letras, as artes, cuidavam de que os índios mantivessem sua cultura sadia e passavam-lhes princípios cristãos. Além disso, também vigiavam para que nenhum colono mal-intencionado os fizesse de escravos.
Mesmo Voltaire, inimigo declarado da fé, chegou a afirmar das reduções jesuíticas: “Nessas missões, o direito era respeitado, a moral era pura, um sentimento fraterno favorável unia as pessoas, as artes úteis e até mesmo uma ciência bem adequada às circunstâncias locais florescia, e havia prosperidade e abundância em toda a parte e em todos os sentidos”.
A inveja, porém, corroeu os corações dos maus, dos ingratos, dos bárbaros. Uma tribo vizinha, instigada por um feiticeiro, que estava envolvido em negócios com maus colonos, invadiu a redução de Caaró, onde estavam os padres Roque e Alonso.
São Roque González não reagiu, mal teve tempo para se defender. Não o faria, não o sabia, mesmo que pudesse. Atingiram-lhe por detrás, talvez com medo de ver a censura nos olhos do jovem padre. Com uma machadinha, os maus ceifaram a vida do padre paraguaio.
Segundo testemunhas que presenciaram a cena, uma voz pareceu se fazer ouvir: “Matastes a quem tanto vos amava e queria. Matastes, porém, só o meu corpo, porque minha alma está no Céu!”
O Padre Alonso, ouvindo os ruídos de guerra, veio ver o que acontecia. Tendo presenciado a morte de seu amigo, de seu irmão, exclamou: “O que estais fazendo, meus filhos?" Mesmo na morte, a bondade de pai daquele que apenas desejava o bem.
Nos dias seguintes as outras reduções foram também invadidas, e o Padre Juan foi espancado e apedrejado selvagemente, recebendo a coroa do martírio como São Roque González e Santo Alonso, seus irmãos de hábito. Era o ano 1628, dia 15 de novembro.
A canonização dos três companheiros demorou mais de quatro séculos. O testemunho dos índios que os veneravam e queriam ficou perdido por um bom tempo, mas, encontrados, serviram de base para que o Santo Padre João Paulo II, na visita ao Paraguai, os consagrasse como santos.
Até hoje, na capela de São Roque, em Assunção, capital paraguaia, está o coração do jovem missionário mártir, preservado mesmo tendo sido tacado às chamas.
Os ímpios pensaram que tinham vencido os justos, mas suas vidas, como a daquele Homem de Jerusalém que foi morto apenas por ter feito o bem, estão asseguradas por Deus: na glória do Céu, hoje, nossos irmãos latino-americanos estão eternamente felizes.