Ao longo da História da Igreja, encontramos certos personagens cuja grandeza ultrapassa qualquer lenda. Parecem de fato ser eles objeto de uma especial predileção de Deus que adorna suas almas com o brilho das virtudes mais elevadas e de raríssimos dons.
Entretanto, a todos esses supera um Santo muito conhecido, mas ao qual com frequência não se presta a devida atenção: São José, pai virginal do Menino Jesus.
Assim sendo, reflitamos um pouco sobre quem é ele, à luz do livro de Mons. João Scognamiglio Clá Dias.1
Quando, antes do início dos tempos, Deus Pai determinou num mesmo decreto “a origem de Maria e a Encarnação da Divina Sabedoria”,2 quis que a chegada de seu Filho ao mundo fosse revestida da suprema pulcritude que convém a Deus. Contudo, apesar dos aspectos de pobreza e humildade com os quais haveria de Se mostrar, Ele deveria nascer de uma Virgem (cf. Is 7, 14), sem mancha de pecado, que reuniria em Si as alegrias da maternidade e a flor da virgindade.
Todavia, era indispensável a presença de alguém capaz de assumir a figura de pai perante o Verbo de Deus encarnado, em quem a Santíssima Trindade, decerto, também pensou no mesmo decreto. Ademais, a ele bem podemos aplicar as palavras da Escritura acerca do Rei Davi, de quem seria descendente: “O Senhor escolheu para Si um homem segundo o seu coração” (I Sm 13, 14). Este é São José!
A fim de termos uma ideia de quem é ele, precisamos considerar que, ao ser escolhido para pai adotivo do Menino Jesus, cabia-lhe ser esposo de Nossa Senhora e, para o matrimônio ser harmônico e proporcionado, era necessário que estivesse à altura d’Ela.
No entanto, quem é Nossa Senhora? A mais perfeita de todas as criaturas, a obra-prima do Altíssimo, concebida sem sombra do pecado original. Se somarmos as virtudes de todos os Anjos e de toda a humanidade até o fim do mundo, não teremos sequer uma pálida ideia de sua singular perfeição.
Assim, deveria possuir uma grandeza de alma ímpar e uma virtude excelsa o varão escolhido para ser o guardião d’Aquela que seria a Filha do Pai Eterno, a Mãe do Verbo Encarnado e a Esposa do Divino Espírito Santo.
“E se as relações do Espírito Santo com Nossa Senhora foram sublimes, também o foram as com São José, ainda que de modo diverso, pois ele, pelo seu consentimento à ação divina, permitiu que se realizasse a concepção virginal. O próprio Deus, portanto, deu-lhe o direito de mandar no Menino Jesus. Assim devia observar para que a boa ordem das coisas reinasse na Sagrada Família. É difícil calcular o que isso supõe. O certo é que se trata do maior ato de confiança de Deus num homem”,3 afirma Mons. João.
Encontramos no Antigo Testamento a história de José, filho do patriarca Jacó, ao qual o faraó mandava os egípcios se dirigirem, nos tempos da fome, dizendo-lhes: “Ide a José”!
De maneira semelhante, diz um piedoso autor do século passado, a Divina Providência “constituiu o Santo Patriarca como senhor de sua casa e príncipe de todos os seus bens, pondo em suas mãos as chaves dos tesouros celestiais, como o faraó pôs as chaves dos celeiros do Egito nas mãos do antigo José, vice-rei daquele país”.4
Dessa forma, conclui ele, “com as mesmas palavras com as quais o mencionado faraó exortava seus vassalos a recorrerem a José em sua extrema penúria, recomenda-nos Deus, nosso Senhor, que nos dirijamos a nosso bendito Santo, dizendo-nos a todos: Ide a José, que tem poder para remediar vossos males”.5
Quem poderá, pois, calcular o poder de São José, como intercessor junto a Maria Santíssima e a seu Divino Filho? Ele pode tudo diante do Divino Redentor, pois tendo-lhe Ele sido submisso durante sua vida terrena (cf. Lc 2, 51), certamente não deixará de atender nenhum de seus pedidos por toda a eternidade.
Imploremos sempre sua poderosa intercessão! E tenhamos a certeza de que, como assegura Mons. João ao terminar seu livro sobre o Santo Patriarca, “quando a devoção a ele tiver atingido o grau de consistência e de fervor que só a Providência conhece em sua exata medida, operar-se-ão as maravilhas da graça e assistiremos à grande virada da História. ‘Ide a José, e fazei o que ele vos disser’ (Gn 41, 55); ele vos levará, atravessando altaneira e vitoriosamente perseguições e batalhas, ao Reino de Maria, ao Reino dos Céus”.6 (Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2017, n. 192, pp. 30-31)
1 Cf. CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. São José: quem o conhece?… São Paulo: Lumen Sapientiæ; Arautos do Evangelho, 2017.
2 BEATO PIO IX. Ineffabilis Deus, 8/12/1854.
3 CLÁ DIAS, op. cit, p.187-188.
4 SOLÁ Y VIVES, CMF, Domingo. San José, ínclito protector de los hombres y del mundo. Madrid: Corazón de María, 1919, p.222.
5 Idem, ibidem.
6 CLÁ DIAS, op. cit., p.438.
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