Nossa Senhora, a Mãe de Deus, morreu da morte de seu Filho. A razão fundamental é que Ela não tinha senão uma mesma vida com Ele, e por isso não podia ter diferente morte.
E seu Filho, de que morreu? Já vos direi. “O amor tem tanta força como a morte”, exclama o Esposo no Cântico dos Cânticos.
Morreu de amor o Salvador de nossas almas; nada pôde [contra Ele] a morte, tudo fez o amor, forte como ela.
Sendo, pois, que o Filho morreu de amor e a Mãe morreu da morte de seu Filho, não se duvidará de que a Mãe morreu de amor. Já disse que Ela foi ferida de amor no Calvário, quando viu morrer o Filho. Desde então o amor Lhe deu tais assaltos, sentiu Ela em si tais desmaios, que foi impossível impedir que sua ferida se tornasse mortal.
Oh! paixão de amor! Oh! amor de paixão! Se seu Filho estava no Céu, seu coração já não estava n’Ela. Estava naquele corpo que Ela amava tanto, ossos de seus ossos, carne de sua carne, e ao Céu voava aquela águia santa. Seu coração, sua alma, sua vida, tudo estava no Céu: por que haviam de ficar aqui na Terra?
Finalmente, após tantos vôos espirituais, tantos arrebatamentos e tantos êxtases, aquele castelo santo de pureza e humildade rendeu-se ao último assalto do amor, depois de haver resistido a tantos. O amor A venceu, e consigo levou sua benditíssima alma.
(Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2005, n. 44, p. 02)