Quero dar o meu testemunho sobre os Arautos do Evangelho, aos quais estou ligado como Bispo, mas também pela amizade e pelo afeto, e os quais conheço desde 2002, quando fui designado Bispo Auxiliar de São Paulo para a região Lapa.

Como conheci os Arautos

Logo ao assumir o cargo, fui encarregado por Dom Cláudio Hummes de acompanhá-los. Como eles estavam ainda organizando os seus Seminários de Filosofia e Teologia, tive a oportunidade de ajudá-los na sua estruturação e indicar professores competentes, fiéis ao Magistério da Igreja, para lecionarem neles.

Mas o nosso relacionamento começou propriamente quando conheci Mons. João Scognamiglio Clá Dias, na época simplesmente Ir. João. Ele foi o primeiro membro dos Arautos do Evangelho a ser ordenado e incardinado numa Diocese da Itália. Juntamente com mais quatro Bispos, estive presente na cerimônia em que ele e outros integrantes da associação foram ordenados presbíteros.

Mons. João é, de fato, uma pessoa completa, uma dádiva de Deus para a Igreja. Em primeiro lugar, porque ensina através do seu testemunho de vida. Daí o nome da associação fundada por ele. Os Arautos anunciam o Evangelho, não apenas com a boca, mas, principalmente, com seu comportamento. 

Uma espiritualidade que conduz à missão

O primeiro polo da espiritualidade dos Arautos é a devoção a Jesus Sacramentado. São pessoas da Eucaristia.

O segundo polo é a devoção a Nossa Senhora.

A Igreja é mariana. Maria Santíssima é Mãe da Igreja e por isso mesmo “o tipo e a figura da Igreja”,1 conforme recordou o Concílio Ecumênico Vaticano II.

[caption id="attachment_278611" align="alignright" width="297"] Dom Benedito Beni dos Santos e Mons. João Clá Dias, EP, foram recebidos em audiência no Palácio Apostólico, no dia 26/11/2009[/caption]

Nossa Senhora pertence à identidade da Igreja, e Maria Assunta ao Céu é justamente a imagem da Igreja da glória futura. Quem tem devoção a Ela é verdadeiro membro do Corpo Místico de Cristo.

Através da devoção a Nossa Senhora os Arautos se ligam profundamente à Igreja, ao Papa e aos seus Pastores, assumindo essa missão importante que é anunciar o Evangelho.

Mas eles realizam tal missão numa perspectiva muito atual: a da Nova Evangelização, que tem como objetivo aqueles que foram batizados, mas não suficientemente evangelizados. Os Arautos procuram os que se afastaram da Igreja, principalmente aqueles que estão envolvidos pela mentalidade secularista e vivem como se Deus não existisse.

Esse é, portanto, um trabalho muito atual. Assim foi posto em realce pela Assembleia Sinodal de 2012, da qual eu participei, e cujo tema foi A Nova Evangelização para transmissão da fé.

Os Arautos do Evangelho são um dom para toda a Igreja, porque são ao mesmo tempo missionários e contemplativos. Vivem como monges, mas agem em diversas partes do Brasil, sobretudo as irmãs, realizando missões que têm Nossa Senhora como centro. 

Vivem para servir aos outros

Os membros dos Arautos vivem de acordo com o que é próprio a um cristão em geral, e segundo a castidade, obediência e pobreza que caracterizam uma alma consagrada. Embora sejam na sua maioria leigos, levam nas suas casas um modo de existência simples, análoga à dos monges. Dedicam-se à contemplação de Deus, num ambiente de fraternidade e em espírito de oração por toda a Igreja.

Todos os movimentos eclesiais enfrentam em algum momento problemas, porque não estão compostos por Anjos, mas por seres humanos aos quais o Espírito Santo guia e ilumina. Mas, olhando a vida e a atuação dos Arautos, podemos constatar que sempre permaneceram fiéis ao Evangelho e ao ensinamento da Igreja. São pessoas que têm a Eucaristia no centro de sua existência, e vivem não para si, mas para servir aos outros.

Eles desenvolvem um grande bem no campo da assistência social e no atendimento aos pobres, sobretudo na educação. Mas, a meu ver, um ponto forte dos Arautos do Evangelho é evangelizar através da arte, especialmente através da música, mostrando a beleza do canto gregoriano.

Os Arautos do Evangelho são uma riqueza para toda a Igreja e, como disse, um dom de Deus para a Igreja Universal, porque estão presentes em setenta e cinco países. (Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2019, n. 216, p. 22-23)

[caption id="attachment_278622" align="aligncenter" width="699"] Ordenação sacerdotal presidida por Dom Benedito Beni dos Santos, em 18/5/2019 na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Caieiras (SP)[/caption]

1“Pelo dom e missão da Maternidade Divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava Santo Ambrósio” (CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.64).