São Zacarias e Santa Isabel se definem pela sua altíssima missão. Sua história os guia para isso: desde a esterilidade da mulher até a mudez do homem, os empecilhos são colocados apenas para que a fé deles e o poder de Deus os transpasse.
São Zacarias vê o anjo que anuncia que seria pai, mesmo em idade tão avançada. Ele duvida: “Como pode minha mulher dar à luz sendo estéril?” Diferente daquela Virgem, toda Ela santíssima, que, há quilômetros de distância, recebe o mesmo anjo em visita, mas que responde: “Faça-se em mim segundo a palavra do Senhor”.
Zacarias, por que duvidas? Não é o Senhor, a quem veneras como sacerdote em função naquele ano, o Todo-poderoso, aquele que mede as montanhas com o seu palmo e segura os oceanos em seus limites?
Mas a sua mudez, Zacarias, é a voz da promessa de Deus. Quando Santa Isabel vê sua condição, quando ela próprio é provada pelo anúncio do Senhor de Israel, ela crê e aceita.
E de seu ventre que mesmo em 100 anos não pudera receber o dom da vida, faz-se um menino. Desse pequenino, Jesus, o Salvador, dirá um dia: “Entre os nascidos de mulher, nem um é tão grande como João, o Batista”.
A tua promessa, portanto, Isabel feliz, é equiparada a de Maria, tua prima. Como providencial foi a vinda do Cristo menino, assim também foi especial a vinda de João menino. Ele tem a vocação de aplainar os caminhos do Senhor, abater as montanhas do orgulho e as estradas poluídas dos corações duros.
A história de São Zacarias e Santa Isabel se perde nas brumas dos tempos. Os dados que temos são do Evangelho de São Lucas, que como sabemos, não deu conta de escrever tudo o que, em seus menores detalhes, aconteceu.
Mas podemos imaginar Santa Isabel, firme, decidida, compenetrada nas funções de casa, a esposa de um sacerdote do templo do Senhor Deus. Talvez aguardando à soleira da porta a chegada do seu marido, num dia particularmente quente, mas que tinha algo de agradável: uma brisa calma e refrescante que soprava.
Ela pensava nas promessas de Deus. Desde Sara, a primeira, a mãe do povo de Israel, passando pela austera Manué, a mãe do implacável Salomão, até a mãe do juiz e justo Samuel, Ana, a estéril, que concebeu ela também na velhice. Mulheres unidas pelos séculos e pela mesma fé, pois todas esperavam a realização da maior dádiva: a vinda do Emanuel, o Deus conosco.
Então Isabel entristecia-se. Como ela participaria da promessa, da linhagem do salvador, se ela próprio não tinha um rebento?
Quiçá ouvia ela então, da brisa, um murmúrio: “Eu estou contigo”. E, talvez de joelhos, talvez apoiada mesmo na porta da simples casa, Isabel exalava: “Eu creio no Senhor que não abandona os desamparados. Quando o Senhor visitar nossos cativos, exultaremos de alegria”.
E, lá longe, caminhando em silêncio, não só pela condição imposta, mas para meditar melhor nas palavras ouvidas do anjo, vinha Zacarias. Como contaria ele para sua mulher a promessa recebida?
Não foi preciso. Talvez tenha sido uma expressão de fisionomia, um gesto vagaroso, um olhar profundo, mas Isabel entendeu tudo.
De fato, o Senhor visitara os que n’Ele esperavam, acolhera em sua promessa a São Zacarias e Santa Isabel
Tudo teria se dado assim? Não sei. Espero que um dia, eu e você, caro leitor, possamos desvendar juntos, no Reino dos Céus.