Dia 28 de agosto é o dia em que os católicos recordam um dos mais conhecidos e importantes Santos que brilham no firmamento da Igreja: Santo Agostinho de Hipona. Ele é um dos chamados Padres da Igreja, que formaram a Patrística, ou seja, a fase da organização inicial da Teologia Cristã com elucidação progressiva do dogma cristão. Coube à Patrística a apologia, a defesa do cristianismo frente às religiões pagãs e às sucessivas interpretações heterodoxas que dariam lugar às heresias. Hoje falaremos um pouco da Ordem fundada por ele, e que continua crescendo com força e pujança: os agostinianos.

Carisma dos agostinianos

Santo Agostinho fundou a Ordem Religiosa dos Agostinianos. Eles espalharam-se pelo mundo e até hoje têm importância dentro do cenário eclesiástico e leigo. A espiritualidade Agostiniana é movida, particularmente, pela inquietude. É justamente essa postura, que explica a experiência vivida por Agostinho, a responsável por inspirar seus filhos.

Ao contrário da maioria das Ordens e Congregações, que optam por um carisma específico (educação, saúde, catequese, etc.), a Ordem de Santo Agostinho, em virtude da experiência originária e por razões históricas, prefere adotar um "estilo de vida". Santo Agostinho de Hipona, quando fundou as primeiras comunidades, almejava apenas viver o duplo mandamento do amor, segundo a regra dos Apóstolos, no serviço disponível à Igreja. A vida agostiniana, então, se baseia em três princípios fundamentais: interioridade manifestada na comunhão com Deus e no autoconhecimento; vida fraterna, a exemplo dos Apóstolos, que "tinham tudo em comum"; e o serviço à Igreja, manifestado nos mais diversos tipos de apostolado. A Ordem, portanto, vive o caráter contemplativo e apostólico, enfatizando, como meio eficaz de santificação, a vida comunitária.

Herança doutrinária do Santo de Hipona

A relação entre a fé e a razão foi um dos instigantes temas tratados por Santo Agostinho em suas obras e sermões. É preciso crer para compreender e compreender para continuar crendo. Fé e razão são, então, "duas asas" que nos permitem alçar voo. Os cristãos católicos devem aproveitar, portanto, para encontrar e mergulhar nas razões da Fé. Santo Agostinho é uma referência especial: encontrando, continuou a buscar sempre mais. Diante de uma sociedade que reclama o testemunho dos crentes, vale o esforço pelo aprofundamento da Fé e, sobretudo, pelo testemunho dela.

Outra de suas heranças é a devoção e defesa de Maria sempre Virgem. Desde o século V, a herança de seu legado de ensinamentos católicos nenhum inimigo consegue contestar, menos ainda destruir e nem mesmo empalidecer. Já naquele longínquo tempo, o Santo afirmava que "a piedade impõe reconhecer Maria como não tendo pecado". Recordemos três pensamentos dele sobre a Imaculada Conceição da Virgem Maria:

1 - "Nem se deve tocar na palavra 'pecado' em se tratando de Maria; e isto em respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça" (Santo Agostinho, Sermão 215,3. 325 DC).

2 - "Não entregamos Maria ao diabo por condição original, pois afirmamos que sua própria condição original se anula pela graça da redenção." (Santo Agostinho, Contra Juliano 4. 325 DC).

3 - "Exceto a Santa Virgem Maria, da qual não quero, por honra do que é devido ao Senhor, suscitar qualquer questão ao se tratar de pecados, pois sabemos que lhe foi concedida a graça para vencer por todos os flancos o pecado, porque mereceu ela conceber e dar à luz a quem não teve pecado algum. Exceto, digo, a esta Virgem, se tivéssemos podido congregar todos os Santos e Santas que aqui viviam e perguntássemos se jamais tinham pecado, o que teriam respondido? (...) Não é verdade que teriam unanimemente exclamado: 'Se dissermos que não pecamos, enganamo-nos, e a verdade não está em nós'?" (Santo Agostinho, De Natura et Gratia 36, 42. 325 DC).

A Ordem de Santo Agostinho no Brasil

A primeira referência à presença Agostiniana no Brasil é na Bahia. Em 1763, alguns frades provindos da Real Congregação de Agostinianos Reformados se estabeleceram numa das colinas de Salvador, onde fundaram o Convento de Nossa Senhora da Palma, onde permaneceram até 1824, quando se deu a supressão do convento pelo Imperador Pedro I. Com a supressão e a impossibilidade de receber noviços, os frades voltam a Portugal. É certo, no entanto, que a presença carismática e espiritual Agostiniana continuou na Terra de Santa Cruz por meio de outras congregações que seguiam a Regra de Santo Agostinho, ou que se inspiravam em seu exemplo.

De qualquer forma, a presença efetiva dos Agostinianos só pode ser reabilitada no final do século XIX, com frades provenientes da Província das Filipinas e da Congregação de Agostinianos Recoletos, da Espanha. Em 1899, chegam então os Agostinianos da Província das Filipinas (Vicariato do Santíssimo Nome de Jesus). Em 1929, os da Província Matritense do Sagrado Coração de Jesus (Vicariato Nossa Senhora da Consolação do Brasil). Em 1933, os da Província de Castela (Vicariato de Castela). Em 1962, os da Província de Malta (Delegação de Malta). Atualmente, os Vicariatos do Santíssimo Nome e de Castela, bem como a Delegação de Malta, estão no processo de unificação, visando a fundação de uma Província Brasileira. O Vicariato da Consolação segue um processo similar, caminhando para o mesmo destino.

Apelo à santidade

Enfim, quem hoje não conhece Santo Agostinho? Quem não conhece as Confissões, onde deplora os desvarios da juventude? Quem não conhece sua mãe, Santa Mônica, chorando noite e dia aquele filho, seguindo-o por toda parte e implorando sem cessar ao céu, em seu favor? Foi somente na idade de trinta e dois anos que esse filho de tantas lágrimas se livrou inteiramente da heresia maniqueísta e da escravidão das paixões corrompidas e recebeu o Batismo das mãos de Santo Ambrósio. Mas quem poderia dizer o quanto sua conversão foi perfeita! Com que amarga tristeza chorou faltas passadas, embora tivessem sido apagadas inteiramente pelo Batismo; com que ardor amou a Deus; com que zelo trabalhou para sua glória! Ai de nós; se o imitamos mais ou menos nos seus desvarios, quando o imitaremos na santidade de vida?