Arautos


Cavalaria de Maria


Cavalaria de Maria: Uma comunidade religiosa em missão permanente
 
AUTOR: DIÁC. THIAGO DE OLIVEIRA GERALDO, EP
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
15
0
 
Cavalaria de Maria_Arautos do Evangelho.jpg

Ouve-se de repente uma música e surge na esquina uma bela imagem de Nossa Senhora,
conduzida de casa em casa pelos Arautos do Evangelho. É a Cavalaria de Maria! Mais
de 250 cidades brasileiras já presenciaram essa cena…

Thiago de Oliveira Geraldo

Cada época histórica apresenta desafios ao zelo e à criatividade do apóstolo, com novas possibilidades de atuação e novas dificuldades a enfrentar. E um dos grandes desafios para a Igreja, no Brasil atual, é o de reaproximar o enorme número de católicos que se afastaram da prática religiosa, deixando vazias tantas igrejas. Como reverter tal situação?

Com esse objetivo, inspirou a Divina Providência a criação, no seio da Associação Privada de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho, de uma unidade itinerante que sai à procura das ovelhas dispersas: a Cavalaria de Maria, instituída em 2002 por Mons. João Scognamiglio Clá Dias. Trata-se de um conjunto de missionários que percorrem o Brasil de norte a sul, não em fogosos corcéis, como os cavaleiros de outrora, mas utilizando modernos meios de locomoção.

Conduzem a imagem do Imaculado Coração de Maria de casa em casa – literalmente por vales e montes, com chuva ou bom tempo – e transmitem a todos uma mensagem de alento e de esperança no auxílio da graça divina para a solução de todos os problemas espirituais e materiais.

Paulo Afonso (BA)
cavalaria_de_maria_2.jpg
cavalaria_de_maria_3.jpg cavalaria_de_maria_4.jpg
Cascavel (PR) Salvador (BA)
cavalaria_de_maria_5.jpg Aspecto Missao Mariana.jpg
Adamantina (SP)
Alguns aspectos da vida diária da Cavalaria de Maria em diversas cidades do Brasil

Como se desenvolve essa atividade? E como é a vida cotidiana desses missionários?

Vida comunitária em cada paróquia

Duas características principais marcam as atividades apostólicas dessa comunidade itinerante. A primeira é que a Missão Mariana sempre se realiza a pedido do pároco. E o seu maior ou menor sucesso depende em grande parte do zelo e do entusiasmo desse sacerdote, que acaba influenciando todos os fiéis. Há muitos casos em que o pároco fez questão de acompanhar os arautos durante todo o tempo da missão, em geral, uma semana.

Entretanto, por muito intensas que sejam suas atividades evangelizadoras, os integrantes da Cavalaria de Maria jamais abandonam a vida comunitária, adaptada, é claro, às circunstâncias. De manhã assistem à Santa Missa, celebrada por um sacerdote arauto, e recitam em conjunto, ante o Santíssimo Sacramento exposto, a Liturgia das Horas e o Rosário.

Por vezes também o pároco participa desses atos de vida comunitária e recebe graças especiais. “A Cavalaria de Maria salvou a vocação de um padre!” – confidenciou um deles, emocionado. E outro comentou: “Pelo exemplo dado, inclusive pelos arautos mais jovens, de se confessarem toda semana, passei a imitá- los e estimulo outros padres a fazerem o mesmo”.

Como se desenvolve uma Missão Mariana?

As Missões Marianas costumam durar uma semana. O início é sempre impactante. A imagem de Nossa Senhora entra na cidade precedida por uma animada carreata, com rojões e música. Essa recepção festiva atrai os paroquianos para a matriz, onde é celebrada a Eucaristia de abertura da missão e se anuncia que todos serão visitados ao longo da semana.

Nos dias subsequentes, os missionários percorrem as ruas da paróquia, de casa em casa. Quem queira receber de portas e coração abertos a imagem da Mãe de Deus, é atendido. E quantas vezes isso se dá em momentos de extrema aflição!

Aguaí (SP)
cavalaria_de_maria_7.jpg
cavalaria_de_maria_8.jpg cavalaria_de_maria_9.jpg
Ibitinga (SP) Teresina (PI)
cavalaria_de_maria_10.jpg cavalaria_de_maria_11.jpg
Paulo Afonso (BA) Pinheiro (MA)
Após ser recebida em carreata, a Imagem Peregrina é venerada pelos fiéis na paróquia e preside a procisão luminosa

Entre centenas de casos comovedores, veja-se este, ocorrido numa cidade paulista. Uma jovem que ia ser mãe, tomara a desesperada resolução de pôr fim à sua vida justamente no dia em que os Arautos bateram à porta de sua casa. Ao fitar o expressivo olhar da imagem, ela sentiu Nossa Senhora dizer-lhe no fundo do coração: “Não faça isso! Não faça isso!”. Tal foi a força da graça recebida, que ela passou o dia acompanhando a imagem pelas casas do bairro. A partir daí, tudo mudou em sua vida. Ela tornou-se coordenadora de um grupo do Oratório. E meses depois, deu à sua filhinha recém-nascida o nome de Fátima, em homenagem à celestial Protetora.

As visitas começam de manhã e se prolongam até a noite. Em cada residência, a família se reúne para alguns minutos de oração diante da imagem da Virgem Maria. Muitas pessoas aproveitam a ocasião para expor à Mãe de Deus e nossa os problemas que as afligem no momento. Se há na casa anciãos ou doentes, a imagem é levada até eles. Os missionários fazem um levantamento dos moradores que querem receber algum Sacramento, e dos que desejam ser dizimistas. No fim da Missão, os formulários são entregues ao pároco para que este possa providenciar o atendimento de todos os pedidos.

Desde sua fundação, os Cavaleiros de Maria visitaram 298.313 residências, além de 33.292 repartições públicas, escolas e estabelecimentos comerciais, em 258 cidades brasileiras. Durante essas visitas, 25.430 pessoas pediram para receber o Batismo, 47.091 a Primeira Comunhão, 57.856 a Crisma e 16.924 a Unção dos Enfermos. E 22.064 pessoas se alistaram como dizimista para a respectiva paróquia.

Em 2013 a Cavalaria de Maria realizou missões no Distrito Federal e em 13 Estados brasileiros: do Rio Grande do Sul até o Pará, passando por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Piauí, Ceará, Espírito Santo, Bahia e Maranhão.

Promovendo a devoção a Maria Santíssima

Para propiciar uma maior união de cada fiel com a Santíssima Virgem, os arautos da Cavalaria de Maria reservam uma noite da Missão Mariana para realizar uma palestra, sempre muito concorrida, sobre as aparições e a mensagem de Nossa Senhora em Fátima.

Também propagam o uso do escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Ao conhecerem a história desta devoção e os privilégios a ela ligados, todos manifestam o desejo recebê-lo. Apenas nos dois últimos anos, foram impostos escapulários do Carmo em 72 mil pessoas. Em Quintana (SP), por exemplo, 2.200 mil pessoas o receberam numa só noite, cifra muita expressiva numa cidade de 6.500 habitantes. Em Teresina (PI), tiveram o mesmo privilégio cerca de 3 mil fiéis da Igreja da Santíssima Trindade.

Um momento especial na Missão Mariana é aquele em que os novos Oratórios do Imaculado Coração de Maria são bentos pelo pároco e entregues aos respectivos Coordenadores. Graças, em boa medida, à ação da Cavalaria de Maria, cerca de 18 mil oratórios visitam todo mês 540 mil lares brasileiros.

Nossa Senhora nos recomendou, em Fátima, a Comunhão reparadora dos Primeiros Sábados. Em todas as cidades por onde passa, a Cavalaria de Maria procura implantar esta devoção, de forma que ela seja realizada mensalmente em pelo menos uma das paróquias do município

cavalaria_de_maria_13.jpg cavalaria_de_maria_14.jpg
cavalaria_de_maria_15.jpg cavalaria_de_maria_16.jpg
Diversos aspectos da Missão Mariana

As visitas da Imagem Peregrina aos lares, as Missas diárias, a Adoração matutina, da qual um crescente número de paroquianos participa, aumentam nos fiéis o fervor e os fazem sentir a necessidade de manifestar publicamente sua fé. Desse modo, foi o próprio entusiasmo popular que levou os missionários arautos a promoverem a procissão luminosa, que percorre as ruas da cidade à noite, da qual participa grande multidão de paroquianos portando tochas acesas, rezando o Santo Rosário e cantando hinos de louvor a Jesus e a Maria.

Confissões e Missa de encerramento

É durante a Missa de encerramento da Missão Mariana que se podem medir melhor os frutos do trabalho realizado na semana. As igrejas costumam lotar como nunca, para surpresa dos próprios párocos:

– Eu nunca vi essas pessoas aqui na igreja! – é uma exclamação frequente.

– Cerca de 60% das pessoas que estão assistindo à Missa, não frequentam regularmente a paróquia – observam outros, admirados.

De fato, numerosas pessoas relatam, durante as missões, que estavam afastadas das atividades eclesiais há 25 ou 30 anos.

Prova inequívoca do afervoramento dos fiéis é a extraordinária demanda do Sacramento da Reconciliação. São dias de árdua atividade para o pároco e os sacerdotes da Cavalaria de Maria! Na cidade de Boa Viagem (CE), por exemplo, um sacerdote arauto atendeu num dia confissões das 9h às 23h. Em Ipatinga (MG), as filas de Confissão na Matriz eram tão grandes que foi necessário distribuir senhas, para evitar confusão; os padres só puderam retirar-se à meia-noite, depois de atender até o último penitente! Em Paulo Afonso (BA), o Bispo diocesano, Dom Guido Zendron, afirmou durante a Missa de Encerramento: “O que mais me tocou nesta missão dos nossos queridos amigos Arautos do Evangelho foi o número impressionante de pessoas que procuraram o Sacramento da Confissão; tive medo de que o Padre Wanderlei e o Padre Francisco nem conseguissem à noite chegar em casa…”.

Uma missão que marcou a história

Nesses 12 anos de contínua atividade missionária, em qual cidade foi Nossa Senhora recebida com maior devoção e carinho? Pergunta nada fácil de responder! Mas após algum tempo de análise retrospectiva, vem à memória dos Cavaleiros de Maria a missão realizada em Paraibuna (SP).

Estavam nos primeiros anos da instituição e, portanto, sua atuação era muito menos conhecida do que hoje. Dificuldades surgidas no início da missão pareciam condená-la a um estrepitoso fracasso. Mas a ação de alguns dos fiéis, em combinação com o pároco, reverteu a situação.

De tal forma os paroquianos se empenharam pela visita dos missionários, que estes ficaram impressionados por verem, durante a carreata inicial, todas as janelas enfeitadas com balões coloridos e bandeirinhas em homenagem à Virgem Santíssima. Em cada casa visitada encontravam um pequeno altar, recoberto com uma linda toalha e velas acesas, à espera da celestial Visitante.

cavalaria_de_maria_17.jpg
cavalaria_de_maria_18.jpg cavalaria_de_maria_19.jpg
Dom José Benedito Simão, Bispo de Assis (SP); Dom Angelo Pignoli, Bispo de Quixadá (CE) e Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo
de Brasília,  entre outros pastores, têm participado das Missões Marianas da Cavalaria de Maria

Os moradores aguardavam do lado de fora da casa a chegada dos missionários. E quando estes se deslocavam para um quarteirão mais distante, eram seguidos por crianças em bicicleta, incumbidas de comunicar aos pais o endereço para onde fora levada a Imagem. O resultado foi que a missão, iniciada pela manhã, se prolongava todo dia até as 23 horas. No final, paroquianos que haviam colaborado mais de perto com os missionários, lamentavam-se comovidos: “Agora que a Cavalaria de Maria parte para outras cidades, o que será de nossas vidas?”. E um deles resumiu nesta curta frase o profundo efeito produzido nas almas por aquela semana de Missão: “A história de nossa paróquia pode ser dividida entre antes e depois desta visita!”.

“Quero ser arauto do Evangelho”

Ora, marcar um ponto de inflexão na vida de todas as pessoas visitadas é justamente a meta visada por esses jovens missionários. Almejam eles que cada uma tenha um encontro individual com Jesus, torne- se assídua frequentadora dos Sacramentos e cresça na devoção a Maria Santíssima a ponto de também poder afirmar: “A história de minha vida pode ser dividida entre antes e depois desta visita!”.

E por isso sentiram uma grande alegria ao ouvir de Dom Guido Zendron, Bispo de Paulo Afonso (BA) estas palavras: “Desde que conheci os nossos amigos e aceitamos que eles fizessem missão em nossa Diocese, eu me pergunto sempre: ‘O que esta presença diz à minha vida? O que a presença deles provoca na minha vocação? O que devo levar mais a sério na minha vida, observando a eles?'”.

E acrescentou: “Não podemos ficar só contemplando sua atuação e continuar a vida como antes. Peço que, pela intercessão de Nossa Senhora, possamos valorizar profundamente a beleza destes dias, e dizer também nós: ‘Quero ser arauto do Evangelho, mensageiro, testemunha. Também eu, segundo a minha vocação, quero ser uma presença de Cristo’. Não vamos tocar a trombeta como eles, nem fazer muitas outras coisas que eles fazem, mas a trombeta maior, que anuncia a presença de Cristo, será a unidade entre nós, será uma maior participação na Eucaristia ou no Sacramento da Confissão. Esta será a verdadeira música, o verdadeiro hino que teremos de aprender, de aprofundar sempre mais, no dia a dia da nossa vida pessoal e comunitária”. (Revista Arautos do Evangelho, Março/2014, n. 147, p. 18 – 22)

coordenadores_do_oratorio.jpg
 
Comentários