Redação (Terça-feira, 21-01-2020, Gaudium Press) Segundo velhos atos, Inês voltava da escola, quando o filho do prefeito de Roma dela se enamorou.
Após informar-se acerca dos pais da jovem, ofereceu-lhe vestidos mais esplêndidos, valiosas pedrarias, e prometeu-lhe outras coisas, riqueza, casas, todas as delícias do mundo, no caso dela consentir em desposá-lo.
Inês repeliu com desprezo os presentes, e disse ao jovem que estava noiva de um varão muito mais nobre que ele, o qual já lhe dera presentes muito mais inestimáveis.
O filho do prefeito, desesperado, caiu doente. Os médicos descobriram a causa do mal e advertiram o pai, o prefeito Sinfrônio, que mandou renovar à virgem as ofertas e os pedidos.
Respondeu-lhe Inês que nunca faltaria ao compromisso com o noivo.
Achou o prefeito bastante estranho que houvesse outro preferido e tratou de indagar quem seria.
Um dos seus parasitas disse-lhe, então, que a jovem era cristã desde a infância, e que, enfeitiçada por artes mágicas, chamava a Cristo seu esposo.
Radiante com o descobrimento, mandou o prefeito a conduzissem, com aparato, ao seu tribunal.
Inês foi igualmente insensível às lisonjas e às ameaças.
Chamou o prefeito os pais da jovem, e não podendo maltratá-los, por serem nobres, apresentou a acusação do cristianismo.
No dia seguinte, pois, em seguida a novos e inúteis esforços para a persuadir, disse-lhe:
“- É a superstição dos cristãos, de quem te gabas de conhecer as artes mágicas, que te impede seguir bons conselhos. É preciso, portanto, que vás imediatamente para a deusa Vesta, a fim de que, se te apraz a virgindade perpétua, cuides noite e dia dos seus augustos sacrifícios.”
Respondeu a santa:
“- Se, por amor a Cristo, recusei vosso filho o qual, embora torturado por um amor sem regra, não deixa de ser homem vivo, capaz de raciocinar e de sentir, como poderei, ultrajando o Deus supremo, adorar ídolos mudos, surdos, insensíveis, inanimados, pedras inúteis numa palavra.”
Retrucou o prefeito:
“Escolhe de duas uma: ou sacrificarás à deusa Vesta com as suas virgens, ou te prostituirás, num péssimo lugar, com as filhas de má vida.”
E disse-lhe Inês com segurança:
” Se soubésseis qual é o meu Deus, não falaríeis dessa maneira. Eu, que sei qual a força de meu Senhor Jesus Cristo, desprezo as vossas ameaças, certa de que me não poluirão as impurezas alheias, como não sacrificarei aos vossos ídolos; tenho comigo, como guarda do meu corpo, o anjo do Senhor.”
Com efeito, tendo sido levada a um antro de prostituição, lá se lhe deparou a anjo do Senhor, que a circundou de uma luz tão esplendorosa que ninguém a podia ver.
Tendo começado a orar, percebeu na sua frente uma túnica branca com a qual se cobriu, abençoando a Deus.
O lugar de infâmia tornou-se, assim, lugar de prece e piedade.
Quem quer que lá entrasse, sentia-se tocado por um aspecto religioso à vista daquela luz inesperada, e saía mais puro do que quando entrava. O filho do prefeito, chamando a todos de covardes, atirou-se ao meio da luz, mas caiu cegado e até, segundo os atos, sem vida.
Um dos seus companheiros, ao vê-lo morto, pôs-se a gritar:
“Socorro! Uma prostituta, por artes mágicas, matou o filho do prefeito!”
O povo atirou-se ao recinto, gritando:
– “É uma feiticeira!
O prefeito, sabedor da morte do filho, acorreu precipitadamente, aflito, dizendo à santa que era a mais cruel dentre todas as mulheres, e perguntando-lhe de que modo havia matado o filho.
Respondeu ela que o rapaz fora sufocado pelo impuro demônio cujos desígnios tratava de levar a efeito.
Era manifesta a prova, pois os que haviam respeitado a luminosa presença do anjo, tinha saído são e salvos.
O prefeito respondeu-lhe que acreditaria nas suas palavras, se ela rogasse ao anjo devolver-lhe o filho.
“Se bem que o não mereça a vossa fé, retrucou a jovem, sendo tempo de manifestar-se o poder de meu Senhor Jesus Cristo, saí todos, para que eu lhe ofereça a prece habitual.”
Saíram todos, e ela se prosternou, e rogou ao Senhor, com lágrimas, que ressuscitasse o jovem.
O anjo, aparecendo, devolveu-lhe a vida. O jovem começou a bradar:
“Só há um Deus no céu e na terra, e é o Deus dos cristãos.”
Àquelas palavras, todos os arúspices e pontífices dos templos estremeceram, e instigaram o povo à sedição.
Todos gritam: “Abaixo a feiticeira, que muda opiniões e transtorna!”
O prefeito diante de tão grandes maravilhas, ficou estupefato. Mas temia a proscrição, no caso de agir contra os pontífices e defender Inês contra a sua própria sentença.
Assim, tristemente, deixando no seu lugar o substituto, afastou-se.
O substituto, chamado Aspásio, mandando que se acendesse uma grande fogueira, a ela atirou a santa.
Mas as chamas, afastando-se para um lado e outro, queimaram vários dos espectadores.
Inês, de braços estendidos, abençoava a Deus pelas suas maravilhas, quando o fogo se apagou de súbito.
Os pagãos mais ainda bradavam contra a feitiçaria.
O substituto, não encontrando outro meio para apaziguar os ânimos enfurecidos, deixou que a santa morresse pelo gládio.
Por Padre Rohrbacher
(in “Vida dos Santos”, Volume II, p. 73 à 77)