Ali, junto ao local onde a Imaculada Conceição colocou seus pés,a primeira vez no dia 11 de fevereiro de 1858, brotou um manancial de águas prodigiosas. Ali nasceu a fonte de Lourdes: um jorro contínuo de graças e de milagres. Doentes com enfermidades físicas e espirituais de toda espécie alcançaram nela curas inexplicáveis, …milagrosas.
Ainda hoje, fiéis de todos os cantos se beneficiam daquele primeiro ato de humildade e submissão da pastora de Massabielle, Santa Bernadette. O gesto piedoso e penitencial de beber da água da Gruta de Lourdes e nela lavar-se tem trazido curas e graças especiais. E em quantidade tal, que parecem inesgotáveis.
O ciclo das aparições ainda não havia terminado mas, através da água milagrosa de Lourdes, Nossa Senhora começou sua ação junto aos homens.
Tomando conhecimento do que acontecia na gruta, o pároco de Lourdes, ainda um pouco desconfiado, rezou a Deus pedindo um sinal celeste afim de certificar-se da veracidade e idoneidade de tudo que estava acontecendo em sua paróquia. Deus atendeu seu pedido enviando um sinal que seria útil para o bom padre e seus paroquianos também:
Por mais de vinte anos um homem chamado Bourriette estava cego. Todos o conheciam na região. Ele havia perdido um olho numa explosão em uma mina.
Sendo um homem de fé, Bourriette pediu a sua filha que trouxesse água da nova fonte de Massabielle. Ele pôs-se a rezar pedindo a Nossa Senhora sua cura, bebeu da água e em seguida lavou os olhos com ela. Logo ele começou a gritar de alegria: ele tinha voltado a enxergar.
Os médicos que antes haviam afirmado que ele jamais poderia recobrar a visão, examinaram o homem novamente e não tiveram outra alternativa que chamar o ocorrido pelo nome que lhe era mais próprio: milagre. Bourriette enxergava perfeitamente, embora as causas da cegueira continuassem ali: lesões profundas da ferida causada pela explosão e cicatrizes.
Ainda durante o período das aparições, outros milagres ocorreram. Foi, por exemplo, o caso de Justino, um menino de dois anos. Ele estava enfermo e teve um desmaio repentino. Não dava mais sinais de vida.
Sua mãe o levou até a Gruta pedindo veementemente pela vida do menino. Em seguida ela o colocou por 15 minutos nas águas da gruta. Depois disso, tendo sido levado de volta para casa, Justino voltou a respirar com normalidade, a cor rosada da pele voltou, seus olhos brilharam e ele… pediu comida.
Este fato comoveu todos da região de Lourdes e logo toda a França, toda a Europa o conheceu.
Três renomados médicos examinaram o menino e atestaram que aquilo era cientificamente inexplicável e só podia tratar-se de um milagre de primeira ordem. Nossa Senhora manifestava-se maternalmente e mostrava assim sua vontade de fazer o bem. Por isso, os milagres continuavam e continuam até hoje.
As aparições de Lourdes aconteceram no período auge em que o anticlericalismo do século XIX movia perseguições e procurava ridicularizar a Igreja. Os anticlericais, céticos e materialistas não podiam aceitar milagres, seria ir contra seus princípios, seria reconhecer seu próprio fracasso. Não querendo dar a mão à palmatória, os ímpios iniciaram sua ação, começando por cochichar desconfianças.
Para eles, nos fatos ocorridos com as águas de Lourdes, não havia doenças autênticas e, em consequência, as curas também não existiam. Então, uma verdadeira máquina difamatória entrou em ação contra Bernardette e os milagres, contra Lourdes e a Igreja.
Em relatórios remetidos ao governo da capital, o procurador de Lourdes perguntava às autoridades superiores como impedir os “extravios da imaginação” que mencionavam milagres na Gruta, ridicularizava as curas, denunciava a água de Lourdes por conter carbonato de cálcio…
O farmacêutico da cidade, o diretor de uma escola superior e o delegado de polícia afirmavam que a água era “muito ruim”, que era causa de “graves perigos” e “malsã”. A população não deu a menor credibilidade a esses boatos.
Por isso, o ataque foi diversificado. Outro farmacêutico de fora de Lourdes inventou um parecer pseudo científico: os milagres eram falsos. A explicação das curas estaria na composição físico-química da água…
Análises imparciais, no entanto, apontaram a água da fonte de Lourdes como sendo uma água comum, sem propriedades especiais. Ela nem poderia ser classificada como mineral.
Houve quem afirmasse que não havia participação sobrenatural nas curas porque a água de Lourdes seria… radioativa. “Explicações” do mesmo gênero foram ainda repetidas, como num realejo, até no século XX. Todas elas foram refutadas, não convenceram a ninguém.
Como reagiram as pessoas que eram contrárias aos milagres de Lourdes? Para quem é mestre em dissimulações e calúnias, não é difícil criar modos diferentes de difamar, de perseguir.
Três médicos de Lourdes se puseram à cata de pretextos para internar Bernardette em um manicômio. Acusaram a inocente pastora de patologias, perturbações e desequilíbrios mentais que começavam a generalizar-se, já no século XIX.
Para eles, a pastora de Lourdes seria um exemplo de alienação mental: uma “criança alucinada”, com ideias fixas no inconsciente. Os milagres de Lourdes seriam uma “fase de exaltação” físico afetiva. Tumores e feridas curadas miraculosamente seriam produtos de histeria e os milagres artifícios de sugestão.
Ainda em meados do século passado havia gente procurando acusar Bernardette. Lourdes não passaria de um fenômeno histérico misturado com autossugestão inconsciente e tapeação médica.
A onda de ataques aos milagres ocorridos na Gruta aumentava na proporção das graças e curas, lá alcançadas. Desde o início os detratores sempre tiveram a preocupação de dar aparências científicas a suas investidas. Não tiveram sucesso. Cada derrota açulava mais ainda o orgulho, a impiedade e …a fúria dessas pobres almas.
A ironia, o ceticismo, a irreverência e a blasfêmia conseguiram se aglutinar. Literatos, livres pensadores e filósofos céticos somaram seus prestígios para formar um estranho coro afinado apenas quanto a vontade de criar na opinião pública dúvidas e desconfianças com relação a Lourdes e seus milagres.
Ernest Renan, Anatole France, Emile Zola são os mais conhecidos e famosos dos detratores de Lourdes.
Mas a fúria contra as aparições e milagres partiu também de setores aparentemente insuspeitos. Padre Alfred Loisy, professor do Instituto Católico de Paris, que morreu excomungado, comparava as curas de Lourdes com as que “aconteciam outrora nos templos de Esculápio”, deus pagão da medicina.
O fluxo de graças em Lourdes era evidente. Desde o início, a bondade de Nossa Senhora mostrava-se insondável. Porém, era necessário eliminar qualquer resquício de dúvidas a propósito das aparições e dos milagres decorrentes delas. Assim se poderia fazer triunfar a evidencia do afeto, da bondade e amor de Maria Santíssima para com os homens. Os ataques contra Lourdes deram oportunidade a que isso pudesse acontecer.
E aconteceu, a contra gosto de seus detratores, na esteira do propalado cientificismo ateu do final do século XIX.
As heresias sempre foram uma oportunidade para que a Igreja pudesse desenvolver sua doutrina. Isso quer dizer que, de cada chaga que os inimigos abrem no corpo da Igreja não aparece a marca de uma cicatriz, pelo contrário, surge uma luz que indica e discerne a beleza de seu perfil doutrinário.
Aqui nós podemos aplicar o mesmo raciocínio.
A ofensiva das críticas, calúnias e detração contra os milagres de Lourdes favoreceu o aparecimento de um órgão que tinha como encargo constatar, com todo rigor científico, a autenticidade e a natureza dos milagres acontecidos em Massabielle. Era a Comissão Medica de Lourdes, criada por Dom Laurence, bispo diocesano de Tarbes-Lourdes, em 28 de julho de 1858, doze dias depois da última aparição de Nossa Senhora.
Essa primeira comissão foi a base para o surgimento do atual Bureau Médico de Lourdes.
Com seus métodos e critérios cientificamente rígidos e sempre atualizados, o Bureau constata que fatos naturalmente inexplicáveis podem acontecer. Em outras palavras: o milagre acontece. E em Lourdes eles têm sido abundantes, para glória de Deus e da Imaculada Conceição.
O Bureau Médico de Lourdes apura, somente do ponto de vista médico, se as curas que os fiéis afirmam terem acontecido por intercessão de Nossa Senhora são ou não explicáveis pela ciência: jamais faz afirmações sobre o ponto de vista religioso sobrenatural.
Se a ciência não é capaz de explicar o fato acontecido, o Bureau envia o resultado dessa constatação ao Bispo de onde veio a pessoa favorecida pela cura. O Bispo é quem decide oficialmente pelo reconhecimento ou não do milagre e não se pronuncia do ponto vista médico.
Qualquer medico pode assistir uma sessão do Bureau que é composto por analistas de todas as especialidades, católicos ou não.
Qualquer fiel que se julgue beneficiado por um milagre narra com minúcias o fato, que é datilografado. Para isso são necessários documentos médicos comprobatórios da doença antes da cura, de sua gravidade e natureza. Por falta deles, muitos casos não são aceitos, mesmo tendo reais aparências de milagres.
Se os médicos julgarem que a cura é cientificamente inexplicável, o dossiê do caso irá para um comitê de segunda instância que também o analisará em suas minúcias. Essa segunda instância é o Comitê Médico Internacional de Lourdes. Um órgão com independência total, que revisa os dados recebidos do Bureau, faz novas investigações, novas análises, examina a pessoa curada e consulta especialistas que não fazem parte dele.
Caso o Comitê Internacional julgue que a cura seja cientificamente inexplicável, o parecer final é remetido ao Bispo da diocese do miraculado. Uma eventual proclamação canônica de milagre será dada sempre pelo Bispo.
O Bureau, o Comitê e mesmo o Bispo seguem princípios normativos semelhantes aos que regulam os processos de beatificação e canonização de santos na Igreja.
Quase 7000 pessoas tiveram seus pedidos de constatação de milagres aceitos pelo Bureau Médico de Lourdes. Por volta de 2000 casos foram julgados com sendo inexplicáveis pela ciência. A igreja, sempre prudente, reconheceu como miraculosos 67 desses casos.
Esses números não contabilizam o total de fiéis que alegam uma cura milagrosa em Lourdes.
Muita gente favorecida não sabe da existência do Bureau e, portanto, nele não registram suas curas. Também muitas outras pessoas não possuem a documentação necessária.
Há ainda o fato de um número enorme de fiéis que, embora tendo certeza de que suas curas sejam sobrenaturais, não se apresentam ao Bureau porque as doenças não têm proporções para isso.
Essas curas físicas são as únicas visíveis. Elas devem ser tidas como um sinal das curas invisíveis que têm lugar em Lourdes e que talvez sejam mais numerosas e importantes. São curas do coração, da alma, a cura do pecado, a reconciliação com Deus, com os outros e consigo mesmo. O número desse tipo de curas é enorme, porém, não são próprios para análise médica.
Também não são de trato médico as graças, favores e resolução de problemas afetivos, profissionais, familiares, econômicos, financeiros que formam uma legião enorme de favorecidos.
Assim é Lourdes!
Os céticos poderão rir, porém, o sorriso deles jamais foi empecilho para o caminhar do homem que tem Fé. Este pensamento de Plínio Corrêa de Oliveira também pode ser aplicado para Lourdes: Seus detratores desapareceram no tempo. Lourdes, caminhou!
Seu santuário, junto ao local das aparições, é o mais frequentado na França e dos mais concorridos em todo o mundo. De todas os países chegam, constantemente, peregrinos para se banharem em suas águas.
A devoção a Nossa Senhora de Lourdes espalhou-se pela Terra toda. Em todos os continentes existem igrejas, santuários, basílicas, capelas ou simples grutas que são consagradas a Nossa Senhora de Lourdes.
Em Lourdes conservou-se sempre a chama da Fé. Ela é um polo de Luz, de esperança, um jorro contínuo de graças divinas oferecidas maternalmente por aquela que se apresentou como sendo a Imaculada Conceição.