Dotada de grande inteligência e beleza, nasceu Catarina em 1347, na cidade de Sena, numa época em que a Península Itálica passava por grandes conturbações, não só no campo político, mas também no religioso.
Catarina foi a penúltima dos 25 filhos do casal Benincasa. Porém, com a morte de sua irmã mais nova, acabou assumindo a posição de caçula e filha predileta da família.
Seu pai era um simples tintureiro, mas – homem hábil e enérgico, reto e de grande reputação nas redondezas – bem sucedido na sua profissão.
Essa menina privilegiada recebeu de seus pais e irmãos uma primorosa educação, mas uma reduzida instrução escolar, pois somente aos 30 anos aprendeu a ler e escrever, segundo consta, de maneira miraculosa.
Desde criança, foi favorecida pelo Esposo das Virgens com dons místicos extraordinários.
Núpcias espirituais
Dos 17 aos 20 anos de idade, Catarina passou reclusa em sua cela. Orava e jejuava, aprendendo os segredos de Deus e penetrando em suas maravilhas.
No ano de 1367, véspera da Quarta-Feira de Cinzas, Nosso Senhor apareceu à Santa desposando-a em núpcias místicas. Após colocar-lhe como sinal um anel de ouro no dedo, ordenou-lhe que fosse juntar-se à família. Queria Ele fazer dela um apóstolo.
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Começava para nossa Santa nova fase de sua curta vida. Iniciou seu apostolado socorrendo os pobres e enfermos. Não havia quem não a conhecesse em Sena. Também ninguém que viesse pedir-lhe auxílio e não fosse prontamente atendido.
Uma terrível peste avassalou o país em 1374. Catarina, com generosidade heróica, dedicou-se como nunca a prestar assistência às vítimas do flagelo. Cuidou dos corpos enfermos, mas sobretudo tratou das almas, conseguindo conquistar muitas delas para o Céu. Curava doentes, convertia pecadores impenitentes pela força de sua oração e expulsava demônios com uma só palavra de sua boca.
Muito mais importante, porém, foi a atuação de Santa Catarina naquele conturbado mundo político de fins da Idade Média. Em torno dos Estados Pontifícios, agrupavam-se pequenos reinos, além de várias cidades que constituíam Estados soberanos. A todo momento nasciam novos conflitos, ou recrudesciam antigos. Sem falar nas “guerras privadas” de facções familiares dentro de uma mesma cidade. Muito pior, revoltas de muitas dessas cidades contra o Papa. Este defende-se, fulminando com sentença de interdito algumas delas. Novas revoltas, um verdadeiro caos!
Contando só com a força que seu Divino Esposo prometera que nunca lhe faltaria – e efetivamente nunca faltou! -, Santa Catarina foi chamada a intervir em numerosos desses conflitos. Viajando quase incessantemente de cidade em cidade, exerceu um importante papel de pacificadora. Seu principal empenho tinha como meta a glória de Deus e a defesa do Papado e dos Estados Pontifícios.
Toda essa intensa atividade de Santa Catarina foi, sem dúvida, de grande benefício para a Igreja e a Cristandade. Mas não passa de um simples degrau para aquilo que constitui sua grande missão pública. Sua maior luta foi trazer de volta a Roma a sede do Papado.
Forçado por injunções políticas ocasionais, o Papa Clemente V, ex-Arcebispo de Bordeaux, transferira em 1309 a Sé Pontifícia de Roma para a cidade francesa de Avignon. Em termos concretos, este fato submeteu os Sucessores de Pedro ao jogo das ambições e das corrupções de reis, príncipes e outros governantes terrenos e, infelizmente, mesmo de altas personalidades eclesiásticas indignas de seus cargos. Tudo isto com enormes prejuízos para o governo da Igreja e a salvação das almas.
Sem nunca exceder sua humilde condição de simples leiga de uma Ordem Terceira, Santa Catarina admoestava com ousadia e serenidade, “em nome de Cristo”, os grandes deste mundo, não apenas autoridades temporais, mas inclusive os cardeais da Corte Pontifícia de Avignon. E concorreu poderosamente para que o Papa enfrentasse a oposição do Rei de França. Assim, ficou restabelecida na Cidade Eterna o governo do mundo cristão.
Mas Gregório XI faleceu no ano seguinte, sendo sucedido por Urbano VI. Todavia, um grupo de Cardeais, sob pretextos falaciosos, se revoltou contra ele. Então, voltaram eles para Avignon, declararam nula a eleição do Papa legítimo. Em seguida, elegeram um antipapa, o qual tomou o nome de Clemente VII.
Nasceu assim o chamado Grande Cisma do Ocidente, durante o qual Santa Catarina foi a paladina e a coluna de sustentação do verdadeiro Papa, por ela cognominado de “o doce Cristo na Terra”.
Entretanto, “o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes” – afirma São Paulo (1 Cor 1, 27). Assim sendo, a humilde filha do tintureiro Benincasa empreendeu inúmeras viagens para resolver complicadas questões; foi dessa forma conselheira de reis, príncipes, bispos e até mesmo de Papas. Ademais, iluminada pelo Espírito Santo, fortalecida pela graça do Deus Crucificado, fez tudo quanto pôde para defender a unidade da Igreja.
Assim, com apenas 33 anos, partiu para a eternidade a 29 de abril de 1380. Contudo, deixou uma plêiade de discípulos e um exemplo de vida e uma obra escrita composta de 381 cartas, 26 orações e o livro “O diálogo”, no qual descreve todo o seu método de apostolado e vida interior, chamado pela Igreja como “livro da doutrina divina”.
Afinal, por seus ensinamentos cheios de sabedoria, foi honrada pelo Papa Paulo VI com o título de Doutora da Igreja.
Que o exemplo de Santa Catarina de Sena penetre em nossas almas. Que a força desse mesmo fogo de seu coração nos traga sobretudo a fidelidade plena e íntegra à Santa Igreja. (Santos Comentados por Mons. João Clá Dias, EP)