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Espiritualidade


Corações ricos, corações pobres
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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O homem que não ama é um pobre cujo coração se encontra na mais terrível das carências, porque esvaziado de seu elemento principal, sua própria essência.

Nada é mais terrível que uma doença de coração. Nenhum outro órgão, quando pára, causa morte tão imediata. O reflexo sobrenatural desta realidade física é a morte do coração espiritual, que consiste no apagamento da chama da caridade.

Embora, na aparência, este homem não tenha mudado, tudo nele morreu: todas as suas obras são infecundas, todos os seus esforços são inúteis. Porque morreu o amor, embora continue vivo, não é senão um cadáver pensante que, muitas vezes, nem se deu conta de ter morrido…

Sagrado Coração de Jesus.jpg
Sagrado Coração de Jesus, receptáculo
de justiça e de amor

Nas Escrituras, são duas as acepções do conceito de pobre: uma, significando a humildade desapegada (cf. Mt 5, 3) daquele que tem todo seu tesouro em Deus; outra, no sentido de carência (cf. Dt 15, 7), a ser suprida pelos demais em virtude do preceito da caridade. Neste último sentido, o homem que não ama é um pobre cujo coração se encontra na mais terrível das carências, porque esvaziado de seu elemento principal, sua própria essência.

Nada há de mais belo do que um coração pobre, porque humilde. Nada há mais sinistro do que um pobre coração, porque dele está ausente o amor a Deus. Assim, o homem vale pela intensidade do ardor de sua caridade, e é este, segundo São João da Cruz, o critério final do julgamento do homem, e da consequente definição de seu destino eterno: “No entardecer desta vida, sereis julgados segundo o amor”. Com efeito, disse Deus, “quero o amor mais que os sacrifícios” (Os 6, 6); e se Deus quis para Si o holocausto total até de seu Filho Único, como não quererá Ele todo nosso amor?

Por isto, nada do que fazemos vale sem o amor. Como no-lo recorda o Apóstolo, toda a profecia, o conhecimento de toda a ciência, esmolas sem conta, uma fé sem medida, “se não tiver caridade, de nada valeria!” (I Cor 13, 3). A própria teologia, feita sem amor, não faz senão manipular um monte de palavras sem sentido, sem vida, sem rumo. Não apenas porque o conhecimento sem amor é estéril; mas, sobretudo, porque sendo Deus o objeto próprio da teologia, só o amor apaixonado e sem medidas dá ao homem alguma proporção com sua meta. Joseph de Maistre dizia que “a razão não pode senão falar; é o amor que canta!”. Mais que apenas “dar asas ao pensamento”, o amor é a força que lança a alma humana através do firmamento, como uma flecha, à busca de Deus!

Assim, mesmo alguém muito limitado intelectualmente pode atingir elevado grau de santidade, enquanto que o homem mais inteligente nunca poderá salvar-se se não amar a Deus proporcionalmente. Com efeito, os princípios indicam ao homem o caminho reto, mas é o amor quem lhe dá o ânimo para perseverar na hora da dificuldade.

Por isto, também, engana-se quem confunde amor com emoção, e coração com sentimento. O verdadeiro amor, que consiste na virtude da caridade, é feito de uma vontade firme, arrebatada por uma paixão santa e abrasada que, orvalhada pela graça, resulta na santidade mais excelsa. ( (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2015, n. 165, pp. 5)

 
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