No Evangelho deste Primeiro Domingo da Quaresma, vemos Jesus praticando uma preparação de sua atuação pública através do retiro no deserto. Este fato, por si só, já nos devia ensinar muito. Entretanto, junta-se a ele as tentações de Jesus, e com isso, a importância da tentação.
Por que o Filho de Deus quis se submeter às instigações do demônio?
Antes de tudo, saibamos definir o que é a tentação. No catecismo, vemos que é uma inclinação ofertada para praticar um pecado. Esta inclinação tem fundamento interior, mas pode ter auxílio do exterior.
Como o ser humano nasce em pecado original, decorrente da culpa de Adão, possui a concupiscência, ou seja, a inclinação para a desordem. Tudo nele já vem bagunçado: são os sentidos que se impõem contra a vontade, esta que não obedece a inteligência, e esta ainda não é iluminada pela clareza da fé.
Por isso a vida de virtude, a vida praticando o bem é uma luta. O homem e a mulher são continuamente inclinados para vivenciar o mal, o egoísmo, a vanglória. Soma-se a isso a ação do demônio, que promete mais satisfação no pecado a se cometer, para torna-lo mais atraente.
O demônio, anjo do mau, infelizmente tem mais um aliado ao lado da concupiscência: o mundo. Este é seu instrumento para ofertar ainda mais satisfação e aparente felicidade ao pecado a ser cometido.
Por exemplo, o demônio sopra ao ouvido de alguém já inclinado a pecar de soberba: “Não viu o fulano de tal, aquele ator famosíssimo, rico e muito importante? Ele também faz isso. Faça. Faça que você será mais parecido com ele”.
Quando vemos Jesus no Evangelho, percebemos então, em primeiro lugar, que Ele não tinha contra si a concupiscência. Por ser Deus, sua natureza humana estava totalmente equilibrada, e ele não sofria com a bagunça interna de todos nós.
Mas ainda havia o demônio e o mundo contra Ele, e foi nessa matéria que Cristo foi tentado.
Na primeira tentação, o demônio, sem saber que Cristo era Deus, oferta pão para saciar sua fome. Como homem perfeito, o seu cérebro podia facilmente identificar a real necessidade de se alimentar. Por isso, Ele nunca pecaria de gula.
Mas como o demônio faz? Ele não oferta o pecado de gula, mas de soberba: “Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão”. Aliás, foi esta estratégia que o anjo decaído usou na terceira tentação também: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo”.
Na segunda, pediu que Jesus se ajoelhasse diante dele, num ato de vaidade, pois mostrou a Cristo os reinos “que ele daria se o adorasse”.
A todas estas propostas Nosso Senhor responde com valentia, demonstrando conhecimento perfeito da Bíblia e profunda força de vontade. Tanto que o demônio se rendeu, por ora, e o deixou: “Então o diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo”.
A primeira lição que se tira é a importância da tentação, tal que nem sequer Jesus quis se poupar dela. Ele quis ser em tudo igual a humanidade, fazendo-se um com Ela. Permitiu Deus que seu Filho fosse tentado pois queria mostrar a necessidade da tentação na vida humana.
E qual é esta necessidade? Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, pensador católico, dizia que no Paraíso havia tudo, exceto uma coisa: um herói. Pois Adão ganhara tudo de mão beijada, e não havia sido provado ainda, até a serpente entrar e fazer suas propostas.
Esta é, pois, a importância da tentação: por elas Deus prova nossa fé, nossa vontade, e nós nos tornamos, aí, merecedores da premiação divina.
Peçamos a Nosso Senhor, que foi especialmente tentado hoje, a aguentar com fé e valentia nossas provas, e em todas passar como Ele próprio passou