Depois de conhecermos as virtudes essenciais para a vida cristã, grupo que compreende as virtudes teologais e as virtudes cardeais, é necessário que avancemos para águas mais profundas.

Tendo identificado o elemento positivo, agora é hora de estudarmos a origem de todos os vícios: os sete pecados capitais. Como existem as sete virtudes principais, que dão origem a todas as outras, esses sete pecados também são o pontapé inicial de todo o mal.

Neste artigo, iremos fazer um apanhado geral sobre eles e como se manifestam na alma humana.

Conceito de pecado capital

Capital vem do latim caput, cabeça, e os pecados capitais recebem essa denominação porque são considerados a cabeça de todos os outros vícios. Esse conjunto engloba os sete pecados que são os mais praticados pela humanidade, e que, lamentavelmente, acabaram sendo vistos como práticas comuns, tendências naturais, e não como o que de fato são: vícios, pecados.

Porém, como todo pecado, cada um deles  representa uma ofensa a Deus, uma afronta à Majestade Divina, o que, por si só, já deveria ser suficiente para que não fossem praticados.

Além disso, eles são a porta de entrada para os pecados mortais, que corrompem a alma, esvaziam-na de todas as virtudes e dons e a fazem perder a filiação divina.

Dessa forma, é dever de todo cristão precaver-se contra os sete pecados capitais, seja para não praticá-los, ou para abandoná-los caso eles já  tenham se instalado em sua vida.

Em muitos casos, esses pecados já estão profundamente enraizados em nosso coração e só um trabalho paciente e constante de muita oração e a prática da virtude oposta serão capazes de desarraigar essas ervas-daninhas de nossas almas.

O primeiro e mais profundo dos pecados capitais: o orgulho

Representação de LúciferConhecido também como soberba, o orgulho representa o primeiro pecado capital. Primeiro não só por encabeçar a lista, mas porque ele sintetiza em si  todos os outros.

O orgulho faz o pecador ter uma ideia equivocada de si mesmo, e um desprezo, ainda que velado, pelo apoio divino, ao qual muitas vezes se mostra indiferente.

Este foi o primeiro de todos os pecados da História, cometido por Lúcifer, e que o precipitou no inferno. Também foi o pecado que expulsou nosso pai Adão do Paraíso, pois, na promessa da serpente “Sereis como deuses”, Adão sucumbiu ao orgulho.

A partir daí, a história da humanidade vem mesclada com este infame vício. Podemos, muitas vezes, identificá-lo em momentos-chave: desde as afrontas orgulhosas dos imperadores romanos até as ideias nefastas de raça superior dos germânicos na Segunda Guerra Mundial, tudo é produto dessa ideia fantasiosa que o orgulho provoca.

Além disso, o orgulho não só afeta grandes posições ou altos poderes, é no dia a dia que encontramos os efeitos de seu veneno. Aquela rixa turbulenta e desonesta pela conquista de uma carreira; o bullying na sala de aula, a falta de empatia pelo sofrimento de alguém no seio da família.

Todos esses pecados se originam no orgulho, que cega e faz a pessoa viver em uma realidade inventada por si mesma.

Humildade, remédio contra o orgulho

A virtude da humildade é indispensável para o cristão. Depois do pecado original, todos nós carregamos na alma sementes de orgulho, muitas delas plantadas e regadas por nossos pais, que podem ter negligenciado muitos aspectos da nossa formação cristã e deformado a ideia que temos a respeito de nós mesmos.

É por isso que São João nos alerta em sua carta: “Se afirmo que não tenho pecado, já estou pecando”. Assim, a luta contra o orgulho será constante e durará até o momento de comparecermos diante do Justo Juiz.

A humildade, então, se configura como o reconhecimento sincero da alma sobre quem de fato é. Como diz Santo Agostinho: “Aqui está a sabedoria do cristão: reconhecer que nada é, e que nada pode”.

"Carregamos nosso tesouro em vasos de barro", afirma São Paulo, e é reconhecendo isto que podemos pedir a ajuda do Alto com sinceridade. A palavra humildade vem de humus, elemento que fica na terra, pois é o que somos: barro.

A prática da humildade tem duas prescrições: a primeira, fugir do orgulho no reconhecimento de nosso nada.

A segunda é o fundamento da primeira e se faz indispensável: o que somos de bom vem de Deus. Ele é meu autor, meu Senhor e Aquele que me deu todas as capacidades. Desenvolvê-las, então, é meu dever de gratidão por tê-las recebido. Os elogios que ganho, na verdade, devem ser remetidos a Ele, pois foi Ele quem me fez.

Santa Teresa de Jesus afirmava que a humildade é a verdade, ou seja, reconhecer que o que há de bom em mim vem de Deus, e o que há de mau em mim vem de mim mesmo.

Quanto mais eu me esvaziar de mim, mais serei preenchido de Deus. E, quanto mais me encho de Deus, mais sou quem deveria ser, mais sou a fiel vocação que Cristo me concedeu, mais sou um indivíduo que faz valer as suas capacidades.

Os pecados da mente: avareza e inveja

Dentro dos sete pecados capitais, a avareza e a inveja ocupam um lugar de destaque. São pecados que cometemos com nosso coração, independente da condição material que se nos apresente.

A avareza é o apego excessivo aos bens concedidos e distribuídos por Deus, como títulos e honrarias. Assim, podemos dizer que o demônio é um avarento, pois cobiçou, com apego excessivo, a posição de superioridade que possuía na ordem da criação.

Por isso, quando  ele soube que Deus se uniria com a natureza humana e que ainda constituiria uma mulher para ser a Rainha dos Anjos, ele se revoltou: um pecado de orgulho e avareza.

O ser humano peca pela avareza quando coloca os bens materiais acima de Deus, apegando-se a um status social ou ao dinheiro. A avareza, porém, não é um pecado apenas de ricos; um apego a um bem, mesmo que tenha baixo valor monetário, já constitui um avarento.

Para combater a avareza, precisamos da virtude da temperança, que regula o uso de nossos bens lícitos. Quando estamos com o olhar no Céu, e focados na construção do Reino de Deus nesta terra, não nos prendemos aos bens materiais, mesmo que os tenhamos em abundância.

Outra virtude que nos ajuda a combater a avareza é a virtude da liberalidade, que nos faz ser caridosos, com os bens materiais que vamos acumulando.

Já a virtude da inveja caracteriza-se pela tristeza na consideração do bem alheio. Quando anseio pela realidade de alguém, ou pelo o que ele conquistou, mas com o coração tranquilo, não é inveja, mas um simples desejo natural.

Daí, decorrem duas atitudes de alma: ou me volto a Deus e fico contente pelas maravilhas que Ele concedeu ao meu próximo, que é a virtude da admiração, ou me torno amargo, azedo, triste por Ele não ter me dado tais bens.

Por isso, o invejoso é sempre caracterizado pelo semblante triste e amargurado: ele sonha em possuir o que o outro tem, mas não vai atrás de obtê-lo pelo seu esforço: se ressente, se fecha e passa a viver uma vida de constante reclamação.

E, quando encontra outro invejoso, cresce ali um jardim de pecados: é a fofoca, a calúnia, a difamação, tudo pelo desejo de possuir e a tristeza por não ser dele.

Um pecado capital que mata: a ira

Depois do pecado original, muita coisa ficou torta na humanidade. Antes, nossa inteligência comandava nossa vontade, que governava nossos sentidos e sentimentos. Hoje, somos, muitas vezes, presas do que sentimos, agindo por impulso e nos precipitando, esquecendo que temos uma inteligência que deveria nos guiar.

O pecado da ira é a máxima expressão desta impulsividade desordenada. A ira é definida como a atitude impaciente gerada pela ofensa ao ego, portanto, mais uma consequência do vício do orgulho.

Esta explosão ocorre quando me sinto ofendido devido à alta consideração que tenho de mim mesmo, e acabo praticando ações ou tendo pensamentos de violência. O pecador irado pode tanto machucar o próximo com atitudes quanto com palavras, e o seu desejo é unicamente destruir aquele que o contesta.

É claro que, muitas das ações da ira acabam em violência física, o que pode resultar na transgressão do Quinto Mandamento da Lei de Deus: "não matar".

A ira sempre parte do pressuposto de que meu “eu” está sendo ofendido, e por isso preciso de retaliação. Contra este sentimento, temos uma virtude chamada mansidão, a doce prática de Cristo. A mansidão provém da humildade, virtude que nos faz ver-nos como realmente somos.

Mas não esqueçamos que existe também a virtude da santa indignação, muitas vezes chamada de “santa ira”: é quando tomamos atitudes contra uma ação que, no fundo, ofende a Deus. Assim, o eixo da virtude é a Pessoa Divina, e o eixo do vício é o próprio indivíduo, através do egoísmo e do orgulho.

Luxúria, gula e preguiça

Dentro dos pecados capitais temos alguns que têm sua representação na consumação dos deleites corporais. A luxúria, por exemplo, é a busca constante do prazer sexual. Mas engana-se quem pensa que é apenas isso: o luxurioso é também aquele que vive uma vida sem paz, procurando todas as melhores sensações, sem saber respeitar o que lhe foi dado, o que  possui no momento e o que  pode conquistar, mas com esforço.

A luxúria torna o ser humano menos inteligente, pois lhe fecha os olhos para os prazeres espirituais: uma boa conversa, uma boa companhia, uma boa música. O luxurioso quer tudo a todo momento, não sabe descansar e, nos raros momentos que está sozinho, foge do silêncio, pois é quando sua consciência lhe acusa. Assim, vive em debandada, fugindo de si mesmo.

Já o guloso aplica a sua insistência nos prazeres da alimentação. Mas gula e luxúria são pecados-irmãos: à descontrolada busca pelo prazer sexual, junta-se a incessante procura do prazer gastronômico. E não é o desejo por experimentar uma coisa nova, e sim a vontade louca de se fartar constantemente, não importa de quê; o guloso come até passar mal, não respeitando o seu corpo.

Por fim, o preguiçoso é o que sucumbe à pior das ações: o não fazer nada. Esquece seus deveres, protela seu trabalho, tudo para ter o prazer de abster-se de qualquer ação.

A preguiça se caracteriza por duas fases: uma primeira é se esquivar das obrigações. Geralmente, esta primeira fase arremessa o pecador aos vícios da gula e da luxúria. E ai de quem venha repreender o preguiçoso: sua ira é gigante!

Por fim, a segunda fase da preguiça surge depois da busca frustrada pelos prazeres carnais: percebendo que a luxúria e a gula não são suficientes para a sua felicidade, o preguiçoso se encerra numa apatia indiferente que quase o torna um vegetal: não cresce intelectual, emocional e fisicamente.