Redação (Terça-feira, 10-03-2020, Gaudium Press) Entre as conversões ocorridas no início da Igreja, houve uma que marcou de modo fulgurante a História: Saulo, o perseguidor feroz contra os cristãos tornou-se o Apóstolo São Paulo.
Cego, Saulo permaneceu por três dias em oração e jejum
Nascido em Tarso, na atual Turquia, foi educado em Jerusalém onde frequentou a escola do famoso Gamaliel, e tornou-se um fariseu radical.
Movido de ódio contra os cristãos, conseguiu cartas do sumo sacerdote dando-lhe poderes para, em Damasco, trazê-los presos a Jerusalém, a fim de serem castigados. Esses castigos podiam abranger o apedrejamento até a morte, como ocorreu com Santo Estevão, o protomártir.
Damasco, capital da Síria, era governada por um árabe inimigo dos judeus, mas que se uniu a eles para perseguir os cristãos, os quais eram muito numerosos nessa cidade. Vemos aqui, mais uma vez, como os maus, embora divididos entre si, se unem contra os bons.
Saulo com um grupo de auxiliares dirigiram-se para Damasco e, quando estavam próximo à porta da cidade, viram uma luz tão intensa e escutaram um som tão forte que todos caíram por terra. Entretanto, apenas Saulo entendeu as palavras proferidas. Eis o diálogo que houve:
-Saulo, Saulo, por que Me persegues?
Saulo perguntou:
- Quem és Tu, Senhor?
A voz respondeu:
- Eu sou Jesus, a Quem tu estás perseguindo. Agora, levanta-te, entra na cidade e ali te será dito o que deves fazer (At 9, 4-5).
Ele ergueu-se e percebeu que estava cego. Então, tomando-o pela mão, levaram-no para uma casa, já dentro da cidade, onde permaneceu durante três dias rezando, sem comer nem beber.
Recuperando a vista, Saulo é batizado e começa a pregar
Nesse ínterim, Nosso Senhor apareceu a um cristão chamado Ananias, e ordenou-lhe que fosse a uma casa situada na Rua Direita para curar um homem de Tarso, chamado Saulo.
Surpreso, Ananias disse que esse homem vinha para Damasco a fim de prender os cristãos. E Jesus tranquilizou-o, afirmando:
"Vai, porque este homem é um instrumento que escolhi para levar o meu Nome às nações pagãs e aos reis, e também aos israelitas. Pois Eu vou lhe mostrar o quanto ele deve sofrer pelo meu Nome" (At 9, 15-16).
Ananias foi até aquela residência, impôs as mãos sobre Saulo e imediatamente ele recobrou a vista. "Em seguida, levantou-se e foi batizado. Depois, alimentou-se e recuperou as forças.
"Saulo passou alguns dias com os discípulos que havia em Damasco e logo começou a pregar nas sinagogas, afirmando que Jesus é o Filho de Deus. [...] E deixava confusos os judeus que moravam em Damasco" (At 9, 18-20.22). Confundia-os devido ao seu raro talento, mas sobretudo porque estava tomado pela graça divina à qual sempre desejava ser fidelíssimo.
Dentro de um cesto, é descido do alto de uma muralha
Logo depois, São Paulo partiu para a Arábia, onde permaneceu durante três anos (cf. Gl 1, 17-18). A respeito de sua estada na Arábia, o Apóstolo diz que ele foi arrebatado "até ao terceiro Céu - se com o corpo ou sem o corpo, não sei - [...] e lá ouviu palavras inefáveis" (II Cor 12, 2-4).
Nos rochedos do Monte Horeb, onde estiveram Moisés e Elias, Nosso Senhor lhe revelou "os mistérios da Lei nova e suas relações com o Antigo Testamento, que ele desenvolverá mais tarde numa linguagem cuja sublimidade jamais será igualada".
Findo esse retiro, ele regressou a Damasco e continuou suas ardorosas pregações. Os judeus ímpios conseguiram envolver o próprio governador de Damasco, que mandou pôr guardas a fim de controlar "dia e noite as portas da cidade, para matá-lo" (At 9, 24).
Durante uma noite os cristãos o levaram até uma parte alta da muralha, colocaram-no dentro de um cesto e o fizeram descer. Ele, então, dirigiu-se a Jerusalém.
Chegando lá, procurou os cristãos, "mas todos tinham medo dele, pois não acreditavam que ele fosse discípulo" (At 9, 28).
Os cristãos de Jerusalém tinham ouvido falar do que acontecera a Saulo às portas de Damasco, mas como ele desapareceu por três anos julgavam que fora um fato sem consistência.
Até que um dia Barnabé, que com ele estudara na escola de Gamaliel, apresentou-o a São Pedro e São Tiago o Menor (cf. Gl 1, 18-19), contou-lhes o milagre que convertera Saulo e "como, na cidade de Damasco, ele havia pregado, corajosamente, no Nome de Jesus" (At 9, 27).
São Paulo foi, então, admitido na comunidade dos cristãos de Jerusalém, e logo pôs-se em luta doutrinária pela Igreja, discutindo com os judeus de língua grega.
Sofrimentos suportados com ufania
Tal foi o ódio desses ímpios a São Paulo que "procuravam matá-lo" (At 9, 29). Para livrá-lo, alguns cristãos levaram-no até Cesareia da Palestina, e dali o enviaram para sua cidade natal, Tarso (cf. At 9, 30). Ele ficara em Jerusalém apenas durante quinze dias (cf. Gl 1, 18).
Havia, então, em Israel duas cidades com o nome Cesareia: a da Palestina, na qual residia o governador romano da Judeia, e a de Felipe.
Conforme Nosso Senhor havia predito a Ananias (cf. At 9, 16), São Paulo sofreu muito, mas com ufania, por ter lutado ardorosamente pela expansão da Santa Igreja. Diz ele:
"Cinco vezes, recebi dos judeus quarenta chicotadas menos uma; três vezes fui batido com varas; uma vez, apedrejado; três vezes naufraguei; passei uma noite e um dia em alto-mar; fiz inúmeras viagens, com perigos de rios, perigos de ladrões, perigos da parte de meus compatriotas, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos em regiões desertas, perigos no mar, perigos por parte de falsos irmãos; trabalhos e fadigas, inúmeras vigílias, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez" (II Cor 11, 24-27).
São Paulo se torna um luzeiro para as nações
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comenta:
"Tomando a palavra de Deus como um gládio de dois gumes - para usar sua própria expressão - que atinge a junção da alma com o espírito, [São Paulo] operava conversões extraordinárias, quer pela qualidade, quer pela quantidade de pessoas atraídas à Fé cristã. De tal modo que ele abriu um sulco sobre o qual a Igreja Católica prosperou, além de dar o primeiro passo essencial para a derrubada do paganismo no Império Romano."
Peçamos-lhe que nos obtenha "esse santo vigor, em todos os sentidos da palavra, a fim de batalharmos contra nossos defeitos morais e más inclinações, assim como para enfrentarmos a Revolução, hoje em seu auge e muito mais poderosa do que foi o paganismo no tempo do Império Romano".
Por Paulo Francisco Martos
(in "Noções de História da Igreja" - 6)
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