ANJO_1.JPGSanta Teresinha do Menino Jesus, a jovem Doutora da Igreja e glória do Carmelo, ainda nos dias de sua infância deparou-se com uma questão teológica que a deixou intrigada. Movida pelo desejo de compreender os desígnios do "bom Deus", apresentou à sua irmã Paulina esta perplexidade: "Admirava-me, certa vez, que no Céu Deus não dê uma glória igual a todos os eleitos [...]. Então, Paulina disse- me que fosse buscar o grande copo de papai e o colocasse ao lado do meu dedalzinho, e enchesse ambos de água. Em seguida, perguntou-me qual deles estava mais cheio. Disse-lhe que os dois estavam cheios, e que era impossível pôr mais água, acima de sua capacidade. Minha querida mãe fez-me então compreender que no Céu Deus dará aos seus eleitos tanta glória quanta cada qual poderá receber".1 Exemplo de sabedoria cristã, esta resposta de Paulina - que depois, no Carmelo de Lisieux, seria a Madre Inês de Jesus - não apenas responde à indagação da santa criança, mas descortina, ao mesmo tempo, um aspecto verdadeiramente admirável da conduta divina para com os homens: a diversidade com que são distribuídas as graças em medidas peculiares, para almas aptas a recebê-las em diferentes graus.

A desigualdade dos seres, sinal da bondade de Deus

É São Tomás de Aquino quem nos esclarece acerca da razão dessa diversidade nas obras divinas: "Deus produziu as coisas no ser para comunicar sua bondade às criaturas, bondade que elas devem representar. [...] Ele produziu criaturas múltiplas e diversas, a fim de que o que falta a uma para representar a bondade divina seja suprido por outra. Assim, a bondade que está em Deus de modo absoluto e uniforme está nas criaturas de forma múltipla e distinta".2 Assim, embora múltiplos e diversos, todos os seres saídos de Suas mãos trazem o selo inequívoco da perfeição divina, desde a menor das formigas ao mais esplendoroso dos Anjos. "É próprio do que é ótimo produzir coisas ótimas",3 e haveria uma incoerência na ordem do universo caso alguma criatura estivesse dissociada do Ser Supremo, porque elas "provém da intenção do agente primeiro, que é Deus".4 A análise dessa riqueza de facetas impressa pelo Criador no mundo espiritual e material constitui uma fonte de deleite

NSENHORA MENINA.JPG

A graça inicial recebida por Maria foi crescendo e se desenvolvendo à medida que Ela progredia espiritualmente

"N. Senhora Menina" por Zurbarán - The State Hermitage Museum São Petersburgo (Rússia)

para os espíritos mais afeitos à metafísica, sobretudo quando o alvo de tais considerações é o conjunto dos homens, seres racionais feitos à imagem e semelhança de Deus.

Maravilha na ordem sobrenatural

Precisamente por serem dotados de inteligência, vontade e sensibilidade, coube a eles uma parcela excelente dos dons outorgados por Deus, que é a vida da graça. Isso lhes foi concedido porque a natureza humana deve estar impostada "a um fim único, conforme uma ordem única",5 que é a glória voluntária e consciente prestada ao Criador: o homem "é chamado, por graça [...] a oferecer-Lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar".6 Nesta perspectiva, e como obraprima de munificência, o Senhor houve por bem realizar uma maravilha na ordem sobrenatural ao eleger para Si próprio uma Mãe, fazendo-A participar de modo admirável da vida divina e cumulando-A, o máximo possível, de dons celestiais. Tão portentosa foi esta predileção divina, que constitui um "mistério da graça, desconhecido até pelos mais sábios e espirituais dentre os cristãos".7 Caso Santa Teresinha tivesse interrogado sua irmã acerca da capacidade de receber graças conferida por Deus a Maria, talvez Paulina teria usado mais apropriadamente, não a imagem do copo ou do dedal, mas a do mar. Com efeito, assim reza uma das ladainhas difundidas pelo orbe católico: "Coração de Maria, oceano de bondade". E as razões teológicas confirmam de sobejo esta tocante invocação.

Plenitude de graça desde o primeiro instante do ser

No próprio ato da criação de Sua alma, Maria recebeu a graça habitual em tal abundância que já se verificava nela o que o Anjo haveria de dizer na hora da Anunciação: "Ave cheia de Graça". 8 Pois, como afirma São Jerônimo, citado por São Tomás de Aquino: "Aos outros [a graça] lhes é dada em fragmentos, mas a Maria Lhe foi infundida a plenitude da graça por inteiro e de uma vez".9 Este primeiro grau de plenitude da graça, destinado a ampliar-se de forma contínua até a Assunção, se distingue pelo privilégio da Imaculada Conceição: "É preciso manter, como princípio fundamental, que a Virgem Mãe ocupa, na ordem da restauração do gênero humano, o mesmo lugar que Eva em nossa ruína".10 Se aquela nos trouxe o pecado, A que nos traria a graça deveria ser concebida sem ele.

Para tornar patente essa plenitude inicial, afirma o Beato Pio IX, ao proclamar o dogma da Imaculada Conceição, que Deus "cumulou-A admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender".11

Nossa Senhora sobrepuja deste modo, já em Seus primórdios, o píncaro atingido pelos maiores bem-aventurados, porque "uma pessoa recebe tanto mais graças quanto mais for amada por Deus. Ora, Maria, desde o primeiro instante, em Sua qualidade de futura Mãe de Deus, foi mais amada por Ele do que qualquer santo, ainda mesmo no fim de sua vida, e mais do que qualquer Anjo. [...] Ora, a graça final de todos os santos, mesmo tomados em conjunto, não é proporcional à dignidade de Mãe de Deus, a qual é de ordem hipostática".12 Por isso, é pertinente a comparação feita por São Luís Grignion de Montfort quando diz que Maria Santíssima dava mais glória a Deus trabalhando com a roca ou costurando na casa de Nazaré, do que São Lourenço morrendo queimado na grelha.13

Crescimento da graça inicial

Por mais incomensurável que fosse a graça inicial recebida por Maria Santíssima, não era contudo infinita, "a qual é própria e exclusiva de Cristo".14 Portanto, a graça em Maria "pô

NSENHOR NA CRUZ.JPG

Os lances comoventes da Paixão, quais benefícios não terão operado na alma de Maria?

"Nossa Senhora ao pé da Cruz" do Beato Angélico - Museu de São Marcos Florença (Itália)

de crescer e desenvolver-se indefinidamente",15 pois, à medida que progride espiritualmente, amplia a alma sua capacidade para receber mais graças.

"Assim se explica perfeitamente que Maria estivesse cheia de graça desde o momento de sua imaculada conceição, e, sem embargo, sua graça inicial fosse crescendo e desenvolvendo-se cada vez mais, até alcançar, finalmente, uma plenitude imensa, incompreensível, somente inferior à de Nosso Senhor Jesus Cristo, que era rigorosamente infinita - como Filho de Deus - e não podia crescer nem cresceu jamais nEle".16

Esse aumento de graça em Nossa Senhora teve alguns momentos culminantes, e os teólogos "admitem ao menos três: o momento da Encarnação do Verbo em suas entranhas virginais, o de sua dolorosíssima compaixão ao pé da C ruz de seu Filho e o dia de Pentecostes ao descer sobre Ela o Espírito Santo com uma plenitude imensa".17

Sua vocação não tem proporção humana, mas divina

Bem podemos imaginar o gáudio discreto e, ao mesmo tempo, intenso que invadiu a alma de todos quantos no Templo de Jerusalém se encontravam quando Nossa Senhora foi para lá conduzida por seus pais. O venerando casal preparava-se para a separação, e já sentia saudades dAquela Menina adornada de todas as formosuras de alma e de corpo, reconhecendo ser ali o único lugar digno para Ela habitar. Embora não possuíssem exata noção do futuro reservado à filha, Joaquim e Ana intuíam ter sido Maria feita unicamente para o Senhor, e não para eles próprios.

Sim, grandes feitos aguardavam- Na, os maiores que a inteligência divina pudera conceber! Ela fora chamada a ser a Casa de Deus! O Beato Pio IX, na Bula Ineffabilis Deus, exalta a predestinação da Santíssima Virgem: "Deus, desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e pré-ordenou para Seu Filho uma Mãe, na Qual Ele Se encarnaria, e da Qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-La alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nEla com singularíssima benevolência".18 Conforme assinala o Papa da Imaculada, é do fato de ter sido Maria escolhida para a maternidade divina que decorre todo o conjunto de benefícios a Ela conferidos. A relação da Santíssima Virgem com a vinda de Cristo ao mundo é total, a ponto de os teólogos sustentarem que, a não se efetivar a Encarnação, tampouco a Santíssima Virgem teria razão de existir.19 "Todos os dons, graças e privilégios excepcionais que foram concedidos a Maria pela divina liberalidade, o foram em atenção a este fato colossal e incompreensível: Maria Mãe de Deus".20 O Doutor Angélico ensina que "Deus dá a graça a cada um de acordo com aquilo para o qual foi eleito",21 e se nos detivermos por um momento considerando a vocação de Nossa Senhora, não poderemos deixar de exclamar com o Cardeal Newman: "Que vestimentas de santidade terão sido as Suas, que plenitude e transbordamento de graça, que superabundância de méritos, se admitimos a hipótese - que encontra uma justificativa nos Padres - de que Seu Criador Se fixou realmente em Seus méritos e os teve em conta quando Se dignou 'não desprezar o seio da Virgem'!".22

As palavras do Arcanjo Gabriel

Foi um Anjo de elevadíssima hierarquia o mensageiro escolhido para anunciar a Maria a chegada da plenitude dos tempos. É mais uma vez São Jerônimo quem nos ilustra a cena com o brilho de seu pensamento: "É bom que um Anjo seja enviado à Virgem, porque a virgindade sempre esteve aparentada com os Anjos. De fato, viver na carne sem estar a ela submetido não é uma vida terrena, mas celestial".23 Na humilde casa de Nazaré, a sorte de todos os homens pendeu por um instante dos lábios desta jovem amante da virgindade, que Se turbou perante um elogio do qual não Se considerava digna: "Ave, cheia de graça; o Senhor é contigo" (Lc 1, 28). Foi um momento decisivo da história universal, cuja grandeza e profundidade foram assim recentemente descritas por Bento XVI:

"Quando Deus decidiu fazer-se homem no seu Filho, tinha necessidade do 'sim' livre de uma Sua criatura. Deus não age contra a nossa liberdade. E aconteceu algo verdadeiramente extraordinário: Deus faz-se dependente da liberdade, do 'sim' de uma sua criatura; espera este 'sim'. [...] Por conseguinte, o 'sim' de Maria é a porta através da qual Deus pôde entrar no mundo, fazer-Se homem. Assim, Maria está real e profundamente comprometida no mistério da Encarnação,

DESCIDA ES SANTO.JPG

Dir-se-ia, após a Ascensão, que Maria havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons; entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seriaconcedido

"Pentecostes" - St. Mary's Pro Catedral, Hamilton - Canadá

da nossa salvação".24

Houve evidentemente uma mudança radical na vida da Santíssima Virgem a partir de Seu assentimento às palavras do Arcanjo, pois passou a engendrar Cristo, ascendeu à ordem hipostática relativa e iniciou o relacionamento inefável de mútuo amor para com Ele. Razões pelas quais "era necessário que se desse em Maria um aumento de plenitude de graça e de caridade, de modo que imediatamente A dignificasse para que Se convertesse em Mãe de Deus".25 O momento do fiat constitui assim o marco do segundo grau de plenitude por Ela atingido: "O dia da Anunciação assinala um enorme progresso da graça e da caridade na alma de Maria".26 Tudo o que Ela recebeu desde que fora criada assume a verdadeira razão de ser, cumpre- se a Sua finalidade, pois "Sua fé, Sua confiança e Sua generosidade estiveram à altura do mistério do qual ia participar"

A graça se dilata no convívio com Jesus

À medida que convivia com Seu Filho, a Mãe da Divina Graça não cessou de progredir, avantajando- Se admiravelmente nesta santa familiaridade. Sob os véus da humildade, que constituem o traço comum daqueles que de fato são grandes, ocultavam-se enriquecimentos que apenas parcialmente podemos imaginar. Enquanto o Menino crescia à vista dos homens gozando em infinito grau, e desde o princípio, da graça que Ele mesmo criara, a Mãe pela qual viera ao mundo crescia de plenitude em plenitude, sem maiores sinais exteriores deste maravilhoso progresso.

Nossa Senhora, que tudo conferia em Seu coração, mostrou a Criança aos pastores e magos, apresentou-A no Templo e com Ela fugiu para terra estrangeira. Em Nazaré, aparências corriqueiras encobriam atos de adoração de todo perfeitos, e a separação da vida pública não diminuiu o incremento de graça, posto que a união entre ambos superava a ausência física. Os lances comoventes da Paixão, que produziram nos bem-aventurados efeitos de santidade, quais benefícios não terão operado na alma de Maria?

A vinda do Paráclito traria para a Esposa do Espírito Santo uma nova plenitude de graça, cujas consequências bem nos descreve Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, em artigo publicado nesta mesma revista: "Dir-se-ia que [Nossa Senhora] havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons, entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seria concedido. Assim como fora eleita para o insuperável dom da maternidade divina, cabia-Lhe agora o tornar-Se Mãe do Corpo Místico de Cristo e, tal qual se deu na Encarnação do Verbo, desceu sobre Ela o Espírito Santo, por meio de uma nova e riquíssima efusão de graças, a fim de adorná-La com virtudes e dons próprios e proclamá-La 'Mãe da Igreja'".28 Os anos da vida da Santíssima Virgem transcorridos depois

COROA?AO.JPG

A entrada da Virgem na Jerusalém Celeste pode ser vista como o fastígio da graça que se consuma na glória

"Coroação de Nossa Senhora", do Beato Fra Angélico - Museu de São Marcos - Florença, Itália

de Pentecostes se nos apresentam tão envoltos em sombras quanto fascinantes, pois deles não possuímos descrições além daquelas oferecidas pela tradição ou revelações privadas. Custodiada pelo Apóstolo João, por vários anos ainda permaneceu nesta Terra, até o momento em que subiu ao Céu, realizando as palavras do Salmo: "À vossa direita se encontra a rainha com veste esplendente de ouro de Ofir" (Sl 44, 10).

"Nossa Senhora morreu de graça"

Terá morrido, ou não, a Mãe dAquele que venceu a morte? Esta é uma questão disputadíssima entre eminentes teólogos, havendo ardorosos defensores de uma e outra hipótese. Por mais que, segundo a opinião mais comumente admitida, tivesse Ela sido levada desta vida por uma morte suave, disso ninguém tem absoluta certeza.

O padre Antonio Royo Marín, OP, em conversas informais sobre as excelsitudes da Santíssima Virgem, gostava de afirmar: "De que terá morrido Nossa Senhora, posto que não padecia de qualquer enfermidade? Morreu de graça! NEla não cabia mais! Não cabia mais!". Este comentário espirituoso aponta para uma realidade de toda beleza, descrita por outro insigne teólogo dominicano: Maria precisava deixar esta Terra em "consequência da intensidade de um amor sereno e fortíssimo pelo qual a alma, já madura para subir ao Céu, abandona seu corpo e vai unir-se a Deus numa visão imediata da pátria celestial, do mesmo modo que um rio se precipita no oceano".29

A entrada da Virgem na Jerusalém Celeste pode ser vista como o fastígio da graça que se consuma na glória, enquanto modelo paradigmático do destino que aguarda cada um de nós, se Lhe seguirmos o exemplo de fidelidade.

Maria entra na História com intensidade crescente

Assunta ao Céu, a missão desta Rainha junto à Igreja estava apenas se iniciando, uma vez que "o Espírito Santo quer que nEla e por Ela se formem os eleitos" chamados a participar de Seus dons.30 Nos primeiros séculos, a figura de Maria é discreta, devido às tendências ainda pagãs dos neófitos, inclinados ao erro grosseiro de considerá- La uma divindade. Aos poucos, de forma orgânica e suave como a ação do Mestre, a presença da Santíssima Virgem se delineia com intensidade crescente na espiritualidade dos fiéis.

Imagens, pinturas e cânticos cada vez mais expressivos, milagres progressivamente mais eANJO_2.JPGstupendos, novas explicitações doutrinárias sólidas e sábias: tudo na vida da Igreja parece conhecer melhor, de época em época, a plenitude da qual Maria transborda, traduzindo essa experiência única e renovada em frutos de maior perfeição. Nossa Senhora tudo transforma a partir de Cristo; Ela é a verdadeira pedra filosofal, a Quem exaltamos nos Salmos que Lhe são dedicados com estas palavras: "Annuntiaverunt cæli nomen Mariæ, et viderunt omnes populi gloriam ejus - Os Céus anunciaram o nome de Maria e todos viram Sua glória".31

Nossa Senhora e o fim dos tempos

Alguém, porventura, se disporia a falar em plenitude de devoção à Virgem Santíssima, sem mencionar São Luís Grignion de Montfort? Em seu Tratado da Verdadeira Devoção, a espiritualidade mariana parece atingir uma nova aurora, e tão forte e sensível é o fogo do Espírito Santo que o inspirou em cada uma dessas páginas, que o escravo de Nossa Senhora não encontrando termos humanos para plasmar seu enlevo, acaba confessando: "Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida".32 "'De Maria nunquam satis'... Não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois ainda mais louvor, respeito, amor e serviço Ela merece".33 Este desejo inspirado pela graça de penetrar mais a fundo na alma de Nossa Senhora, e em consequência prestar-Lhe maior homenagem, bem reflete o élan da Santa Igreja em ampliar as explicitações que sobre Ela possam ser feitas. Maria Santíssima é sempre a mesma; nós é que podemos conhecê-La melhor e amá-La mais. Os tesouros de graça de que é distribuidora tampouco foram todos concedidos, e isso nos faz almejar que a História da Igreja vá num crescendo de manifestações de misericórdia mariana até a consumação dos séculos.

Desejemos que o dia supremo do Juízo Final - no qual o Reino de Deus chegará à sua plenitude - coincida com o momento em que, segundo os desígnios do Altíssimo, nada falte aos homens conhecer a respeito dEla. E que os cristãos remidos pelo Sangue do Cordeiro, escolhidos para presenciar ainda em vida "a realização última da unidade do gênero humano", 34 por uma graça de correspondência e fidelidade, atinjam o ápice da devoção à Rainha do Universo. "A formação e a educação dos grandes santos, que aparecerão no fim do mundo, Lhe está reservada",35 disse São Luís Grignion.

Como isso se dará? É difícil vislumbrar. Todavia, sem dúvida, os progressos que aguardam a vida da Igreja no âmbito da mariologia superarão - embora sem qualquer divergência - tudo o que até hoje se conheceu.

"Qui vivra, verra!".

1 SANTA TERESA DE LISIEUX. OEuvres complètes. Paris: Du Cerf, 2004, p. 99. 2 AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica, I, q. 47, a. 1, resp. 3 Idem, a. 2, ad sec. 4 Idem, a.1, resp. 5 Idem, a. 3, ad prim. 6 CIC, n. 357. 7 MONTFORT, São Luís Maria Grignion de. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge. Québec: Montfortaine, 1946, n.21. 8 Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. La plenitude initial de grâces en Marie. In: La vie spirituelle. Paris, Mai.,1941, n. 253. 9 AQUINO, São Tomás de.Suma Teológica III, q. 27, a. 5, resp. 10 MARMION, OSB, Columba. Apud PHILIPON, OP, Maria Miguel. A doutrina espiritual de D. Marmion. Rio de Janeiro: Agir, 1956, p. 223-224. 11 PIO IX, Ineffabili Deus, 8/12/1854, n. 2. 12 GARRIGOU-LAGRANGE, OP. Op. Cit., n. 253. 13 Cf. MONTFORT, Op. cit., n. 222. 14 ROYO MARÍN, OP, Antonio. La Virgen María. 2. ed. Madri: BAC, 1997, p. 252. 15 Ibidem. 16 Idem, p. 251-252. 17 Idem, p. 265. 18 Ineffabilis Deus, n. 2. 19 Cf. ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Santísima Virgen. Madrid: BAC, 1956, p. 65-66. 20 ROYO MARÍN, OP. Op. Cit., p. 91. 21 AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 27, a. 5, ad prim. 22 NEWMAN, Jonh Henry. María: Páginas selectas. Burgos: Monte Carmelo, 2002, p. 297. 23 Cf. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 30, a. 2, ad tert. 24 BENTO XVI, Audiência geral, 12/8/2009. 25 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. La Madre del Salvador y nuestra vida interior. Madrid: Rialp, 1990, p. 119. 26 Idem, p. 115. 27 Idem, p. 118. 28 CLÁ DIAS, EP. João Scognamiglio. A paz esteja convosco! In: "Arautos do Evangelho", n. 41, maio 2005. 29 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. La Madre del Salvador y nuestra vida interior. Madrid: Rialp, 1990, p. 173. 30 MONTFORT. Op. cit., n. 34. 31 Antífona do salmo 123, 1: Levantei os meus olhos para Vós. 32 MONTFORT, Op. cit., n. 13. 33 Idem, n. 10. 34 Idem, n. 1045. 35 Idem, n. 35.

(Revista Arautos do Evangelho, Out/2009, n. 94, p. 18 à 23)