Humildade e Natal

Uma das coisas que mais nos chama atenção ao contemplarmos o presépio é a humildade dos que ali estão representados.

Primeiro, da parte de Jesus, a escolha despretensiosa de nascer num estábulo, no frio, quando podia mandar os Anjos construírem um palácio de ouro para Si.

Depois, de Nossa Senhora e São José, a docilidade por terem seguido, com fé e ânimo, para a gruta, após a rejeição de seus conterrâneos.

Assim, no Natal, o que vemos reinando é a virtude da humildade.

Depois de termos explorado um pouco mais os pecados capitais e seus malefícios, é hora de opormos o principal deles, a soberba, com o remédio que a todos leva ao Céu, a humildade.

Principal vício, principal solução

A excelência da virtude da humildade vem da malignidade que representa seu pecado oposto.

Foi por orgulho que o demônio caiu do Céu, pois contestou a vontade divina por se sentir menor perante a escolha soberana de Deus Se encarnar na natureza humana, e não na angélica.

Foi também por soberba que nossos primeiros pais foram lançados para fora do Paraíso: “Sereis como deuses”.

Assim, o mesmo mal que atingiu o maior dos anjos também fez sucumbir o mais perfeito dos nossos representantes, dotado com ciência infusa e integridade plena.

Em nossa História, é o orgulho o responsável por tantas e tamanhas quedas. 

E também não escapamos das garras do vício da soberba, pois é por ele que afligimos tanto mal aos outros e a nós mesmos.

Crises de ciúmes, comparação, possessão, difamação são alguns dos frutos diretos do orgulho ferido.

Além disso, como porta de pecado, o orgulho leva à preguiça, à gula e à luxúria.

O que é a humildade?

Humildade vem de húmus, termo que usamos pertinente à terra.

Em primeiro lugar, é um lembrete de que somos pó, e ao pó voltaremos, e até hoje não houve alguém, por mais rico ou famoso que fosse, que escapasse da morte.

Por outro lado, é também no reconhecimento de nosso nada que nos tornamos fecundos, prontos para receber as sementes da graça.

A humildade é esta disposição constante em aceitarmos a nossa falibilidade e a reconhecermos que o que temos de bom foi dádiva de Deus.

Somos simples trabalhadores da Messe, é o que Cristo nos ensina nos Evangelhos: “E quando fizerdes isto, direis: ‘somos trabalhadores inúteis, fizemos apenas o que nos foi mandado’”.

Os Santos louvaram a virtude da humildade.

Um deles legou-nos esta frase: “Prefiro uma carruagem carregada dos piores vícios e pecados, dirigida pela virtude da humildade, do que uma carregada das melhores e mais luminosas obras e dirigida pelo orgulho”.

Como praticar a virtude da humildade?

O principal conselho sempre é e será uma vida de oração bem levada.

É só na comunicação com Deus que colocamos nosso coração na perspectiva certa.

Não adianta inúmeros propósitos se não estamos ligados diretamente à seiva da vida divina.

Para complementar, é preciso que também fortaleçamos nossa humildade.

Esta é exercitada através da admiração.

Quando virmos uma dádiva divina nos outros, que nos esforcemos para elogiar, para demonstrar atenção e carinho.

Em primeiro lugar, porque tal beleza é uma cintilação do extremo brilho de Deus; mas também porque o Senhor quis conceder tal talento a alguém, tornando a vida na terra mais aprazível.

E o oposto também é necessário: quando nos vierem elogiar por algum feito grandioso, é necessário ter humildade.

Interiormente, em nosso coração, devemos remeter tudo a Deus.

Foi Ele a origem de tudo o que recebemos, e deve ser para evoluir este dom que depositou em nós que nos esforçamos.

Humildosa, falsa versão da virtude

Uma deficiência da verdadeira humildade é aquela em que nos colocamos como piores seres do universo.

Nunca o que fazemos é o bastante, sempre nos consideramos o horror da criação e a maldição da vida.

Isto é a humildosa, uma falsa versão da humildade.

Se é preciso que reconheçamos os dons que Deus deu aos nossos próximos, nos esforçando para elogiar com carinho e atenção, por que não deveríamos também reconhecer os que Deus nos concedeu?

Para a Doutrina Católica, todo ser humano é único, pois possui a reflexão de uma faceta divina que mais ninguém possuirá: a luz primordial, sendo nossa vocação fazer brilhar esta luz.

Por isso, a verdadeira humildade consiste em termos um amor-próprio e autoestima na medida certa.

O que significa reconhecer a dignidade de filhos de Deus que temos, não deixando ninguém a repudiar, pois, na verdade, quando a ofendem e magoam, estão ofendendo e magoando o próprio Deus que a pôs em mim.

Peçamos a Nossa Senhora, neste Natal, que Ela nos conceda toda humildade que praticou e que A cercou na noite em que Jesus nasceu.