O orgulho é o mais maléfico dentre os sete pecados capitais. Ele envenena a mente e escurece a alma, além de ser um grande incentivo para os demais vícios. Porém, como na maioria dos pecados, ele assume várias formas: às vezes proporciona surtos de vanglória, e outras vezes faz a pessoa perder de vista os tesouros que recebeu de Deus e se considerar inferior, desesperado por carência e atenção. No artigo de hoje, vamos ler como afetou o orgulho a vida de Santo Agostinho, um grande sábio e virtuoso escritor.
Quando ainda criança, o Santo de Hipona cita, em sua obra Confissões, que foi muito elogiado pela sua desenvoltura e boa inteligência. Isso, segundo ele, afetou exageradamente sua autoimagem, fazendo com que se considerasse mais do que realmente era. Nesse momento, já comprazido com sua “excelência”, Santo Agostinho começava a sucumbir ao orgulho, rumo a sua decadência.
Assim, quando atingiu uma idade de maioridade crítica, desprezou os costumes cristãos de sua santa mãe, Mônica, e, analisando o comportamento tão irresponsável e viciado do seu pai, reparou que na natureza havia uma dualidade constante: claro e escuro, bonito e feio, bom e mau. Por isso, Agostinho se sentiu tentado a uma doutrina que conquistava espaço na época: o maniqueísmo.
O maniqueísmo professa uma fé num Deus bom, provedor de todas as coisas boas, e num Deus mau, que proporciona ao ser humano tudo de ruim que há. Agostinho agora era maniqueu, e assumia essa posição com orgulho: confrontava a mãe em casa, que não conseguia rebater os argumentos do filho com a clareza que ele expunha.
Santo Agostinho, porém, começou a perceber uma série de coisas que não batiam na religião maniqueísta. Uma delas, simplificada a ideia ao seu extremo, era: se o Deus bom é todo-poderoso, porque ele não derrota o Deus mau? E o mau Deus, se é todo-poderoso, como pode ter rivalidade?
Mas o orgulhoso não assume seus erros: ao invés de reconhecer que o sistema de fé que cria era falho, Santo Agostinho foge de casa e vai para Roma a fim de fundar ele mesmo uma escola de retórica sobre o que achava certo. Lá, continua perdido intelectualmente, ainda mais escandalizado com a falta de honestidade dos seus alunos.
É a verdade que continuava a incomodar Santo Agostinho. Mesmo escondendo toda sua frustração nas delícias do mundo, ela não se apagava. Depois de certo tempo, o Santo de Hipona começou a entrar num estado de indiferença, abraçando o ceticismo, agora na cidade de Milão. E é neste momento que Deus entra na vida do jovem para convertê-lo.
Em primeiro lugar, Santo Agostinho toma conhecimento da filosofia neoplatônica. Esta narra a existência de um princípio espiritual, causa do que vemos aqui na Terra. É aqui que Agostinho entende, com certeza, no Deus uno que creria.
Mas o orgulho de Santo Agostinho, na forma de vícios que ele proporcionou, não permitiam que o santo se convertesse de fato. Mesmo chorando seus pecados, não os deixava, dizia não estar preparado para isso. Entretanto, certo dia, em casa, Santo Agostinho ouve uma voz que lhe diz: “Toma e lê”. Ele precisou que esta voz repetisse um tanto de vezes para entender que se referia a uma Bíblia que possuía em casa.
Ali, abre a Bíblia e dá de frente com o versículo 13 da Carta aos Romanos: “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne”.
Essas palavras limparam a alma do resto de vícios suscitados pelo orgulho. Assim, em lágrimas, o Santo de Hipona pede um perdão real e efetivo, e parte para a sua caminhada de santidade que vai culminar com o seu batismo pelas mãos de Santo Anselmo.
Santo Agostinho é a prova de que mesmo os maiores santos não são nada sem o amparo de Deus. Perdido no próprio orgulho, vagando pela vida em busca da verdade, trombando em tantos prazeres que enchem os olhos mais esvaziam a alma, ele é hoje padroeiro dos estudiosos, pois foi exemplo de peregrino intelectual. Peçamos a ele que, em nossa cegueira, causada pela soberba e orgulho em nossa vida, sejamos iluminados pela graça de Deus e cheguemos um dia a sua companhia, no Céu.