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Josefina Bakhita, a escrava santa
 
AUTOR: IRMÃ CLARA ISABEL MORAZZANI ARRÁIZ, EP
 
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Muitas vezes as vias de Deus são incompreensíveis aos olhos humanos. Mas Ele sabe como conduzir as almas e os acontecimentos para realizar Seu plano de amor e salvação.

Josefina BakhitaJosefina Bakhita era dotada de um caráter fácil e submisso, com uma marcada propensão para fazer o bem aos outros, a pequena descendente da tribo dos Dagiu dava, desde a mais tenra infância, mostras de ser uma predileta de Deus .

Bakhita fora raptada ao 8 anos de idade para ser vendida como escrava. Contudo, eram essas as misteriosas vias da Providência, por meio das quais se realizariam os desígnios de Deus a seu respeito. Se tal fato não tivesse ocorrido provavelmente ela jamais conheceria a Fé Católica, e permaneceria submersa nas trevas do paganismo.

Uma escravidão providencial

Com a escravidão, embora ela o ignorasse, estava dando os primeiros passos que a conduziriam, à custa de sofrimentos atrozes, rumo à verdadeira liberdade de espírito e ao encontro com o grande Senhor a Quem já amava antes de conhecer.

Sim, desde muito pequena, Bakhita deleitava-se em contemplar o Sol, a Lua, as estrelas e as belezas da natureza, perguntando-se maravilhada:

“Quem é o patrão destas coisas tão bonitas? E sentia uma grande vontade de vê-lo, de conhecê-lo, de prestar-lhe homenagem”.

Padecimentos no cativeiro de Josefina Bakhita

Bakhita haveria de ser vendida cinco vezes sucessivas, aos mais variados patrões e exposta nos mercados. Colocada a serviço da mãe e da esposa de um general, a jovem escrava ali enfrentou os piores anos de sua existência. Assim ela mesma descreve: “As chicotadas caíam em cima de nós sem misericórdia. Nos três anos que estive a serviço deles, não me lembro de ter passado um só dia sem feridas. Porque não havia ainda sarado dos golpes recebidos e recebia outros ainda, sem saber a causa. […] Quantos maus tratos os escravos recebem sem nenhum motivo! […] Quantas companheiras minhas de desventura morreram pelos golpes sofridos!”.

Bakhita conservou até o fim da vida 144 cicatrizes sobre o corpo, além de um leve defeito ao caminhar.

Josefina Bakhita

O encontro com seu verdadeiro Patrão e Senhor

Em 1882, o general que a comprara teve de retornar à Turquia, seu país, e pôs à venda seus numerosos escravos. Com efeito, Bakhita logo despertou a simpatia do cônsul italiano Calixto Legnani, que se dispôs a adquiri-la. “Desta vez fui verdadeiramente afortunada, porque o novo patrão era bastante bom e começou a querer-me tanto bem”.

Embora o cônsul não pareça ter-se esforçado em iniciar nas verdades da Fé a jovem escrava, durante os anos em que esta viveu em sua casa, este período foi para ela a aurora do encontro com a Igreja. De fato, como católico que era, Legnani tratou Bakhita com bondade. Ali então não havia castigos, pancadas, nem mesmo repreensões, e ela pôde gozar da doçura característica das relações entre aqueles que procuram cumprir os mandamentos da caridade cristã.

Contudo, ante o avanço de uma revolução nacionalista no Sudão, Calixto Legnani teve de voltar para a Itália. A pedido de Bakhita, levou-a consigo . Porém, chegados a Gênova, o cônsul cedeu a jovem sudanesa a seus amigos, o casal Michieli. Assim, ela passou a morar na residência desta família, em Mirano, na região do Veneto, tendo por encargo especial o cuidado da filha, a pequena Mimina.

Estando ali, Bakhita recebeu de um amável senhor, que se interessara por ela, um belo crucifixo de prata: “Explicou-me que Jesus Cristo, Filho de Deus, tinha morrido por nós. Eu não sabia quem fosse […]. Recordo que às escondidas o olhava e sentia uma coisa em mim que não sei explicar”. Pouco a pouco, a graça foi trabalhando a alma sensível da ex-escrava africana, abrindo-a para as realidades sobrenaturais que ela desconhecia.

Uma inesperada decisão cheia de valentia de Josefina Bakhita

Mais sofrimentos ainda a aguardavam, embora de ordem muito diversa dos anteriormente suportados: Deus lhe pediria uma prova de sua entrega, de sua renúncia a tudo, em razão do amor a Ele, oferecida de livre e espontânea vontade.

Josefina Bakhita

Quando Bakhita, já instruída na Religião Católica pelas Irmãs Canossianas de Veneza, preparava-se para receber o Batismo, sua patroa quis levá-la de novo ao Sudão, onde a família Michieli resolvera fixar-se definitivamente. De caráter flexível e submisso, acostumada a se considerar propriedade de seus donos, revelou ela, naquela conjuntura, uma coragem até então desconhecida mesmo pelos seus mais próximos. Temendo que aquela volta pusesse em risco sua perseverança, negou-se a seguir sua senhora.

As promessas de uma vida fácil, a perspectiva de rever sua pátria, a profunda afeição a Mimina e a gratidão a seus amos, nada disso pôde mudar sua decisão de dar-se a Jesus Cristo para sempre. Bakhita mostrara-se sempre dócil a seus superiores. Agora manifestava de outra forma essa virtude, obedecendo mais a Deus do que aos homens (cf. At 4, 19). “Era o Senhor que me infundia tanta firmeza, porque queria fazer-me toda sua”.

A entrega definitiva a Deus

Por fim, vitoriosa dessa batalha, Bakhita foi batizada como o nome de Josefina Margarida Afortunada, crismada e recebeu a Eucaristia das mãos do Patriarca de Veneza, no dia 9 de janeiro de 1890. “Recebi o santo Batismo com uma alegria que só os Anjos poderiam descrever”, narraria mais tarde.

Logo depois, querendo selar sua entrega a Deus de maneira irreversível, solicitou seu ingresso no Instituto das Filhas da Caridade. Dessa forma, na festa da Imaculada Conceição, em 1896, após cumprir seu noviciado com exemplar fervor, Josefina pronunciou seus votos na Casa-Mãe do Instituto, em Verona.

A partir daí sua vida foi um constante ato de amor a Deus, um dar-se aos outros, sem restrições, nem reservas. Ora encarregada de funções humildes, como a cozinha ou a portaria, ora enviada em missão através da Itália, a santa sudanesa aceitava com verdadeira alegria tudo quanto lhe ordenavam, conquistando a simpatia daqueles que a rodeavam, sem se cansar de dizer: “Sede bons, amai o Senhor, rezai por aqueles que não O conhecem”.

(Revista dos Arautos, Fev/2009, n. 86, p. 34 à 38)

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