A prática da purificação na Quaresma
O tempo litúrgico que a Santa Igreja agora inicia, pretende conduzir nossa alma para as santas comemorações da Páscoa.
Portanto, nas práticas estipuladas pela Quaresma, todas tem o objetivo de nos purificar.
Entretanto, ao ouvirmos falar de jejum, esmola e penitência, podemos associar estas ações com um rigorismo antigo.
Elas ainda são atuais?
E o que está tríplice prática faz por nós neste tempo de preparação?
Objetivo do ser humano
Aprendemos no Catecismo que o objetivo do homem nesta terra é: “conhecer, amar e servir a Deus e, mediante isso, alcançar sua salvação”.
O que muitas vezes esquecemos é que nossa felicidade está vinculada a esse objetivo.
Deus nos criou para que, ao seu serviço, tenhamos nossa necessidade de Absoluto atendida.
Afinal, Ele é o único Infinito, pois todas as demais coisas passam e nos frustram.
Porém, como o ser humano é um ser inconstante, muitas vezes ele se apega a bens materiais, tornando-se vil e infeliz no processo.
Ele pode, inclusive, tornar-se cego de tanto apego e parar de dar atenção à graça de Deus.
Isto pode lhe proporcionar um bem instantâneo, temporal, mas quando esta overdose passar, a ressaca e frustração lhe serão imensas.
Com o intuito de evitar este mesmo processo pelo qual passou o Filho Pródigo, de precisar comer as bolotas dos porcos para se dar conta de como seu pai era bom, a Santa Igreja institui algumas obras de caridade que nos fazem focar no que realmente importa.
Elas são a esmola, o jejum e a penitência.
A Esmola
Um dos grandes maus da Humanidade sempre foi e será a ganância.
O desejo pelo conforto e luxo que o dinheiro compra sempre será um sentimento ardente.
Ele pode não ser um mal em si mesmo, mas facilmente se torna avareza, egoísmo e injustiça.
A Santa Mãe Igreja, para lembrar aos homens e mulheres que nosso destino não é esta terra, mas o Céu, e que o dinheiro é um ótimo escravo, mas péssimo senhor, reforça a necessidade da esmola e da caridade.
Ao nos desfazermos por vontade própria de um bem, estamos estendendo os benefícios que o Senhor espalhou livremente pela Criação, ou seja, estamos ajudando o Senhor em sua obra arquitetônica.
Muitas vezes esta esmola não será em espécie, em papel e moedas, mas sim em generosidade: ensinar o ignorante, corrigir o errado, ajudar o próximo através de um conselho ou bom exemplo.
O jejum
A privação de algo por decisão própria torna a vontade mais forte, o intelecto mais aguçado.
O jejum não precisa ser só de alimentos, mas também de hábitos desordenados.
Estes podem não ser diretamente um pecado, mas tornam o homem susceptível a ofender a Deus quando for mais especialmente provado.
Um deles é levantar-se tarde da cama – aqui não se leva em conta trabalhadores noturnos, ou atividades muito exaustivas, ou seja, reais necessidades.
Conta-se na Sagrada Escritura que, enquanto todos estavam em guerra, Davi mantinha-se no palácio.
Ao levantar-se tarde, quando o sol já se punha, ele foi passear pelo terraço e viu Betsabéia a banhar-se.
Mandou que a buscassem e se deitou com ela.
E assim cai Davi, o justo, o prometido de Deus, por um mau hábito.
O jejum tem isto em vista: privar o ser humano de algo bom, para, quando for tentado, conseguir privar-se de algo mal.
A penitência
Outro fator superestimado no mundo atual é a saúde.
Costumeiramente se diz: “Se Deus me der saúde, para mim basta”.
Infelizmente, a saúde de alma, a pureza de coração é deixada de lado pelos idólatras da saúde.
Isto não quer dizer que se deve parar de cumprir prescrições médicas ou deixar de tomar remédio; não é o conselho da Santa Igreja.
Ela alerta o exagerado cuidado com a saúde, que torna o ser humano egoísta e pouco aberto às necessidades dos outros.
Fazer penitência também consiste em mortificar a carne, o corpo, colocando-o no seu devido lugar.
O ser humano é inteligência, vontade e sensibilidade, e esta hierarquia deve-se manter assim.
Por isso, deixar de fazer manias e privar-se de certos supérfluos é o alvo da penitência.