Uma das coisas que mais nos chama atenção ao contemplarmos o presépio é a humildade dos que li estão representados. Primeiro, da parte de Jesus, a escolha despretensiosa de nascer num estábulo, no frio, quando podia mandar os anjos construírem um palácio de ouro para si. Depois, de Nossa Senhora e São José, a docilidade por terem seguido, com fé e ânimo, para a gruta, após a rejeição de seus conterrâneos. Assim, no Natal, o que vemos reinando é a virtude da humildade. Depois de termos explorado um pouco mais os pecados capitais e seus malefícios, é hora de contrarrestarmos o principal deles, a soberba, com o remédio que a todos leva ao Céu, a humildade.
A excelência da virtude da humildade vem da malignidade que representa seu pecado oposto. Foi por orgulho que o demônio caiu do Céu, pois contestou a vontade Divina por se sentir menor perante a escolha soberana de Deus se encarnar na natureza humana, e não na angélica.
Foi também por soberba que nossos primeiros pais foram lançados para fora do Paraíso: “sereis como deuses”. Assim, o mesmo mal que atingiu o maior dos anjos também fez sucumbir o mais perfeito dos nossos representantes, dotado com ciência infusa e integridade plena.
Em nossa História, é o orgulho o responsável por tanta e tamanhas quedas. E também não escapamos das garras do vício da soberba, pois é por ele que afligimos tanto mal aos outros e a nós mesmos. Crises de ciúmes, comparação, possessão, difamação são alguns dos frutos direto do orgulho ferido. Além disso, como porta de pecado, o orgulho leva à preguiça, à gula e à luxúria.
Humildade vem de húmus, termo que usamos pertinente à terra. Em primeiro lugar, é um lembrete de que somos pó, e ao pó voltaremos, a até hoje, não houve alguém, por mais rico ou famoso que fosse, que escapasse da morte. Por outro lado, é também no reconhecimento de nosso nada que nos tornamos fecundos, prontos para receber as sementes da graça.
A humildade é esta disposição constante em aceitarmos a nossa falibilidade, e a reconhecermos que o que temos de bom foi dádiva de Deus. Somos simples trabalhadores da Messe, é o que Cristo nos ensina nos Evangelho: “E quando fizerdes isto, direis: ‘somos trabalhadores inúteis, fizemos apenas o que nos foi mandado’”.
Os santos louvaram a virtude da humildade. Um deles legou-nos esta frase: “prefiro uma carruagem carregada dos piores vícios e pecados, dirigida pela virtude da humildade, do que uma carregada das melhores e mais luminosas obras e dirigida pelo orgulho”.
O principal conselho sempre é e será uma vida de oração bem levada. É só na comunicação com Deus que colocamos nosso coração na perspectiva certa. Não adianta inúmeros propósitos se não estamos ligados diretamente à seiva da vida divina.
Para complementar, é preciso que também fortaleçamos nossa humildade. Esta é exercitada através da admiração. Quando virmos uma dádiva divina nos outros, que nos esforcemos para elogiar, para demostrar atenção e carinho. Em primeiro lugar por que tal beleza é uma cintilação do extremo brilho de Deus; mas também porque o Senhor quis conceder tal talento a alguém, tornando a vida na Terra mais aprazível.
E o oposto também é necessário: quando nos vierem elogiar por algum feito grandioso, é necessário humildade. Interiormente, em nosso coração, devemos remeter tudo a Deus. Foi Ele a origem de tudo o que recebemos, e deve ser para evoluir este dom que depositou em nós que nos esforçamos.
Uma deficiência da verdadeira humildade é aquela em que nos colocamos como piores seres do universo. Nunca o que fazemos é o bastante, sempre nos consideramos o horror da criação e a maldição da vida.
Isto é a humildosa, uma falsa versão da humildade. Se é preciso que reconheçamos os dons que Deus deu aos nossos próximos, nos esforçando para elogiar com carinho e atenção, porque não deveríamos também reconhecer os que Deus nos concedeu? Para a doutrina católica, todo ser humano é único, pois possui a reflexão de uma faceta Divina que mais ninguém possuirá: a luz primordial, sendo nossa vocação fazer brilhar esta luz.
Por isso, a verdadeira humildade consiste em termos um amor-próprio e autoestima na medida certa. O que significa reconhecer a dignidade de Filho de Deus que temos, não deixando ninguém a repudiar, pois, na verdade, quando a ofendem e magoam, estão ofendendo e magoando o próprio Deus que a pôs em mim. Peçamos a Nossa Senhora, neste Natal, que Ela nos conceda toda humildade que praticou e que a cercou na noite em que Jesus nasceu.