Perseguição à Igreja em favor do arianismo

Algum tempo após o Concílio de Niceia, celebrado em 325, os arianos, intrigantes e bajuladores, principiaram a envolver em artimanhas o Imperador Constantino – que, de resto, nem sequer batizado era – e a fazê-lo chamar o ímpio Ário do exílio para onde ele o havia condenado.

Seu filho Constâncio, que lhe sucedeu, fez ainda pior: conturbou toda a Igreja e perseguiu quase todos os Bispos católicos durante o seu reinado de vinte e cinco anos.

Depois, devotado aos arianos, Juliano, o Apóstata, empenhou-se em restabelecer o paganismo.

Após Juliano, morto seu sucessor Joviano depois de oito meses de reinado, Valente, imperador do Oriente, perseguiu novamente os católicos em favor do arianismo.

Sempre a Igreja teve o que sofrer. Um dos seus mais firmes sustentáculos nesta época foi Santo Atanásio, Patriarca de Alexandria.

Exilado por Constantino, chamado de volta e exilado novamente por Constâncio, acossado por Juliano e por Valente, caluniado, difamado pelos arianos, seu episcopado de quarenta e seis anos não foi senão uma série de provações e de perseguições pela Fé Católica.

Já exilado nas Gálias, já errante nos desertos do Egito, já refugiado em Roma, já foragido na sepultura de seu pai, sempre sustentou a divindade de Jesus Cristo contra a impiedade dos arianos. Jamais puderam promessas nem ameaças vergá-lo, nem reveses abatê-lo, nem artimanhas enganá-lo.

Agradeçamos a Deus o ter cumulado seu servidor de tantas graças e roguemos-lhe que nos conceda uma parte delas.

Vida privada do Servo de Deus

A vida privada de Santo Atanásio não foi menos admirável.

Diz São Gregório Nazianzeno:

Grande em suas obras, , foi humilde de coração: de uma verdade inatingível.

Era, não obstante, acessível a todos, doce, afável, sem cólera, compassivo, amável nas prédicas, mais amável ainda na conduta, repreendendo com doçura, louvando de molde a instruir, indulgente sem fraqueza, firme sem dureza.

As pessoas de todas as condições encontravam nele algo que admirar, que imitar.

Era fervoroso e assíduo nas orações, austero nos jejuns, infatigável nas vigílias e no canto dos salmos, cheio de caridade para com os pobres, condescendente para os humildes, intrépido contra os soberbos, dedicando-se, enfim, a todos para ganhá-los a Deus.

Mas de que manancial hauriu tanta virtude?

Na juventude passou um tempo considerável sob a orientação de Santo Antão, a quem servia como discípulo. Foi nesse noviciado que aprendeu a meditar e imitar a Jesus Cristo: a meditar nos mistérios da sua Encarnação, de seus sofrimentos e de sua morte, para imprimir em si próprio os principais traços.

Façamos como ele: na medida em que a regra e a caridade nos permitam, apliquemo-nos ao silêncio, ao recolhimento, à meditação e à imitação de Jesus Cristo, a fim de obter as graças necessárias para agir com prudência e piedade no meio dos homens.

Apoio junto dos Papas

Em meio às perseguições que sofreu Santo Atanásio da parte dos imperadores e dos arianos, encontrou apoio sempre firme e constante em Roma, junto dos Papas São Júlio e São Dâmaso.

Os partidários dos arianos também recorreram ao Papa São Júlio, como chefe de toda a Igreja, tentando envolvê-lo com blandícias, com as quais já haviam embaído os imperadores. Foram infrutíferos os seus esforços contra a Sé de São Pedro.

Na carta do Papa Júlio aos acusadores de Santo Atanásio, este ressalta sobretudo o que diz no tocante aos julgamentos eclesiásticos e à autoridade da Igreja Romana:

Não sabeis que é costume consagrado escrevermos nós em primeiro lugar, e que daqui deve partir a decisão do que é justo?

Era mister, por conseguinte, escrever à igreja daqui.

O que os dois historiadores gregos, Sozomeno e Nicéforo, resumem nestes termos: “Havia uma lei sacerdotal ou eclesiástica que declarava mau tudo o que se fazia sem o consentimento do Bispo de Roma”.

Após estes testemunhos insuspeitos, vê-se que a força dos julgamentos eclesiásticos dependia desde então, como ainda hoje, do assentimento do Papa.

A vida monástica é impulsionada no Ocidente

O exílio de Santo Atanásio no Ocidente constituiu um manancial de bênçãos que ainda persiste. Primeiramente, foi onde se fez conhecer a vida propriamente monástica.

Até então os monges eram desconhecidos ou desprezados, sobretudo em Roma, cidade de luxo e de prazer. Mas quando Santo Atanásio se refugiou com o Papa Júlio, veio acompanhado de dois monges distintos: Amônio e Isidoro.

O primeiro tão absorto estava nas coisas divinas, que não se dignou admirar qualquer dos soberbos monumentos de Roma; não visitou senão a Igreja de São Pedro e São Paulo.

O segundo, por sua sabedoria e por uma amenidade toda celeste, produziu tão ampla impressão, que os próprios pagãos o amavam; muitos romanos lhe imitaram a vida.

Destarte, a vida monástica encontrou o caminho para Roma, e expandiu-se brevemente, sempre por Atanásio, nas Gálias. Mantinha com os monges desse país contato assíduo, e escreveu para eles a vida de Santo Antão, com o fito de lhes proporcionar um exemplo. Este exemplo, por sua vez, empenhou-se em imprimi-lo neles próprios.

(PADRE ROHRBACHER. Livro Vida dos Santos, v. VIII, p. 59 à 63.)