Vida heroica atestada pelos que conviveram com ele

Para quem ingressa na vida religiosa, o noviciado representa a etapa básica para verificar se o candidato reúne as condições exigidas por aquela ordem ou congregação.

À semelhança dos atletas esportivos, ali também aprende técnicas e exercícios espirituais para se tornar um “atleta de Deus” e poder levar uma vida ascética sadia.

Assim, em 22 de janeiro de 1903, juntamente com doze confrades, o futuro Padre Pio recebe o hábito capuchinho, passando a chamar-se Frei Pio de Pietrelcina. Escolheu esse nome em honra de São Pio V, o Santo padroeiro da cidade.

Debilidade que o faz voltar à casa de seus pais

Mas eis que, a partir do final do noviciado, a saúde do jovem Frei Pio começa a emitir sinais de enfermidade. Consultam-se os melhores especialistas. Segundo alguns, está com tuberculose, e, para evitar o perigo de contagiar os confrades, convém isolá-lo o mais possível. Segundo outros, porém, está apenas com bronquite.

Por via das dúvidas, tanto os médicos como os superiores concordam em mandá-lo à Pietrelcina, onde, sob os cuidados da família e respirando ares mais puros, poderá recuperar novamente a saúde necessária para continuar os estudos.

Diante deste arranjo, Pietrelcina devia acolher o filho quando doente e dar-lhe nova vida, e, os superiores, reconduzi-lo ao convento logo que melhorasse. Esse processo de vai e vem acabou durando uns dez anos.

Apesar das difíceis circunstâncias, não descurava seus estudos e obrigações religiosas.

Fez os votos perpétuos junto com os demais companheiros do grupo, no dia 27 de janeiro de 1907. Em 18 de julho de 1909, em Morcone, recebeu o diaconato.

Um ano depois, indo com os colegas a Benevento, superou com facilidade os exames requeridos antes da ordenação sacerdotal.

Por razões de saúde, sua ordenação foi antecipada em seis meses, com o compromisso, porém, de continuar os seus estudos. Então, aos 23 anos de idade, em 10 de agosto de 1910, foi ordenado sacerdote na catedral de Benevento.

Na tarde do mesmo dia, viajou à Pietrelcina, onde, quatro dias depois, celebrou sua primeira Missa solene, na presença de confrades, da mãe e muitos familiares. O pai se encontrava trabalhando na América.

Durante os cinco anos que se seguiram, ajudava o pároco Pannullo no que estava a seu alcance: fazia batizados, dava bênçãos e orientação espiritual aos poucos que o procuravam.

Mas não podia confessar por causa da doença e por não ter concluído o curso regular de Teologia Moral.

Tempo de serviço militar

Outra experiência que o marcou profundamente, ao final deste período, foi a convocação ao serviço militar. Estava-se em plena Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Em novembro de 1915, ele se apresentou em Benevento; com o número 2094/25 ficou incorporado na 10ª Companhia Sanitária e foi enviado como enfermeiro a Nápoles.

Ali, diante da sua fragilidade e do seu pouco entusiasmo pela vida militar, o designaram para tarefas mais humildes, como sentinela, carregador e varredor.

Não raro, ao fazer a faxina dos sanitários, sentia que estava sendo alvo de graçolas. Viveu e viu, assim, um pouco das circunstâncias ingratas da guerra, mas, o mais duro, porém, era o fato de não poder celebrar Missa, por falta de capela no quartel.

Apesar do mundo novo em que vivia, as estranhas doenças anteriores persistiam. Por isso, depois de muitos exames e vários tratamentos, em 10 de dezembro de 1915, recebeu dispensa por um ano.

Temporariamente livre do serviço militar, retira-se a um convento em Foggia, a fim de continuar o tratamento de saúde. O lugar é baixo e de clima tórrido, intolerável para alguém com tantos problemas pulmonares.

Recebe os santos estigmas

Afortunadamente, aparece ali um colega de San Giovanni Rotondo – o Pe. Paulino de Casacalenda – e o convida a passar algumas semanas com ele. Trata-se de ir a uma vilazinha insignificante, porém de clima saudável, 600 metros acima do nível do mar. Padre Pio aceita. Chega a San Giovanni Rotondo em 28 de julho de 1916.

Mas, ao invés de algumas semanas, acaba ficando por mais de 50 anos.

Sua passagem por ali é tão marcante que, em poucos anos, a pequena vila, tão insignificante que nem constava nos mapas comuns da Itália, se tornará conhecida no mundo inteiro.

Foi ali que teve lugar o fato mais estrondoso da vida do Padre Pio.

Na manhã de 20 de setembro de 1918, enquanto rezava diante de um crucifixo de madeira, no coro da igreja, viu explicitar-se o que lhe fora entremostrado oito anos antes, em Piana Romana, ao receber os estigmas invisíveis. O acontecido deixa-o em pânico.

Um “misterioso personagem”, com uma lança na mão, se aproximou e o golpeou no peito, nas mãos e nos pés. Cinco chagas enormes, que haveriam de verter sangue ininterruptamente, por 50 anos, indiferentes a todos os curativos e sem nunca apresentarem sinal de gangrena ou infecção.

Trata-se de um fenômeno raro na vida dos Santos, e que, no caso do Padre Pio, haveria de assombrar médicos, crentes e ateus, desconcertar a ciência e atrair multidões de todos os quadrantes, desejosas de conhecer o “crucificado do Gargano”.

Curiosamente, como tudo na vida do Padre Pio, essas feridas, durante seus últimos dias de vida, foram desaparecendo; ao celebrar sua última Missa, já eram imperceptíveis.

Mas, a série de maravilhas não termina aqui: a pele das áreas antes tomadas pelas feridas, agora se apresentava “lisa como a de um recém-nascido”, conforme o testemunham algumas fotos tiradas na ocasião.

Morte do Padre Pio de Pietrelcina

Padre Pio morreu na madrugada de 23 de setembro de 1968, quando milhares de seus filhos espirituais se encontravam em San Giovanni Rotondo para celebrar o IV Congresso Internacional dos Grupos de Oração.

Pouco antes de partir, tinha perguntado inocentemente ao superior da casa se o “autorizava a morrer”. E justificava o pedido dizendo que “do Céu podia fazer ainda mais”.

“Ao chegar lá – garantia –, prometo ficar parado na porta, e só entrar depois que todos os filhos aos quais prestei assistência na terra estiverem dentro”.

Seu funeral, ocorrido quatro dias depois, contou com a presença de mais de 100 mil pessoas, dentre as quais cerca de três mil eram padres.

O cortejo transportando seu corpo percorreu as principais ruas da cidade, durante quase quatro horas.

Depois da Missa fúnebre, o corpo do Padre Pio foi transferido à cripta da nova igreja de Santa Maria das Graças. Desde então, ele continua seu papel de intercessor diante de Deus, alcançando muitas graças e curas milagrosas para os peregrinos de todo o mundo e de todas as classes sociais.

Os processos de beatificação e canonização foram “desencalhados” pelo Papa São João Paulo II que, como jovem sacerdote, tivera a graça de confessar-se com ele.

O Padre Pio foi proclamado Beato em 2 de maio de 1999, e Santo em 16 de junho de 2002. A cerimônia de canonização reuniu mais de 300 mil devotos só em Roma. Um caso único na História da Igreja!