Haverá alguém que nunca tenha se sentido aflito em horas de dificuldades ou na perspectiva de alguma tragédia? Ou que jamais tenha tido necessidade de uma ajuda, seja ela espiritual, psicológica, afetiva ou material? Com toda certeza, não, pois o ser humano, longe de ser autossuficiente, é contingente por natureza: não tem condições de viver sem apoio de seus semelhantes, muito menos sem a contínua sustentação de Deus, Criador do universo. Para esse estado de carência inevitável, Deus nos oferece uma solução infalível: o recurso à sua e nossa Mãe. Daí ser muito apropriado o título de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, com o qual se patenteia a certeza do auxílio que Ela nos dá quando a Ela recorremos.
“Perpétuo Socorro” indica uma fonte de misericórdias que nunca se esgota, jamais se interrompe. “Nunca” significa em nenhum tempo, nenhum lugar, nenhuma circunstância. Por pior que seja a situação, por mais graves e numerosos que sejam nossos pecados, a Virgem Maria quer manter-nos continuamente sob sua insondável proteção e celestial amparo.
O milagroso ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro mede 53 por 41,5 centímetros. É uma pintura de estilo bizantino, executada em madeira sobre fundo dourado, cor muito usada pelos artistas no antigo Império Romano quando se tratava de retratar grandes personalidades. O ouro, no caso, é um expressivo símbolo da glória da Rainha dos Céus. Mais do que um simples retrato de Maria, a pintura reproduz uma cena.
A Virgem Mãe segura com desvelo, afeto e adoração o Menino-Deus; seu olhar, porém, não está voltado para Ele, mas para nós, seus filhos adotivos. Jesus não olha nem para sua Mãe nem para nós, mas parece querer abarcar com seu olhar divino os dois anjos que seguram os instrumentos da Paixão: à esquerda, São Miguel, de manto verde, com a lança e a esponja de fel; à direita, São Gabriel, de manto lilás, com a cruz e os cravos que perfuraram pés e mãos do Redentor.
Pormenor altamente expressivo é a sandália pendente do pé direito do Menino Jesus, segura por um fio, quase caindo. Ela é bem o símbolo da situação da alma em estado de pecado mortal: presa a Jesus por um fio, a devoção a Nossa Senhora.
Sob o manto azul, Maria veste uma túnica vermelha. Nos primórdios do Cristianismo, as virgens se distinguiam pela cor azul, símbolo da pureza, e as mães pela cor vermelha, signo da caridade. Essa combinação cromática define, pois, excelentemente Nossa Senhora, Virgem e Mãe. Nota-se também o verde no forro de seu manto. Ora, a composição dessas três cores era de uso exclusivo da realeza. Assim, a dignidade régia da Rainha dos Anjos e dos Santos está bem representada em suas vestimentas.
Bem no alto do quadro, metade em cada lado, estão escritas, em letras gregas, as iniciais da expressão “Mãe de Deus”; ao lado da cabeça do Menino Jesus, as iniciais de “Jesus Cristo”; acima do anjo da esquerda, “Arcanjo Miguel”; e do anjo da direita, “Arcanjo Gabriel”.
Revista Arautos do Evangelho, Jun/2006, n. 54, p. 36 à 39.