Podemos considerar a fé como uma aliada da razão na busca pelo sentido último das coisas que nos cercam. Como um par de asas, fé e razão se equilibram para nos proporcionar uma perfeita trajetória até nosso Criador.
Porém, distinta da razão, a fé não é racional, ou seja, não podemos chegar ao entendimento dos mistérios revelados através do raciocínio, juntando informações e gerando conclusões a partir delas. Isto é o que tem levado muitos a afirmar que a fé não pode ser estudada, ou que não pode ser discutida.
Este pensamento, porém, é errado, pois dentro das matérias reveladas por Deus há uma lógica: a fé católica é razoável e íntegra, um sistema de crenças que possui causa e consequência.
Alimentar a fé é importantíssimo
Sendo a fé uma das três virtudes teologais, sabemos que ela se constituiu como a base da vida cristã. Os teólogos afirmam que, ao pecarmos gravemente contra o Senhor, o que nos sobra é apenas um punhado de fé e esperança, responsáveis pelo nosso arrependimento. Tal a sua importância para o homem religioso.
Por que, porém, a fé é tão caluniada hoje em dia? Em muitas comunidades, a culpa recai sobre os praticantes da religião, que, infelizmente não a aprofundam, caindo em moralismos exagerados, frases de efeito e alguns versículos esparsos. É, portanto, nossa obrigação conhecer cada vez mais sobre nossa fé a fim de darmos uma resposta aos que, de coração sincero, realmente ignoram seus benefícios.
Em primeiro lugar, a fé cresce e decresce, como uma chama. Se a alimentamos, o fogo fica vivo e exuberante, enfrentando até os ventos mais ousados. Se a deixamos de lado, sem nos preocuparmos, é claro que ela perde a força, diminuindo até a hora em que nós a perdemos.
O melhor modo de alimentá-la é a oração. A nossa conversa com Deus faz com que a capacidade de crermos n’Ele e em sua ação salvadora não se apague. Entretanto, só isto não basta: precisamos atender a seus preceitos, procurar seguir sua Lei com honestidade e conhecer mais sobre Ele e sobre o sobrenatural que nos cerca. É só com esforços conjuntos que podemos aumentar nossa fé.
A fé é razoável, coerente e lógica
Ao irmos conhecendo mais sobre a Religião Católica, notamos que todo o seu sistema de crenças possui uma integridade incontestável. Por exemplo, ao exigir a virtude da pureza, não a pede somente a um gênero ou a outro, como acontecia muitas vezes na antiguidade pagã; para o homem e a mulher, a Igreja vai exigir a mesma modéstia e pudor.
O próprio conceito de bem-estar no casamento católico está atrelado à Lei promulgada pela Bíblia: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2, 24). A própria carne não se ofende, não se violenta; é natural do ser humano cuidar bem de si.
Entretanto, apesar de a fé se apresentar razoável, a conduta do ser humano pode ser cínica e farisaica. Não é porque a fé é justa que o homem que a segue necessariamente também o será.
Como visto na História, muitos favorecem um ponto da fé em detrimento de outro, o que será tão punido quanto grave for a intenção. Isso significa que a fé nunca é plenamente cumprida? É claro que não! Como exemplos eternos temos o próprio Jesus e sua Mãe Maria Santíssima, e os Santos também nos demonstram que, não importando as condições ou situações, é possível praticar a fé em sua integridade.
E os dogmas decretados pela Igreja?
Se a fé é razoável, ela não pode ser imposta. Ou seja, é no contato com a fé, com a doutrina, que os pontos vão se unindo e a certeza vai se formando. Assim, cada um tem o papel de alimentar a sua própria fé, com a ajuda de Deus. Os outros podem ser nossos exemplos ou professores, mas nunca poderão nos fazer acreditar se não quisermos.
Nesse contexto, como ficam os dogmas decretados pela Igreja?
Os dogmas que o Magistério declara pela boca de seu vigário, o Santo Padre, são auxílios para que o fiel não se perca numa variedade de pensamentos. Se cada um tivesse que formar a sua própria conclusão sobre a Lei da Gravidade e a equação que a representa do zero, excluindo tudo o que outros antes de nós ensinaram, perderíamos décadas de vida até aprendermos o que hoje vem impresso num livro do Ensino Fundamental.
Assim é também com a fé: muitos descobriram elementos no passado, e se cada um fizesse o mesmo processo para os concluir, às vezes chegariam à velhice sabendo apenas o que hoje é dado no Catecismo às criancinhas.
O dogma, portanto, é uma forma de institucionalizar esses estudos sobre a fé que vêm sendo feitos há séculos, cogitados por Doutores e Santos que viveram experiências únicas. Quando tal pensamento está perfeitamente elaborado, contando com a aprovação da maior parte da Igreja, o Papa pode declarar tal fato uma verdade de fé.
Em outras palavras, o dogma é como um corrimão: ele não compensa o esforço que a pessoa fará para chegar ao topo da escada, mas está lá para ajudá-la a se apoiar, sobretudo quando as pernas ficarem meio bambas do esforço da subida. A fé é razoável a este ponto.