A liturgia deste 5º domingo do tempo comum procura nos relembrar da necessidade de sermos católicos apostólicos romanos em todos os momentos de nossa vida, e não apenas no momento da Missa. É preciso que o que ouvimos, tanto do sacerdote, quanto de Deus, através de graças, frutifique e transborde para aqueles que fazem parte de nossa vida.
“Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde brilha para todos que estão na casa. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”.
Uma das verdades que Nosso Senhor traz para seus discípulos, no evangelho do 5º domingo do tempo comum, é a impossibilidade de uma terceira posição. Ao narrar as propriedades do sal, diz que, ao perder sua função de salgar, ao tornar-se insosso, é apenas objeto de repúdio, serve apenas para ser pisado pelos homens.
A ilusão de que é possível ser mediano, num mundo onde Deus é a todo tempo ofendido, pode ser a tentação do cristão hoje. Ele ainda vai na Missa, pode até mesmo rezar um terço em conjunto no domingo, mas, ao chegar em casa, esquece tudo o que ouviu. Não põe em prática o que Deus lhe confidenciou no momento da comunhão, e não tem tempo para o Senhor na semana.
Este não está cumprindo sua função de sal, e, por isso mesmo, corre o risco de ser jogado fora. Por isso, cristão, cristã, atenção: é necessário que sejamos, em nossa casa, em nosso trabalho, em nosso círculo de amigos, exemplo de santidade. O sal, na ferida, incomoda; assim também nossas ações católicas precisam incomodar aqueles que querem ser ruins, que desejam o mal.
E para aqueles que buscam a verdade, que passam por algum tormento, a vida de um cristão precisa ser o sabor, a dádiva, a superação. Nossa conduta não pode ser mentirosa, nosso trabalho não pode ser preguiçoso, nossas palavras não podem conter calúnias. Esta é a função do sal, esta é a consequência do verdadeiro cristão na sociedade: fazer a diferença.
Como era de se esperar, Cristo não cita, no evangelho, nenhuma referência à luz elétrica ou à gás. Isto por que o povo, naquela época, ainda não havia descoberto os fundamentos para que isso fosse possível. Mas as características da luz que Cristo evidencia, a luz do candeeiro, da lamparina, merece ser contrastadas com a da luz elétrica.
Por um lado, a luz do candeeiro é uma luz que não ilumina todas as trevas. Pelo contrário: ela como que empurra as trevas para longe, mantendo um ponto iluminado, mas ainda há um fundo escuro. A luz elétrica, porém, sobretudo a luz branca do LED, torna as coisas esmiuçadas, reveste-as de uma claridade artificial.
O cristão, chamado a ser uma luz de candeeiro, sabe que não possui todas as respostas para as trevas da humanidade. Ainda há muito sofrimento inexplicável, muitas ações humanas que são cruéis e comportamentos que são reprováveis. Enquanto a falsa luz, aquela que se compromete a iluminar tudo, acaba tornando a realidade apenas um fantoche do que ela realmente é. São as ciências que procuram explicar nosso universo como se nada transcendente a ele existisse; como se o sobrenatural, pelo simples fato de não ser captável pelos sentidos, fosse uma grande mentira.
O cristão, a luz do candeeiro, esquenta aqueles que se aproximam dele. Ele não é indiferente ao sofrimento do próximo, se desdobra, alivia. A luz elétrica, o ateu prático, tem sempre uma boa explicação para os fenômenos sociais e naturais, mas sua presença não conforta. Sua vida está pautada demais em si mesmo para que ele se importe com os outros.
E talvez aquilo que seja mais importante, a nota mais marcante entre a luz do candeeiro e a luz elétrica: o candeeiro clama pelo sol. Ele entende que não basta, que mesmo a luz de mil fogos seus não é suficiente para aclarar toda a terra. A elétrica, porém, ergue-se em sua soberba, domina a noite, possibilita que todos vivam, mesmo na noite mais escura, a mais prazerosa das diversões.
A luz elétrica não expulsa os pequenos insetos que atrapalham a vida: antes os atrai, os convoca, e eles vêm para fazer da humanidade sua presa, atormentando-os. A luz do candeeiro, porém, mesmo que não tenha potência para empurrar as desgraças da vida longe, sabe que apenas um é aquele que pode: o sol.
Já dizia um famoso escritor e poeta: “Ó sol! Sem ti as coisas não seriam senão o que elas são!” Isto por que o sol transforma, o sol aquece, o sol fortalece e ativa em nós coisas tão benéficas que estar sob seus raios torna-se parte importante do dia. E talvez este seja o seu maior feito: ele afasta as trevas com toda sua potência.
E quando o sol, aparece, a luz elétrica é deixada de lado. É desligada, e não se pensa mais nela. A luz do candeeiro transforma sua claridade na do sol, e se banha nele pois sabe que outras noites chegarão. Que neste 5º domingo do tempo comum nosso coração possa ser mais repleto da luz de Cristo, da luz do candeeiro, para que possamos irradiar esta luz que converte, que cura, que salva.