Quando ouvimos falar sobre os Anjos ou Anjos da Guarda, com muita facilidade nos vem à mente a clássica representação de um misterioso jovem de bela aparência, vestindo uma longa túnica branca. Não podemos considerá-la uma imagem errada, uma vez que nas próprias Escrituras eles são assim figurados, como, por exemplo, no episódio de Tobias.
Já em nossa época, nas aparições de Fátima encontramos algumas intervenções angélicas. O Anjo da Paz apareceu três vezes aos pastorinhos e foi assim descrito mais tarde pela Irmã Lúcia, uma das videntes: “Um jovem transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do sol”. A descrição da Irmã Lúcia pouco revela a respeito dos seres angélicos, apenas aumenta o mistério que os cerca.
Mesmo na Sagrada Escritura, não há elementos precisos sobre sua natureza e atributos. O que conhecemos é deduzido de sua atuação, nas missões a eles confiadas por Deus junto aos homens.
Quem são, afinal, os Anjos? Que predicados possuem? A resposta, nós a encontramos nos escritos de um dos autores que mais a fundo tratou do assunto: São Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. Com base em sua doutrina, vejamos algumas das interessantes questões relativas aos Anjos.
Ao criar, Deus teve em vista “a perfeição do Universo como finalidade principal”, pois tinha intenção de espelhar o supremo Bem, ou seja, Ele mesmo. Por isso, fez em maior número os seres mais elevados. Perto do número de Anjos, todas as estrelas do firmamento não passam de um punhadinho de pedras preciosas.
Todos os homens — desde Adão até o último a nascer no fim do mundo — são poucos em relação às miríades de puros espíritos que espelham tão perfeitamente o Criador dos homens e dos Anjos. É com grande veracidade que Dionísio confessou humildemente: “Os exércitos bem-aventurados dos espíritos celestes são numerosos, superando a medida pequena e restrita de nossos números materiais”.
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Os Anjos da guarda podem influenciar profundamente os homens, embora o façam sempre discretamente, pois a humildade também é uma virtude angélica. Quantas vezes, uma boa inspiração tem origem nos Anjos da Guarda! Ou quando o pressentimento de algum perigo leva a pessoa a tomar medidas e escapar de um acidente ou livrar-se de um grande dano, certamente foi algum solícito Anjo da Guarda que zelou pelo bem de seu protegido.
Mas os Anjos exercem um importante papel, sobretudo no que diz respeito à fé. Sobre isso nos ensina o Doutor Angélico: “Dionísio prova que as revelações das coisas divinas chegam aos homens mediante os Anjos. Essas revelações são iluminações. Portanto, os homens são iluminados pelos Anjos”.
Pela ordem da Divina Providência — continua São Tomás — os inferiores se submetem às ações dos superiores. Assim como os Anjos inferiores são iluminados pelos superiores, assim os homens, inferiores aos Anjos, são por eles iluminados.
Ao tratar deste ponto, o Doutor Angélico cita o comentário de São Jerônimo às palavras do Divino Mestre: “seus Anjos [dos pequeninos] no Céu contemplam sempre a face de meu Pai” (Mt 18, 10). “Grande é a dignidade das almas — afirma São Jerônimo —, pois, ao nascer, cada uma tem um Anjo delegado à sua guarda”. Assim, cada homem recebe um príncipe da corte celeste que nunca o abandona, por mais culposas ou pavorosas que sejam as situações pelas quais passe. Tal como se reza na conhecida oração ao Anjo da Guarda (Santo Anjo do Senhor) ele rege, guarda, governa e ilumina o seu protegido. O Anjo ilumina o homem para incliná-lo ao bem ou comunicar-lhe a vontade divina e o protege contra os assaltos do demônio. Sobretudo, o Anjo continua sempre na presença de Deus, mesmo estando ao lado de seu protegido, intercedendo continuamente por ele.
Provavelmente, quase todos aprendemos em casa, ou nas aulas de catecismo, a clássica oração: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém”.
É realmente admirável o fato de cada um de nós possuir um Anjo cuja missão específica é favorecer-nos em tudo quanto se relacione com nossa salvação eterna.
“Grande é a dignidade das almas — exclama São Jerônimo —, quando cada uma delas, desde a hora de seu nascimento, tem um Anjo destinado para sua custódia!” É muito reconfortante saber que um ser superior à nossa natureza está continuamente a nosso lado; que ele, puro espírito, mantém-se na contemplação incessante de Deus e, ao mesmo tempo, vela por nós, quer-nos todo o bem, e seu objetivo é levar-nos para a felicidade perfeita e infindável do Céu.
Quando nos damos conta da presença desse incomparável guardião, estabelecemos com ele uma amizade firme e íntima. Assim descreve o grande escritor francês Paul Claudel:
“Entre o Anjo e nós existe algo permanente. Há uma mão que, ainda quando dormimos, não solta a nossa. Sobre a terra onde nos encontramos, compartilhamos o pulso e o latejar do coração desse irmão celeste que fala com o nosso Pai”.
Se tivéssemos maior confiança nesse celeste protetor, nesse bom amigo que nunca falha — ainda quando dele nos afastamos, por nossa má conduta -, seríamos capazes de recobrar a paz e o equilíbrio que tanto precisamos!
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