Lourdes: tema de estreia do podcast católico que completa um ano
"Lourdes: pecado e retorno às origens" foi o tema abordado no primeiro episódio do podcast "– Salve Maria! O seu podcast católico –, que estreou em fevereiro de 2023. O apresentador, Pe. Ricardo Basso, trouxe um convidado que é doutor em Teologia e Direito Canônico, Pe. Alex Brito, para dar uma ampla visão sobre as aparições, os milagres e as promessas de Nossa Senhora de Lourdes, e o impacto disso em nossa salvação.
O apresentador, o convidado e o moderador, Ir. Fâner Bonfim Gasques, abordaram diversos tópicos referentes aos acontecimentos de Lourdes e um dos pontos altos foi sobre qual seria o maior milagre de Lourdes.
Ouça aqui o podcast: Salve Maria! O seu podcast católico.
A História de Lourdes
Antes de falarmos sobre as promessas de Lourdes, é necessário contar como foi sua aparição. Santa Bernadete, menina franzina e doente, com apenas 14 anos, depara-se, numa gruta barrenta, com uma Senhora que se trajava de branco, e possuía a cintura cingida por uma faixa azul.
Alguns milagres aconteceram para que esta visão fosse possível: em primeiro lugar, a saúde de Bernadete era precária, e ela não teria sobrevivido ao frio da França, no inverno, ao ir à gruta de Massabielle, local das aparições, sem um especial suporte de Deus. No podcast, o Pe. Alex comentou que, ao atravessar o pequeno riacho que permitia chegar à gruta, Santa Bernadete sentiu a água quente, apesar de ser inverno, e o regato estar sob a sombra de uma floresta densa.
Outro milagre é o fato de só Bernadete ter as visões, enquanto o povo se reunia e a via rezar. Certo dia, os que a acompanhavam viram que a menina se dirigia a um lugar da gruta e começava a cavar um buraquinho com suas próprias mãos. Mesmo sem entender o porquê de tal ação, apenas obervaram o que ela fazia e esperaram. Alguns minutos depois, um filetinho de água inundou o barro revirado, transformando-o numa poça. Ali começava a origem da fonte milagrosa de Lourdes.
A revelação de Maria Santíssima à Bernadete
Nossa Senhora, aparecia de maneira serena, puxava o seu rosário e esperava Bernadete imitá-la. Passando as contas devagarinho, a jovem ia rezando as Ave-Marias e os Pai-Nossos, com fé e tranquilidade. Depois de algumas aparições, um dia, a pedido do bispo, Santa Bernadete rogou a Nossa Senhora que ela se identificasse, recebendo da Virgem uma revelação, proferida em seu dialeto regional: "Que soy era Immaculada Councepciou" – “Eu sou a Imaculada Conceição”.
Tão sublime era a mensagem que a menina não entendeu do que se tratava, por isso foi pelo caminho repetindo as palavras, para não esquecer. Quando transmitiu a mensagem ao bispo, humildemente perguntou: “O que é Imaculada Conceição?” Esta ingenuidade seria a grande prova para que o prelado acreditasse nela. Em 1854, quatro anos antes da primeira aparição, o Papa havia aprovado o dogma da Imaculada Conceição, que afirmava que Nossa Senhora foi preservada do pecado original no momento de sua concepção.
Mas, nem Bernadete nem ninguém de sua pequena aldeia tinham conhecimento disso, pois, sem mídia massiva, os jornais noticiaram nas grandes capitais, mas as notícias não chegavam às pequenas vilas.
Construção da Igreja dedicada à Senhora de Lourdes
Após este acontecimento, foi dada a autorização para a construção de uma pequena capela no local. Com o passar do tempo, a igreja foi reconstruída, tornando-se maior. Por fim, uma enorme basílica foi edificada e milhares de peregrinos a visitam todos os meses, procurando a cura para diversos males.
A fonte de Lourdes continua jorrando esperança e milagres em profusão. Os peregrinos podem se banhar em suas águas, pedindo com fé o que necessitam. O Pe. Alex contou no podcast que, em apenas uma visita a Lourdes, ele teve a oportunidade de tomar dois banhos, testemunhando que, de algum modo, as águas estavam agradáveis, mesmo num clima frio de outono europeu. Sua fé lhe diz que esta é mais uma das delicadezas de Maria a seus filhos.
Lourdes e o pecado
O século XIX teve grandes aparições marianas. 28 anos antes de Lourdes, dava-se a visita de Nossa Senhora das Graças a Santa Catarina Labouré, trazendo a poderosa medalha milagrosa. Durante a peste que se seguiu às aparições, aqueles que já portavam a medalha em seu pescoço mantinham sua saúde assegurada.
Em 1846 houve a aparição aos pastorinhos de La Sallete. Maximin Giraud e Mélanie Calvat, as crianças que compartilharam a visão, contaram que Nossa Senhora chorava muito, tal a quantidade de pecados que eram cometidos e machucavam seu Querido Filho. Ela pedia reparação e penitência e avisava de um castigo que viria, caso a humanidade não melhorasse.
Neste contexto mariano é que se encaixam as aparições de Nossa Senhora em Lourdes. O Pe. Alex, testemunhado sabedoria e fé, afirma que a aparição se deu numa gruta barrenta para significar que até lá, no mais fundo do poço, Nossa Senhora vai nos buscar. Lourdes é um atestado de que, não importa nossa situação, se confiarmos n’Ela, a Virgem Maria nos salva do pecado.
Lourdes implica em conversão e retorno às origens
Mas, se Nossa Senhora vai tão longe para nos salvar, simbolizada pelas aparições de Lourdes, é preciso um movimento de alma nosso. Como explicou o Pe. Alex, comentando o Evangelho, na parábola do Filho Pródigo notamos sua decadência: de rico e prazenteiro, torna-se ele aquele que rouba a comida dos porcos, tal sua fome. E é repreendido por essa sua atitude desesperada.
Mas, para alguém cheio de ilusões, é só quando elas se esvaziam que se olha a verdadeira face da frustação. Nesse momento, o Filho Pródigo cai em si, e faz o firme propósito de voltar à casa do Pai: “Quantos empregados têm pão garantido na casa de meu Pai, e eu, comendo as bolotas dadas aos porcos!” (Lc 15, 17).
Lourdes quer de nós este mesmo movimento. É preciso que olhemos para a lama em que estamos enterrados, para a fragilidade da situação em que nos encontramos e, com lágrimas nos olhos, nos dirijamos para Nossa Senhora: “Santa Maria, rogai por mim!”
São Bernardo, em sua oração “Lembrai-vos”, deixa claro que “nunca houve um que clamasse a Maria e não fosse atendido. Ele não seria o primeiro!” Esta verdade precisa nos acompanhar na festa da celebração de Lourdes, no dia 11 de fevereiro.
Lembrando momentos de formação com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Pe. Alex mencionou algo muito importante que esse eminente pensador católico dizia: que nem todos que vão até Lourdes em busca da cura de uma enfermidade saem de lá curados, mas, todos saem transformados, pois recebem uma graça especial que os leva a compreender que aquela doença, aquele sofrimento, pode ser o meio seguro da sua salvação, o seu retorno seguro para Deus, pelo braços de Nossa Senhora.
Como voltar às origens, como efetuar este retorno?
O Prof. Plinio, compôs uma oração belíssima, diante de um grande auditório. Nessa sentida prece, que recebeu o título de "Oração da Restauração", ele assim se dirigiu a Nossa Senhora:
“Há momentos, minha Mãe, em que minha alma se sente, no que tem de mais fundo, tocada por uma saudade indizível. Tenho saudades da época em que eu Vos amava, e Vós me amáveis, na atmosfera primaveril de minha vida espiritual.
Tenho saudades de Vós, Senhora, e do paraíso que punha em mim a grande comunicação que tinha convosco. Não tendes também Vós, Senhora, saudades desse tempo?
Não tendes saudades da bondade que havia naquele filho que fui? Vinde, pois, ó melhor de todas as mães, e por amor ao que desabrochava em mim, restaurai-me: recomponde em mim o amor a Vós, e fazei de mim a plena realização daquele filho sem mancha que eu teria sido, se não fosse tanta miséria.
Dai-me, ó Mãe, um coração arrependido e humilhado, e fazei luzir novamente aos meus olhos aquilo que, pelo esplendor de vossa graça, eu começara a amar tanto e tanto!
Lembrai-Vos, Senhora, deste David e de toda a doçura que nele púnheis. Assim seja!”
Saudade... palavra iminentemente brasileira. Apesar de, em outros vocábulos, ela ser exprimida como nostalgia, o termo “saudade” contém, em si mesmo, uma tristeza e uma alegria. É um sentimento único, que contempla o desejo de um retorno às origens onde ainda havia certa felicidade.
Nossa Senhora também tem saudade de nós. Saudade de quando corríamos para Ela e não fugíamos do seu abraço; numa época em que rezar, para nós, era fácil, era uma experiência boa. Ela sente tanta saudade que nos vem visitar e alertar.
Assim, para a comemoração de Nossa Senhora de Lourdes, no dia 11 de fevereiro, para que haja um retorno às origens, precisamos pedir que Ela nos restaure, que Ela nos dê “um coração arrependido e humilhado, e faça luzir novamente aos nossos olhos aquilo que, pelo esplendor de sua graça, começáramos a amar tanto e tanto!…”
Que neste dia especial para a piedade da Igreja, para a piedade mariana, para o bem de cada um dos Filhos de Maria, possamos receber de volta este novo coração, arrependido e humilde. Dr. Plinio termina sua prece com uma comparação: “Lembrai-Vos, Senhora, deste David e de toda a doçura que nele púnheis.” Que sejamos novos Davis, que nossa queda sirva para que entendamos que, longe de Deus, longe de Nossa Senhora, não há felicidade.
Qual é, enfim, o maior milagre de Lourdes?
Entre todos os milagres obtidos em Lourdes, onde curas extraordinárias e inexplicáveis se repetem, ano após ano, há um que supera todos os demais: a cura e restauração de nossa alma, a nossa verdadeira conversão, o nosso rompimento com o pecado e o nosso verdadeiro retorno às origens.
É esse o milagre que devemos pedir e esperar, com fé e confiança, mesmo sem ir até a cidade de Lourdes. De onde estivermos, podemos pedir a Nossa Senhora que fale ao nosso coração, como fez com Santa Bernadete durante as aparições, e nos restaure para que garantida esteja a nossa salvação.