Já nos primórdios do Antigo Testamento, há uma insistência na figura do rebanho e do pastor, desde a família de Adão (Gn 4, 2.4.20), na pessoa de Abraão (Gn 12, 16), de Lot (Gn 13, 5), e do próprio rei Davi (I Sm 17, 34-35).
Aos poucos, na condução do rebanho, o pastor vai se tornando símbolo dos guias do povo de Deus, a ponto de a Escritura referir- se a eles com estas palavras: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria” (Jr 3, 15).
Porém, a figura do Pastor toma a plenitude de seu significado no Ser por excelência, o próprio Deus: “Eis o que diz o Senhor Javé: vou castigar esses pastores, vou reclamar deles as minhas ovelhas, vou tirar deles a guarda do rebanho, de modo que não mais possam fartar a si mesmos; arrancarei minhas ovelhas da sua goela, de modo que não mais poderão devorá-las. Pois eis o que diz o Senhor Javé: vou tomar Eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas.” (Ez 34, 10-11)
Por fim, apareceria nos céus da História o Pastor arquetípico, o Bom Pastor: “Eu irei em socorro de minhas ovelhas para poupá-las de serem atiradas à pilhagem; e julgarei entre ovelha e ovelha. Para pastoreá-las suscitarei um só pastor […]. Será ele quem as conduzirá à pastagem e lhes servirá de pastor” (Ez 34, 22-23).
Contudo, Jesus é o Pastor que deu a vida por seu rebanho; ademais, está sempre disposto a ir atrás da ovelha perdida e, encontrando-a, retornar alegre e feliz com ela sobre os ombros.
Quem alguma vez não se sentiu ovelha desgarrada, e nos ombros de Jesus sendo reconduzida ao aprisco?
É nesta perspectiva que se insere o Evangelho do 4º Domingo da Páscoa.
As palavras pronunciadas por Jesus se prendem a um episódio antecedente, denso de emocionante carga simbólica. Inicia-se ao incidir o olhar de Jesus sobre um cego de nascimento. Era comum julgarem os judeus haver uma relação entre as enfermidades e os pecados cometidos pelo doente ou por seus parentes. Por isso perguntaram os discípulos ao Senhor: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9, 2).
A resposta firme de Jesus e o desenrolar dos acontecimentos subsequentes deitarão luz para melhor entendermos o Evangelho de hoje: “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9, 3). Tendo feito esta profética afirmação, tomou a iniciativa de curar o cego.
Jesus não só conhece como efetivamente ama suas ovelhas, desde toda a eternidade. Ele as criou, uma a uma, e as redimiu com seu próprio Sangue, elevando-as a participarem de sua vida. Ademais, deixou-Se como alimento na Eucaristia até a consumação dos séculos. Seu trato para com o rebanho atinge extremos inimagináveis até mesmo pelo mais perfeito dos Anjos.
Através da fé e em virtude da graça, suas ovelhas, por reciprocidade, conhecem-No, n’Ele esperam e operosamente O amam. Desta forma, Bom Pastor e ovelhas relacionam-se de maneira semelhante ao convívio existente entre as três Pessoas da Santíssima Trindade, em um só Deus. Esta é a principal razão de seu desejo-profecia: “haverá um só rebanho e um só pastor”.
Dispôs assim Deus que as figuras do cordeiro, do rebanho e do pastor facilitassem ao homem a compreensão da necessidade do apostolado. Em sua substância simbólica, elas reforçam princípios enunciados ao longo da Sagrada Escritura: “Impôs a cada um deveres para com o próximo” (Eclo 17, 12).
Em relação a Jesus, somos cordeiros; é nossa obrigação moral e religiosa reconhecer-Lhe a voz e seguir-Lhe os passos. Mas somos também muitas vezes chamados a representar o papel de pastores para com nossos irmãos, dever de caridade, como nos ensina São Pedro: “Como bons dispensadores das diversas graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros o dom que recebeu” (I Pd 4, 10).
Maria é a Estrela da Nova Evangelização, lembrava-nos sempre o Papa São João Paulo II. Portanto, quem quiser ter sucesso nesse sublime empreendimento de atrair seus próximos para o aprisco de Jesus Cristo, não pode deixar de colocar seus trabalhos e sua própria pessoa sob a proteção e a orientação da Mãe do Bom Pastor.
Peçamos ao Coração Maternal e Imaculado que nos conduza ao Bom Pastor, e assim possamos cumprir com santidade nossos deveres de apostolado para com nossos irmãos.
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