O evangelho do 7º domingo de tempo comum traz um santo complemento do domingo passado. Enquanto, na liturgia anterior, Jesus estimulava que cada um cobrasse de si mesmo um comportamento íntegro, sem falsidades, hoje o Homem-Deus versa sobre as atitudes para com o próximo. E explica que, se devemos ser firmes conosco, com o irmão são necessárias todas as doçuras.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Vós ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!
Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado.
Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos.
Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito!”
O homem é um animal político, dizia Aristóteles; o que explica sua tendência de viver em comunidade, de se apoiar em colaterais para construir uma sociedade mais unida, e também em querer a aprovação daqueles que o cercam. De fato, a partir de que o homem é estudado, sempre está inserido em um conceito social, com alguma cultura própria que o estimula a estar com os outros.
Só isso seria o bastante para entender a natureza social do ser humano. Mas a fé católica vai mais longe: ela nos diz que o próprio Deus, único em sua natureza divina, vive em uma sociedade de três pessoas. Ou seja, na Trindade a religião cristã apoia seu argumento de que o homem precisa viver em comunhão com os outros, pois, em comunidade, o homem aprimora suas atividades básicas, engrandece suas potências e constrói um sentido que apenas o individual não alcança.
A sublimação do convívio humano é a Instituição da Santa Igreja, o Corpo Místico de Cristo. Nesta sociedade sobrenatural, o cristão encontra todo oxigênio possível para desenvolver seus dons e virtudes, sempre em função do próximo. Portanto, a promessa feita por Deus no Antigo Testamento: “Quem salva seu irmão, salva sua própria alma”, não constitui um prêmio, mas sim uma condição; só quem trabalha pelo outro pode atingir a salvação.
Mas a relação com o próximo nem sempre é a melhor. Na verdade, na maioria esmagadora dos casos, o convívio humano oferece mais um motivo de sofrimento do que de superação. Isto porque, após o pecado original, o indivíduo está ferido, está tocado pela garra do mal. Somando esta situação ao pecado atual, que envenena uma comunidade, temos uma sociedade mesquinha, caprichosa e egoísta, reflexo da atitude dos que pertencem a ela.
Parece, portanto, um impasse para o aperfeiçoamento humano: como conviver em sociedade, ao mesmo tempo tão difícil e tão necessário? Nosso Senhor traz a resposta. No evangelho do 7º domingo do tempo comum, Cristo pede um esforço, um sacrifício pela comunidade humana para que esta se torne divina. Não basta uma justiça anêmica, que procura a toda hora uma vingança pelas ofensas comuns; é preciso um espírito autêntico de humildade para suportar algumas mesquinharias humanas.
Porém, em especial, para os círculos sociais de hoje, se não houver uma disposição de entrega e doação radicais, não há convívio que seja suportável. Ainda mais quando se encontra em lugares onde deve reinar a harmonia: em casa e na igreja. Às vezes será necessário o calar ao responder uma acusação grossa; por momentos, mais bastará um sorriso e uma mudança de assunto do que uma franca imposição. É necessário que, nestas horas, nossa disposição seja a descrita por Cristo: dar a outra face, andar dois quilômetros, doar a túnica e o cobertor.
O prêmio para estas ações é o mais espetacular: com isso, estaremos nos assemelhando cada vez mais a Deus. Ele, que tantas e tantas vezes, mesmo depois de tantos pecados nossos, continuou e continua a nos dar alegrias e consolações, deve ser nosso eterno modelo.