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Virgem Maria


Nossa Senhora do Bom Sucesso: imagem feita por Anjos
 
AUTOR: PE. RICARDO ALBERTO DEL CAMPO BESA, EP
 
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Difícil é encontrar no mundo uma imagem tão bela, viva e cheia de simbolismo como a de Nossa Senhora do Bom Sucesso. E não é por acaso. Para entender por que ela atrai, consola e afaga tão poderosamente, conheçamos melhor a sua história.

A origem da Imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi assim: Era meia-noite no Mosteiro Real da Imaculada Conceição, de Quito, Equador, o silêncio foi rompido pelas doze badaladas do relógio que assinalaram o início do dia 2 de fevereiro de 1594. Pouco depois entrava na capela a jovem priora, Madre Mariana de Jesus Torres.1

Com o coração repleto de amarguras, vinha implorar ao Divino Redentor, por intercessão de sua Mãe Santíssima, a solução dos problemas que dificultavam a evangelização naquelas terras: maus exemplos dados por alguns sacerdotes e religiosos indignos, injustificáveis desmandos das autoridades eclesiásticas e civis, tudo agravado por manifestações de desobediência no seu próprio convento.

Sou Maria do Bom Sucesso, a Rainha do Céu e da terra

Prosternada com a fronte no duro piso de pedra, orava com fervor, quando uma doce voz interrompeu sua prece, chamando-a pelo nome:

— Mariana, minha filha!

Levantou-se logo e viu diante de si uma belíssima Senhora, resplendente de luz, que sustinha no braço esquerdo o Menino Jesus e empunhava na mão direita um báculo de ouro, adornado de pedras preciosas.

— Formosa Senhora, quem sois e o que desejais? – perguntou ela, transbordante de felicidade.

— Sou Maria do Bom Sucesso, a Rainha do Céu e da terra. Vim consolar teu coração aflito. Empunho no braço direito o báculo, pois quero Eu mesma governar este meu mosteiro, como Priora e Madre.

Durou cerca de duas horas o colóquio da humilde freira com a celestial Visitante. Quando esta Se retirou, apenas a bruxuleante luz da candeia iluminava a capela, mas Madre Mariana sentia-se tão fortalecida quanto desejosa de lutar e sofrer por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Meu Filho quer que mandes fazer uma imagem minha”

E não lhe faltaram sofrimentos nem provações! Cinco anos depois, na madrugada de 16 de janeiro de 1599, apareceu-lhe de novo a Virgem Santíssima para reconfortá-la. Comunicou-lhe os desígnios de Deus sobre aquele mosteiro, fez proféticas revelações a respeito do futuro do Equador e das perseguições que ali sofreriam as comunidades religiosas, e acrescentou:

— Por isto quer meu Filho Santíssimo que mandes executar uma imagem minha, tal como Me vês, e a disponhas sobre a estala da priora, para daí Eu governar meu mosteiro. Colocarás em minha mão direita o báculo e as chaves da clausura, em sinal de propriedade e autoridade; na esquerda porás o Menino Jesus: primeiro, a fim de que os mortais entendam o quanto sou poderosa para aplacar a justiça divina e alcançar perdão para todo pecador que a Mim recorra com coração contrito; em segundo lugar, para minhas filhas compreenderem que lhes mostro e apresento meu Filho Santíssimo como modelo de perfeição religiosa. Venham elas a Mim, Eu as conduzirei a Ele.

“Nenhum outro escultor será digno desta graça”

A religiosa ponderou com timidez:

— Linda Senhora, vossa formosura me encanta. Oh, se me fosse dado deixar a desditosa terra e elevar-me convosco ao Céu! Mas permita-me dizer que nenhuma pessoa humana, mesmo a mais entendida na arte da escultura, poderá esculpir em madeira vossa encantadora imagem, tal como me pedis. Enviai para isto o meu Seráfico Pai, para ele executar essa obra em madeira seleta, tendo como oficiais os Anjos do Céu, pois eu não saberei me explicar, e menos ainda saberei informar vossa estatura.

— Nada te atemorize, minha filha – replicou a Virgem Santa –, atenderei ao teu pedido. Quanto à minha altura, mede-a tu mesma com o seráfico cordão que trazes à cintura.

A jovem priora fez uma reverente objeção:

— Formosa Senhora, minha Mãe querida, como me atreveria eu a tocar vossa fronte divina, quando nem os espíritos angélicos podem fazê- -lo? Vós sois a Arca viva da Aliança entre os pobres mortais e Deus; e se Oza caiu morto só pelo fato de ter sustentado a Arca santa para evitar que ela tombasse ao solo (cf. II Sm 6, 6-7), quanto mais eu, pobre e débil mulher!…

— Alegra-Me teu humilde temor e vejo teu ardente amor à tua Mãe do Céu. Traze e põe em minha mão direita o teu cordão e toca em meus pés a outra extremidade.

Cheia de júbilo, amor e reverência, Madre Mariana fez o que lhe ordenava Maria Santíssima, e esta prosseguiu:

— Aí está, minha filha, a medida de tua Mãe do Céu. Entrega-a ao meu servo Francisco del Castillo, explicando-lhe minhas feições e minha postura; ele trabalhará exteriormente minha imagem, pois tem consciência delicada e observa com exatidão os Mandamentos de Deus e da Igreja; nenhum outro escultor será digno desta graça. Ajuda-o com tuas orações e teu humilde sofrimento.

“Colocarás em
minha mão direita
o báculo e as chaves
da clausura, em
sinal de propriedade
e autoridade”

“Recorrendo a Mim, elas aplacarão a ira divina”

Em outra aparição, na mesma hora das anteriores, isto é, pouco após as doze badaladas da meia-noite, a Virgem Mãe de Deus prenunciou uma época calamitosa para a Igreja no Equador, tempos nos quais quase não se encontraria inocência nas crianças, nem pudor nas mulheres, e acrescentou:

— Com isto sofrerão tuas sucessoras; elas aplacarão a ira divina, recorrendo a Mim sob a invocação do Bom Sucesso, cuja imagem te peço e ordeno que mandes executar para consolo e sustento de meu mosteiro e dos fiéis daqueles tempos. Esta devoção será o para-raios colocado entre a justiça divina e o mundo prevaricador. Hoje mesmo, quando amanhecer, irás ter com o Bispo e lhe dirás que Eu te pedi e mandei fazer esculpir minha imagem para ser colocada à testa de minha comunidade, a fim de tomar posse completa daquilo que a tantos títulos Me pertence. Ele deverá consagrá-la com o óleo sagrado e pôr-lhe o nome de Maria do Bom Sucesso da Purificação ou Candelária.

E insistiu:

— Agora é preciso que mandes executar com toda presteza a minha santa imagem, tal qual Me vês, e te apresses a colocá-la no local por Mim indicado.

“A perfeição da obra corre por minha conta”

A humilde religiosa repetiu a mesma tímida objeção feita cinco anos antes:

— Bela Senhora e querida Mãe de minha alma, a insignificante formiguinha que tendes em vossa presença não poderá descrever a nenhum artista vossas belas feições, vossa formosura, nem vossa estatura; não tenho palavras para explicar, e não há na terra ninguém capaz de fazer a obra que me solicitais.

— Nada disto te preocupe, filha querida. A perfeição da obra corre por minha conta. Gabriel, Miguel e Rafael tomarão a seu cargo secretamente a fabricação de minha imagem. Deverás chamar Francisco del Castillo, que entende de arte, e dar- -lhe uma sucinta descrição de minhas feições, exatamente como Me viste, pois com esta finalidade apareci tantas vezes a ti. 

E pela segunda vez a Virgem Santa ordenou-lhe medir sua altura:

— Quanto à minha estatura, traze o cordão que te cinge e mede-Me sem temor, pois a uma Mãe como Eu agrada a confiança respeitosa e humilde de suas filhas.

— Rainha do Céu e Mãe querida, eis aqui o cordão para Vos medir. Quem o sustentará em vossa formosa fronte, ornada por essa linda coroa, com a qual Vos coroou a Santíssima Trindade? Eu não me atrevo a fazê-lo, nem, aliás, conseguiria com minha pequena altura.

— Filha querida, põe na minha mão uma das pontas do cordão e Eu o colocarei na minha fronte, enquanto tu encostarás a outra no meu pé direito.

Nossa Senhora tomou então uma das extremidades do cordão e a encostou em sua fronte, deixando à enlevada monja o encargo de pôr a outra na ponta de seu pé direito. O cordão era um pouco curto, mas esticou-se milagrosamente, como elástico, até atingir a estatura da celestial Dama.

Feições semelhantes às da Mãe que está nos Céus

“Hoje mesmo, quando amanhecer, irás ter com o Bispo”, ordenara a Virgem Santíssima. Madre Mariana, porém, antevendo diversos obstáculos, ia adiando o cumprimento da ordem recebida. Doze dias depois, Ela lhe apareceu de novo, resplendente de luz como sempre, mas desta vez silenciosa e olhando-a com amável severidade.

Depois de ouvir uma maternal advertência, seguida de explicações que desfizeram todos os seus temores, respondeu a religiosa:

— Bela Senhora, justa é vossa repreensão. Peço-Vos perdão e misericórdia, e prometo emendar-me. Hoje mesmo falarei com o Bispo para dar início à execução de vossa imagem.

De fato, nesse mesmo dia expôs a Dom Salvador de Ribera a ordem recebida da Rainha do Céu. Este ouviu com atenção o relato da santa priora, pôs à prova sua objetividade, por meio de muitas perguntas capciosas, e, por fim, deu inteira aprovação ao projeto; comprometeu-se inclusive a ajudar em tudo quanto fosse necessário à sua pronta realização.

Apressou-se então Madre Mariana em contratar o escultor Francisco del Castillo. Disse-lhe ela:

— Como o senhor é, antes de tudo, bom católico, e também hábil escultor, quero confiar-lhe uma obra muito especial, a ser executada com todo esmero: esculpir uma imagem da Virgem Maria, a qual deverá ter feições celestiais, semelhantes às de nossa Santíssima Mãe que está nos Céus em corpo e alma; dar-lhe- -ei a medida, pois a estátua precisa ter a estatura exata de nossa celestial Rainha.

Francisco del Castillo recebeu essa incumbência como uma insigne graça de Nossa Senhora e recusou categoricamente qualquer pagamento por seus serviços. Gastou vários dias procurando em Quito e nos arredores a melhor madeira, e logo pôs mãos à obra. Trabalhava com tanto amor, e sentia tamanha consolação, que não conseguia conter as lágrimas.

Logo surgiram doadores para três importantes peças de ourivesaria: as chaves de prata, a coroa e o báculo. A pedido das freiras, o escultor fazia todo o serviço, não no seu ateliê, mas no coro alto do mosteiro.

Do rosto de Nossa Senhora do Bom Sucesso partiam raios de luz

Marcara-se para o dia 2 de fevereiro de 1611 a solene bênção litúrgica da imagem sagrada. Três semanas antes desse prazo, faltava apenas um “pequeno” detalhe: dar ao rosto um colorido digno da face da Santa Virgem das Virgens. Decidiu o mestre del Castillo fazer uma pesquisa à procura das melhores tintas; partiu com esse objetivo, prometendo estar de volta no dia 16 de janeiro para executar a delicada operação, de longe a mais importante de sua obra.

A imagem precisava ter a estatura
exata de nossa celestial Rainha

Madre Mariana medindo com o
seráfico cordão a altura de
Nossa Senhora – Mosteiro Real da
Imaculada Conceição, Quito

Grande era a expectativa das religiosas quando, no alvorecer do dia 16, dirigiam- -se à capela para, como de costume, louvar Nossa Senhora com o cântico do Pequeno Ofício. Ao se aproximarem do coro alto, ouviram melodiosas harmonias que as deixaram cheias de emoção. Entraram pressurosas e – oh, maravilha! –, uma luz celeste inundava todo o recinto, no qual ressoavam arrebatadoras vozes de Anjos que cantavam o hino Salve Sancta Parens (Salve, Santa Mãe).

Aí se deram conta do portentoso fato: a imagem estava milagrosamente concluída!

Transbordantes de enlevo, contemplavam aquele celestial rosto, do qual partiam raios que iluminavam toda a igreja. Aureolada por essa vivíssima luz, a fisionomia da santa imagem se mostrava majestosa, serena, doce, amável e atraente, como que convidando suas filhas a se achegarem com confiança e dar-lhe um filial abraço de júbilo e de boas-vindas. O semblante do Menino Jesus exprimia amor e ternura para com aquelas suas esposas tão estimadas por Ele e por sua Mãe. Nesse dia, todas progrediram na vida espiritual. Compreendendo melhor a própria vocação, amavam mais o seu Divino Esposo e se empenhavam no cumprimento exato da regra e dos deveres particulares.

Nada nela foi feito por mãos humanas na imagem do Bom Sucesso

Na hora combinada, chegou Francisco de Castillo, feliz por ter encontrado tintas excelentes para dar o acabamento à obra escultural. Sem nada dizer-lhe do ocorrido, Madre Mariana e algumas outras monjas o acompanharam ao coro alto. Impossível descrever a surpresa e a emoção do piedoso artista.

— Madres, que vejo? Esta primorosa imagem não é obra minha! Não sei o que sente o meu coração, mas esta é uma obra angélica. Escultor algum, por mais hábil que seja, jamais poderá sequer imitar tanta perfeição e tão peregrina beleza!

Isto dizendo, caiu de joelhos aos pés da santa imagem do Bom Sucesso e desafogou seu coração, deixando jorrar dos olhos lágrimas em superabundância. Levantou-se em seguida e lavrou um documento, declarando sob juramento: primeiro, que aquela imagem do Bom Sucesso não era obra sua, mas dos Anjos, pois não era a escultura deixada por ele seis dias antes no coro superior do mosteiro; segundo, que em sua já longa vida de sessenta e sete anos, nunca havia visto, nem sequer na Espanha, cor de pele igual àquela.

Não contente com isto, partiu sem tardança à procura do Bispo Dom Salvador de Ribera, ao qual fez um detalhado relato do acontecido, reafirmando que naquela imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso nada era obra de suas mãos: nem a escultura nem, muito menos ainda, a pintura e a cor da pele.

Ficou, assim, bem documentado que a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso foi de fato executada pelos Anjos. A Virgem do Bom Sucesso cumpriu à risca a promessa feita a Madre Mariana: “A perfeição da obra corre por minha conta. Gabriel, Miguel e Rafael tomarão a seu cargo secretamente a fabricação de minha imagem”. (Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2019, n. 206, p. 18-21)

1 Para a elaboração do presente relato foram selecionados e harmonizados diversos episódios narrados em: SOUSA PEREIRA, OFM, Manuel. Vida admirable de la Madre Mariana de Jesús Torres y Berriochoa. Quito: Fundación Jesús de la Misericordia, 2008, t.I, p.115-163.

 
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