A grande expansão do Império Romano fez dos seus imperadores os senhores do mundo. Em tal situação, era difícil a estes não se deixarem tomar pelo orgulho e, pretendendo a veneração de seus súditos, atribuírem a si mesmos direitos divinos.
Fazia parte da religião romana o culto à memória dos antepassados, bem como à dos grandes homens. Quando algum personagem tinha dúvidas quanto à sua estatura moral, procurava algum subterfúgio para obter que sua memória fosse venerada após a sua morte.
Assim o fez Adriano, imperador do séc. II: construiu para si um mausoléu, mais como monumento que o imortalizasse do que como lugar de descanso dos seus restos mortais. O local por ele escolhido foi um grande prado junto ao rio Tibre, próximo à Colina Vaticana. Ali ele levantou um edifício circular de enormes dimensões, com linhas austeras e fortes, símbolo de seu domínio sobre todas as nações.
Após a morte de Adriano o mausoléu acolheu as cinzas de diversos outros imperadores, tendo sido Caracala o último a ser nele sepultado.
Mas a Providência reservara um destino muito mais alto para aquele edifício.
Em 590, uma terrível peste assolou a Cidade Eterna, e o próprio Papa Pelágio II foi uma de suas vítimas. Diante desse pavoroso flagelo, seu sucessor, São Gregório Magno, antes mesmo de ser coroado Papa, determinou que uma procissão de três dias percorresse todas as ruas de Roma, suplicando a Deus que a livrasse de tão grande mal.
Até o cortejo processional era um espetáculo desolador, pois alguns de seus participantes caíam mortos – vítimas da peste – mesmo durante os hinos e orações. O Papa, porém, permanecia firme e confiante, presidindo a procissão. E eis que um imprevisível fenômeno fez interromperem- se as ladainhas.
Quando a cabeça da procissão começou a atravessar a ponte que se estendia diante do Mausoléu de Adriano, apareceu no céu, pairando sobre o edifício, São Miguel Arcanjo. Diante da vista atônita de todos e do olhar aravilhado do Papa, o Serafim embainhou sua espada de fogo, significando que Deus decidira suspender o castigo e a peste havia terminado.
O mausoléu do imperador se transformara em pedestal do Príncipe das Milícias Celestes.
Nunca mais o povo foi capaz de chamar esse edifício por seu antigo nome; passou a denominá-lo Castelo de Sant’Angelo, a Fortaleza do Santo Anjo. (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2007, n. 68, p. 50-51)